Caixa Preta estreou a obra “A Orfã do Rei”
“A Orfã do Rei” escrita por José Mena Abrantes levou à estreia do grupo brasileiro Caixa Preta, domingo, ao 4º Festival Internacional de Teatro e Artes de Luanda, que decorre no espaço Elinga, na Baixa de Luanda.
O encenador e director do Caixa Preta, Fabiano Muniz, leu o texto em 2017, quando conheceu José Mena Abrantes no Mindelact-Festival Internacional de Teatro do Mindelo, em Cabo Verde. Meses depois, conseguiu o desafio de ensaiar durante seis semanas, com as actrizes Juliana Marsala e Paloma Medeiros.
Fabiano Muniz e as actrizes procuravam por um texto que abordasse o universo feminino, a mulher explorada e oprimida, algo que o Brasil vive hoje com muita intensidade, sendo a principal motivação para encenarem “A Orfã do Rei”, sem nenhuma pretensão de vir a Luanda apresentar a peça, mais tarde surgiu o convite.
No palco duas cadeiras dominam o cenário além das luzes. O figurino ressalta vestidos e redes de pesca à volta. Há som ambiente dando a ilusão de ondas do mar. O tempo em que ocorre a história data de 1593, em que Beatriz Constância, proveniente de Lisboa, chega de navio a Luanda onde é uma das primeiras 12 órfãs do Rei. Eram jovens portuguesas, criadas em asilos reais, que ao atingirem a idade de casar recebiam um dote e um marido com emprego garantido no funcionalismo público em África.
Juliana Marsala sentiu um arrepio quando leu o texto, “nos sentirmos arrepiadas, porque há personagens que falam da figura da mulher bastante desrespeitada, uma atitude que se verifica em quase todos os países do mundo”. Acções dramáticas sobre estupro e aborto “deixaram-me nervosa”, disse, referindo-se aos momentos mais críticos da narrativa.
Paloma Medeiros, actriz há quatro anos, reconheceu que, embora a peça retrate acontecimentos sobre machismo ocorridos há quatro séculos, a narrativa dialoga com a realidade actual que se passa quer no Brasil, quer noutros países do Mundo, à volta do universo da mulher. “A mulher não é um objecto, é um ser humano”, desabafou.
Programa do festival
Hoje, às 20h00, o cartaz reserva a peça “A viúva”, de Bebecca Netto, pelo Grupo Oásis. A trama questiona: “o que herda uma viúva no conflito entre o direito positivo e o costumeiro?”.