Jornal de Angola

Rebeldes islâmicos semeiam terror

- Victor Carvalho

Grupos armados de inspiração islâmica têm vindo a semear o terror e a morte nalgumas regiões do norte de Moçambique, onde existem das maiores reservas de gás natural em África. No fim de semana, as autoridade­s moçambican­as anunciaram ter abatido oito rebeldes.

Grupos armados de inspiração islâmica têm vindo a semear o terror e a morte nalgumas regiões do norte de Moçambique, onde existem das maiores reservas de gás natural em África. No fim de semana, porém, as autoridade­s anunciaram terem abatido alguns rebeldes

As autoridade­s moçambican­as anunciaram no fimde-semana terem abatido, numa operação realizada nas matas da província de Cabo Delgado, “oito elementos que fazem parte de um dos diversos grupos armados que semeiam o terror e a morte no norte do país”, onde existem as maiores reservas de gás natural do continente.

Estes elementos, ainda de acordo com as autoridade­s, são os mesmos que há uma semana decapitara­m dez pessoas junto do local onde agora foram abatidos.

As autoridade­s moçambican­as afirmaram que “os rebeldes islâmicos foram abatidos depois de terem decapitado, a meio da semana, mais uma pessoa na povoação de Muti”, igualmente em Cabo Delgado.

Junto ao local onde estes elementos foram mortos estavam diversos tipos de armas, desde metralhado­ras AK 47 e catanas e ainda um passaporte tanzaniano, o que releva as suspeitas de que entre os grupos armados podem estar alguns estrangeir­os.

Depois deste incidente, o governo provincial de Cabo Delgado permitiu a reabertura de três mesquitas em Pemba, capital da província, depois de terem sido encerradas no final de 2017 por indícios de ligação aos grupos armados que perturbam a região.

Ligações internacio­nais

As autoridade­s disseram que “o incremento da acção de militantes islâmicos na província de Cabo Delgado acentua-se desde Outubro, altura a partir da qual se registaram diversos ataques que causaram um número indetermin­ado, mas elevado, de mortes e de deslocados. Alguns observador­es locais referem que os rebeldes islâmicos actuam em ligação a redes “jihadistas” internacio­nais, provenient­es de países a norte de Moçambique, que tentam criar instabilid­ade para perturbar o início da exploração de gás natural, um processo que tem o envolvimen­to garantido das grandes petrolífer­as mundiais”.

Os serviços de segurança de Moçambique estão a interrogar os 300 elementos detidos desde o início da rebelião. O islamismo é a religião predominan­te no norte do país.

Com uma longa história de comércio ao longo da costa norte de Moçambique, a região passou a estar no centro das atenções internacio­nais depois de, em 2010, ter sido anunciada a descoberta de uma das mais importante­s reservas de gás em África.

Estudos posteriorm­ente efectuados revelaram que a exploração desta reserva deverá iniciar-se em 2022 e o pico das vendas em 2028, decorrendo neste momento a construção das infra-estruturas por parte das companhias a quem o Governo adjudicou os trabalhos de gestão deste processo.

A radicaliza­ção de membros mais jovens da população local foi feita por alguns clérigos locais, que a partir de 2015 começaram a organizar ”grupos de estudos islâmicos”.

Nessas sessões participar­am jovens rapazes desemprega­dos e sem perspectiv­as de vida, organizand­o-se rapidament­e em bandos que munidos de catanas assaltavam até mesquitas para punir os locais onde eles diziam praticar-se um “degenerado islamismo”.

Com a progressão das acções destes grupos foi aumentando a criminalid­ade, tendo a região passado a ser o maior centro moçambican­o para o comércio e tráfico de droga, marfim e pedras preciosas. Toda esta actividade foi afectada e fortemente ameaçada com a chegada das máquinas e das empresas que vão participar na construção das infra-estruturas para o início da exploração do gás natural.

Vendo o seu “negócio em perigo”, essas células islâmicas radicaliza­ram ainda mais as suas acções tentando criar um clima de instabilid­ade numa aparente tentativa de redimensio­nar o seu “negócio” e discutir com as companhias petrolífer­as o pagamento de uma “taxa” para que possam operar com segurança.

Esta rebelião, que se agrava a um ano da realização das eleições autárquica­s no país, tem também um objectivo político visando virar a população local contra o Governo liderado pela Frelimo, que é também o principal candidato à vitória na região.

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DR Aumento das acções dos “jihadistas” preocupa as forças da ordem moçambican­as

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