Antigo Presidente Yahya Jammeh processado por burla qualificada
A vida para o antigo Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, não está fácil. Depois de ser processado por sobreviventes dos massacres ocorridos no país durante a sua presidência, agora são as vítimas da sua promessa de ter descoberto a cura para o SIDA o acus
Três dos sobreviventes de uma campanha liderada pelo antigo Presidente da Gâmbia para a cura do SIDA entregaram um processo no Supremo Tribunal do país, acusandoo de prática do crime de burla qualificada.
Yahya Jammeh é acusado de ter infligido nestes três sobreviventes – outros poderão depois seguir-lhes os passos – danos morais e físicos irreversíveis.
No processo, os três sobreviventes exigem uma compensação financeira pelos “danos morais e físicos” sofridos na sequência do tratamento a que estiveram submetidos no âmbito de um programa especial criado pelo Governo do antigo Presidente.
Em 2017 o então Presidente, Yahya Jammeh, convocou o corpo diplomático acreditado na Gâmbia para anunciar, com pompa, ter a “receita” para a cura da sida, informando também que o seu Governo iria iniciar um programa especial para tratar todos os doentes interessados.
Yahya Jammeh, na ocasião, disse que a “receita” para a cura da doença lhe havia sido transmitido pelos seus ancestrais num sonho, garantindo que já havia casos de sucesso devidamente comprovados.
“A minha experiência com o tratamento do programa presidencial foi um horror que me trouxe danos irreversíveis e acabou com a minha vida”, disse Fatou Jatta, um dos três sobreviventes que agora recorreu à justiça.
Mistura tóxica
No essencial, o programa de tratamento para a cura da sida, prescrito por Yahya Jammeh, um antigo coronel do exército sem qualquer qualificação ou experiência clínica, era uma mistura de ervas e de especiarias, altamente tóxica, que causou danos irreparáveis na saúde de milhares de pessoas, algumas das quais vieram mesmo a morrer, não da doença mas da cura. Os primeiros sintomas de intoxicação surgiram sob a forma de manchas brancas na pele de muitas das pessoas que tinham aderido ao programa presidencial gizado com base no sonho do então Presidente da Gâmbia.
Segundo consta do processo entregue no Supremo Tribunal, Yahya Jammeh, pessoalmente, administrou as primeiras doses do tratamento a 15 de Fevereiro de 2007 no Palácio Presidencial em Banjul, enquanto alguns parentes seus oravam em apelo à “cura divina”.Na altura em que começou a ser administrado, o tratamento foi contestado por médicos gambianos que alertaram para o facto de se estar perante uma burla para enganar pessoas desesperadas e para camuflar a incapacidade do Governo criar um programa efectivo de luta contra a sida.
Muitos desses médicos viriam depois a ser detidos por estarem a “caluniar” o Presidente ficando cerca de uma década impedidos de exercer a sua profissão, o que causou inúmeros problemas nos serviços de saúde do país, que habitualmente se debate com graves deficiências neste sector.
Fadzai Gwaradzimba, na altura representante das Nações Unidas na Gâmbia, foi expulso do país depois de alertar para as consequências do tratamento prescrito pelo Presidente, uma vez que não era científico nem testado pelas autoridades internacionais especialistas em saúde pública.
Apesar de todas as críticas e dos alertas feitos, o Presidente Yahya Jammeh manteve o programa em vigor entre 2007 e 2016, altura em que perdeu as eleições.Após ter sido rejeitado nas urnas, Yahya Jammeh abandonou o país refugiandose na Guiné-Conacri, onde actualmente resiste a vários pedidos de extradição.
Número de vítimas incerto
Até agora continua por não se saber o número total de pessoas que se submeteram ao polémico tratamento e as consequências totais que daí resultaram para a sua saúde, um mistério que certamente será desfeito no decorrer do julgamento, ainda sem data marcada, que se deverá realizar na sequência da queixa agora acabada de apresentar pelos três sobreviventes.
Apesar de todas as críticas e dos alertas feitos, Yahya Jammeh manteve o programa em vigor entre 2007 e 2016, altura em que perdeu as eleições. Após ter sido rejeitado nas urnas, abandonou o país refugiando-se na Guiné-Conacri. Resiste a vários pedidos de extradição