Jornal de Angola

Heróis do momento

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Ontem o mundo amanheceu diferente. Não houve nenhuma tragédia à escala mundial. As geleiras do polo norte não se derreteram por causa do aqueciment­o global. Tão pouco vieram à estampa avanços científico­s passíveis de alterar o curso da história. Mas o mundo amanheceu um pouquinho diferente para o melhor, ainda que a configuraç­ão do planeta não tivesse mudado. Afinal, despertamo­s poucos dias com a certeza de que o botão motivador de guerra nuclear não será accionado tão cedo. O encontro há pouco tempo considerad­o imprevisív­el decorreu tranquilam­ente em Singapura. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, e Kim Jong-un, líder da quase desconheci­da Coreia do Norte, conversara­m, trocaram apertos de mãos e fizeram afirmações que esvaziaram os argumentos dos analistas mais cépticos. Quem diria, o relançamen­to do diálogo para a paz definitiva na península coreana foi protagoniz­ado exactament­e por dois presidente conotacos com excentrici­dades em muitos sectores.

O acontecime­nto que tranquiliz­ou diferentes bolsas de valores tem ampla repercussã­o mundial. Donald Trump não terá um terço da popularida­de que o seu antecessor, Barack Obama, conquistou ao longo dos dois mandatos à frente da nação mais poderosa do mundo. Não tem carisma. É do género “estou pouco me lixando”. Diz o que lhe apetece, não parece ter interesse em alinhar o discurso no âmbito do politicame­nte correcto e já demonstrou que os seus aliados continurão a sêlo desde que não colidam com os seus interesses ou objectivos imediatos. É o típico conservado­r que condensa as suas ambições no propósito de tornar a América novamente grande, mas não necessaria­mente a capitã da selecção universal do policiamen­to. Posicionad­o à direita da política mundial, pouco dado ao cumpriment­o de determinad­as regras de etiqueta, Trump é suficiente­mente dono do próprio nariz para fazer bronseamen­to artificial sem se preocupar com o contraste ao redor dos olhos. Mal amado por grande parte da população mundial tem, entretanto, uma crescente legião de admiradore­s improvávei­s. Incluindo em Angola.

Kim Jong-un, de 35 anos , o terceiro na “dinastia democrátic­a” inaugurada pelo “grande líder” Kim Il Sung, seu avô, é presença habitual das manchetes. Herdeiro político do país que sincroniza com igual precisão marchas militares e emoções humanas tão espontânea­s como o choro, o comandante supremo que agrega outros tantos títulos e honrarias, tornou-se mundialmen­te famoso pelas piores razões. Ter ascendido muito jovem ao cargo de Chefe de Estado do país mais fechado da actualidad­e já constituía motivo para atrair atenções. Quando começou a evidenciar facetas de ditador inequívoco, inúmeros polítólogo­s, psicólogos e especialis­tas de outras áreas de conhecimen­to debruçaram-se sobre o seu perfil. De acordo com relatos de imprensa é o género de ser humano que manda fuzilar um “incumprido­r” com artilharia pesada ou atirá-lo a uma jaula para ser devorado por cães. Não se importa que o alvo da atroz crítica física seja o próprio filho.

Alinhado ideologica­mente à esquerda, evidenciad­a pelo regime mais totalitári­o regido pelo sistema comunista, o presidente norte-coreano arrigiment­a escassos apoiantes incondicio­nais fora do seu país que enfrenta as consequênc­ias de um bloqueio que o isola do mundo. Notícias de austeridad­e e restrições para o norte-coreano comum contrastam com acessórios de altíssimo luxo exibidos por figuras como a primeira dama, cuja vida privada é considerad­a discreta. Pelos vistos King Jong-un gosta de vídeo games. Também gosta de jogos reais. Como o de basquetebo­l que está na origem da grande amizade que o liga ao ex-praticante Dennis Rodman. Diz-se nos bastidores que Rodman foi o verdadeiro artífice do encontro inédito, hipótese veementeme­nte negada nos círculos diplomátic­os. A verdade é que o jovem e o septuagená­rio, ambos presidente­s, são os improvávei­s heróis encarregue­s de devolver a esperança à humanidade. Assim como nas sagas da Marvel, projectada­s pela brilhante mente de Stan Lee, hoje se prognostic­a a vitória da liga do bem. O futuro logo se verá. Só se sabe que amanhã começa o Mundial de futebol. Outros jogos. Apenas jogos. Não casos de vida ou morte!

O encontro há pouco tempo considerad­o imprevisív­el decorreu tranquilam­ente em Singapura. Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, e Kim Jong-un, líder da quase desconheci­da Coreia do Norte, conversara­m, trocaram apertos de mãos

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Luísa Rogério

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