Em cada 18 mil pessoas no mundo há uma com um tipo de albinismo
Dados das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde referem que é no continenete africano onde a discriminação e a perseguição dos albinos são mais acentuadas, atingindo muitas vezes níveis macabros
Uma pessoa detentora de albinismo possui capacidades intelectuais, sensoriais e técnicas como qualquer outra não albina, mas cabe à sociedade, como um todo, encarar este desafio e às igrejas, desenvolverem acções enérgicas de combate à sua discriminação
Na Tanzânia, por exemplo, onde existe um albino em cada 1.400 pessoas, vários são raptados, feridos ou mortos por feiticeiros e curandeiros
Ao narrarmos histórias da nossa infância, vulgarmente se comenta que então “éramos felizes e não sabíamos”, mas, se tivermos coragem para nos darmos ao trabalho de aguçar um pouco mais a memória, decerto daremos conta de actos que então praticávamos na maior das inocências, diante dos quais, hoje em dia, resta-nos concordar que era tão grande a nossa ignorância e que, se desconhecendo a felicidade de alguns momentos, tínhamos de tal forma as mentes moldadas pelos preconceitos que nos permitíamos a tratar mal o nosso semelhante, assim que detectássemos nele a mais simples diferença.
Aproveitemos, pois, que ainda é tempo, a oportunidade de nos penitenciarmos pelo facto de termos sido injustos, ainda que tal seja apenas por termos alguma vez cuspido no nosso próprio peito, por debaixo da bata da escola, por causa de algum albino com que nos cruzássemos no caminho, escravos que éramos da ideia estapafúrdia de que assim estaríamos, de alguma forma, a espantar os demónios que nos trariam essa deficiência. Afinal, quão néscios éramos e nem sabíamos!
Só quase já em idade adulta começámos a olhar para a situação com outros olhos, mas levámos anos a perceber um pouco mais a questão e a procurar na medicina e na ciência, em geral, explicações para o facto de serem essas pessoas tão “diferentes” das demais. Foi dessa forma que soubemos ser o albinismo uma anomalia pigmentar, originada por factores genéticos (genes recessivos dos pais), que leva a cor da pele, dos pelos e dos olhos a tornaremse claros e que isso se deve a factores genéticos, que não é considerado uma doença, podendo, entretanto, surgir problemas na visão e haver um risco maior de cancro da pele nos portadores.
Dados das Nações Unidas e da OMS referem que uma em cada 18 mil pessoas no mundo tem um tipo de albinismo, taxa que, nalgumas regiões de África, pode ser de uma para cada 1.500 pessoas. É também no nosso continente onde a discriminação e a perseguição dos albinos são mais acentuadas, atingindo muitas vezes níveis macabros.
Foi essa a principal preocupação que levou a ONU a proclamar, em 2015, o 13 de Junho como Dia Mundial da Conscientização do Albinismo, cujo objectivo é divulgar informação sobre essa anomalia, com vista a evitar a discriminação aos albinos. Procura-se, dessa forma, sensibilizar as populações para condição dos albinos, que, em todo o mundo, enfrentam preconceitos e até superstição, decorrentes da pouca ou nenhuma pigmentação da sua pele. Na verdade, essa incapacidade de um indivíduo produzir melanina, que é um filtro solar natural e que dá cor à pele, pêlos, cabelos e olhos pode suceder em qualquer parte do mundo e com indivíduos de todas as raças. Mas é em África que é mais frequente e problemático. Dados da ONU mencionam que centenas de pessoas com albinismo, na sua maioria crianças, foram atacadas, mutiladas ou mortas em pelo menos 25 países africanos.
Na Tanzânia, por exemplo, onde existe um albino em cada 1.400 pessoas, vários são raptados, feridos ou mortos por feiticeiros e curandeiros, dada a crença de que os seus órgãos possuem poderes mágicos, sendo vendidos por cerca de 550 euros e utilizados em rituais. Situações idênticas acontecem em Moçabique e no Malawi. De acordo com a Amnistia Internacional, pelo menos 30 mil albinos moçambicanos foram vítimas de discriminação e marginalizados da sociedade nos últimos anos e muitos correm risco de vida. Segundo a organização, os incidentes de perseguição aumentaram durante 2017 e há conhecimento de pelo menos 13 albinos mortos naquele país, embora admitam que este número possa ser maior.
“Os homicídios foram motivados por superstição ou mitos relacionados com poderes mágicos das pessoas com albinismo. A maioria dos homicídios ocorreu nas províncias do Centro e do Norte, as regiões mais pobres do país”, referiram os autores de um estudo sobre a situação.