A greve dos enfermeiros
As greves, quando decretadas respeitando o quadro legal e institucional, representam sempre e essencialmente uma oportunidade de negociação para melhor compreensão sobre o que realmente se passa no sector. Quer a parte que convoca a greve, quer a entidade empregadora, devem encarar sempre os cadernos reivindicativos e, por último a greve quando decretada, como um meio e não necessariamente um fim, por via da qual as partes chegarão ao entendimento quanto aos direitos e deveres.
Nos últimos tempos temos assistido a um movimento de greves em muitos sectores, sobretudo públicos, realidade que acima de tudo constitui uma clara demonstração da liberdade sindical em Angola. Não se trata de nada que assuste as instituições, muito menos a sociedade na medida em que as greves são um direito, obviamente acompanhada sempre e também de dever. O problema não são as greves que acabam decretadas ou observadas em toda a sua plenitude, mas sobretudo a (in)capacidade negocial entre as partes que inviabilize ou não o fim rápido das reivindicações.
No sector da enfermagem, em Luanda, o Governo Provincial de Luanda e o Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda (SINTENFL) não foram bem sucedidos, há dias, num acordo para o levantamento da greve, após várias tentativas em busca de consenso. Segundo informações veiculadas pela Angop, até segunda-feira, as partes não conseguiram chegar ao consenso relativamente aos pontos constantes do caderno reivindicativo apresentados pelos “profissionais da seringa”.
Embora tenham já ocorrido várias rondas, de tentativas negociais, acreditamos que as partes devem ainda continuar a explorar as vias pelas quais se podem fazer consenso. O fundamental é que ambas as partes tenham coragem e flexibilidade para, com base em cedências e concessões mútuas, consigam afugentar os extremismos nas posições tomadas ou serem tomadas.
Partindo do princípio elementar de que ninguém pode dar o que não tem, as exigências devem ser as mais realistas possíveis para que, no quadro negocial, as partes lá cheguem com toda a naturalidade. De resto, é escusado lembrar que não se pode exigir o que não existe, razão pela qual vale sempre observar alguma flexibilidade, realismo, razoabilidade e sobretudo conhecimento da realidade económica e financeira do sector em particular e do Estado em geral.
Insistimos que as partes continuem a negociar, em vez de optar por medidas ou posições extremas que podem prejudicar mais o actual ambiente negocial do que propriamente dar vantagens a qualquer uma delas.