Com uma paulada apenas
Luanda tem falta de salas de teatro, o que, naturalmente, impede o desenvolvimento desta arte, com todas as consequências nefastas que daí advêm, em especial para a cultura.
O legado colonial neste aspecto, como em tantos outros, foi quase nulo. Limitou-se a dois espaços: “Nacional” e “Avenida”. Este último, construído, já no final década de 1960, propositadamente para teatro, não resistiu, no final dos anos 1990, à lei do camartelo. A ideia, para não variar, era - é... - erguer um edifício destinado maioritariamente a apartamentos, mas também a escritórios. Como se a cidade tivesse falta de terrenos! Os “beneméritos” comprometeram-se a instalar uma sala de espectáculos, com 510 lugares. As obras estão paradas há um ror de tempo sem alguém se dignar a dar qualquer satisfação.
O “Nacional”, muito mais antigo, embora preparado para teatro, sempre foi mais sala de cinema do que outra coisa. Por falta de manutenção, foi-se degradando até ter sido vedado - e bem -, por questões de segurança, a espectáculos de qualquer natureza.
A capital, em resumo, não tem um espaço destinado especificamente ao teatro, o que não abona nada a seu favor. Em contrapartida, abundam nela, de uma ponta a outra, armazéns, fábricas, lojas devolutas. Por que não aproveitar parte destas instalações e adaptá-las à chamada arte de palma? Não nos faltam arquitectos, engenheiros, decoradores capazes de tal tarefa. Luanda ganhava locais de cultura e livrava-se de pardieiros, alguns dos quais ainda por cima perigosos, atentados à segurança e saúde pública. Propícios, entre outros males, a incêndios, como já sucedeu. Era uma forma de matar dois coelhos com uma paulada apenas.