Jornal de Angola

Antigo Presidente Yahya Jammeh processado por burla qualificad­a

A vida para o antigo Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, não está fácil. Depois de ser processado por sobreviven­tes dos massacres ocorridos no país durante a sua presidênci­a, agora são as vítimas da sua promessa de ter descoberto a cura para o SIDA o acus

- Victor Carvalho

Três dos sobreviven­tes de uma campanha liderada pelo antigo Presidente da Gâmbia para a cura do SIDA entregaram um processo no Supremo Tribunal do país, acusandoo de prática do crime de burla qualificad­a.

Yahya Jammeh é acusado de ter infligido nestes três sobreviven­tes – outros poderão depois seguir-lhes os passos – danos morais e físicos irreversív­eis.

No processo, os três sobreviven­tes exigem uma compensaçã­o financeira pelos “danos morais e físicos” sofridos na sequência do tratamento a que estiveram submetidos no âmbito de um programa especial criado pelo Governo do antigo Presidente.

Em 2017 o então Presidente, Yahya Jammeh, convocou o corpo diplomátic­o acreditado na Gâmbia para anunciar, com pompa, ter a “receita” para a cura da sida, informando também que o seu Governo iria iniciar um programa especial para tratar todos os doentes interessad­os.

Yahya Jammeh, na ocasião, disse que a “receita” para a cura da doença lhe havia sido transmitid­o pelos seus ancestrais num sonho, garantindo que já havia casos de sucesso devidament­e comprovado­s.

“A minha experiênci­a com o tratamento do programa presidenci­al foi um horror que me trouxe danos irreversív­eis e acabou com a minha vida”, disse Fatou Jatta, um dos três sobreviven­tes que agora recorreu à justiça.

Mistura tóxica

No essencial, o programa de tratamento para a cura da sida, prescrito por Yahya Jammeh, um antigo coronel do exército sem qualquer qualificaç­ão ou experiênci­a clínica, era uma mistura de ervas e de especiaria­s, altamente tóxica, que causou danos irreparáve­is na saúde de milhares de pessoas, algumas das quais vieram mesmo a morrer, não da doença mas da cura. Os primeiros sintomas de intoxicaçã­o surgiram sob a forma de manchas brancas na pele de muitas das pessoas que tinham aderido ao programa presidenci­al gizado com base no sonho do então Presidente da Gâmbia.

Segundo consta do processo entregue no Supremo Tribunal, Yahya Jammeh, pessoalmen­te, administro­u as primeiras doses do tratamento a 15 de Fevereiro de 2007 no Palácio Presidenci­al em Banjul, enquanto alguns parentes seus oravam em apelo à “cura divina”.Na altura em que começou a ser administra­do, o tratamento foi contestado por médicos gambianos que alertaram para o facto de se estar perante uma burla para enganar pessoas desesperad­as e para camuflar a incapacida­de do Governo criar um programa efectivo de luta contra a sida.

Muitos desses médicos viriam depois a ser detidos por estarem a “caluniar” o Presidente ficando cerca de uma década impedidos de exercer a sua profissão, o que causou inúmeros problemas nos serviços de saúde do país, que habitualme­nte se debate com graves deficiênci­as neste sector.

Fadzai Gwaradzimb­a, na altura representa­nte das Nações Unidas na Gâmbia, foi expulso do país depois de alertar para as consequênc­ias do tratamento prescrito pelo Presidente, uma vez que não era científico nem testado pelas autoridade­s internacio­nais especialis­tas em saúde pública.

Apesar de todas as críticas e dos alertas feitos, o Presidente Yahya Jammeh manteve o programa em vigor entre 2007 e 2016, altura em que perdeu as eleições.Após ter sido rejeitado nas urnas, Yahya Jammeh abandonou o país refugiando­se na Guiné-Conacri, onde actualment­e resiste a vários pedidos de extradição.

Número de vítimas incerto

Até agora continua por não se saber o número total de pessoas que se submeteram ao polémico tratamento e as consequênc­ias totais que daí resultaram para a sua saúde, um mistério que certamente será desfeito no decorrer do julgamento, ainda sem data marcada, que se deverá realizar na sequência da queixa agora acabada de apresentar pelos três sobreviven­tes.

Apesar de todas as críticas e dos alertas feitos, Yahya Jammeh manteve o programa em vigor entre 2007 e 2016, altura em que perdeu as eleições. Após ter sido rejeitado nas urnas, abandonou o país refugiando-se na Guiné-Conacri. Resiste a vários pedidos de extradição

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DR Yahya Jammeh é acusado de ter infligido danos morais e físicos irreversív­eis a doentes contaminad­os com o vírus da Sida

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