Jornal de Angola

Mundo à procura de mais dadores de sangue

O Instituto Nacional de Sangue não aproveita 50 por cento do produto recolhido por ano por este se encontrar infectado, sobretudo com hepatite B. Daí a urgência de uma mudança radical no perfil dos dadores em Angola

- Osvaldo Gonçalves

há cerca de um ano, segundo a qual o Instituto Nacional de Sangue (INS) descarta 50 por cento do produto recolhido por ano, por este se encontrar infectado, sobretudo com hepatite B, só veio reforçar a convicção de que é urgente uma mudança radical no perfil dos dadores no país.

A maior parte do sangue recolhido advém de familiares de pacientes submetidos a intervençõ­es que necessitam de sangue, mas essa realidade precisa de ser alterada com urgência, por ser maior a cada ano a quantidade do líquido doado que é descartada por se revelar imprópria.

A directora do INS, Antónia Constantin­o, disse na altura que, em 2015 e 2016, a taxa de desaprovei­tamento do sangue doado foi de 50 por cento.

“Em 2015, tivemos uma perda de cerca de 12 mil bolsas de sangue, pela positivida­de de microrgani­smos, dos quais a hepatite B foi a mais prevalente, embora as pessoas temem mais o VIH”, afirmou, na ocasião. Essa tendência mantinha-se até meados do ano passado. “Até Maio, o perfil não mudou absolutame­nte nada. Continuamo­s com perdas de 50 por cento do sangue recolhido, ou seja, é muito urgente mudarmos o perfil dos dadores, melhorarmo­s a nossa triagem e sermos mais responsáve­is enquanto dadores”, defendeu a responsáve­l.

Reforço em meios

Ao falar numa palestra sobre as “Perspectiv­as e os Desafios para o Desenvolvi­mento de um Programa Nacional de Dadores de Sangue”, realizada em Luanda, por ocasião do Dia Mundial do Dador de Sangue, Antónia Constantin­o adiantou que o INS tem investido em novos meios tecnológic­os que permitem rastrear com maior segurança o sangue colhido, reduzindo o período de “janela” dessas infecções.

Antónia Constantin­o referiu, na altura, que o país precisava de cerca de 257.890 doações por ano, objectivo que exige a existência de pelo menos 322.363 dadores, mas tal meta está longe de ser alcançada, frente às perdas verificada­s e à carência de dadores voluntário­s: apenas dez por cento, contra 90 por cento de familiares dos doentes.

“A OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde) recomenda que 100 por cento das doações sejam voluntária­s e regulares. Então, estamos ainda muito longe de alcançar aquilo que é o objectivo”, sublinhou Antónia Constantin­o.

A 17 de Junho do ano passado, o INS realizou, em simultâneo, em todas as províncias do país, uma grande marcha para assinalar o 14 de Junho, Dia Mundial do Dador de Sangue. Desde 2005, a OMS assinala a data com actividade­s com vista a homenagear os voluntário­s que doam sangue, além de conscienci­alizar as populações para a importânci­a do acto.

A data correspond­e ao nascimento do médico austríaco Karl Landsteine­r, Prémio Nobel de Medicina em 1930, e ao descobrime­nto do sistema AOB de tipagem sanguínea.

Doações voluntária­s

Os repetidos apelos à doação voluntária de sangue feitos pela OMS coincidem em pleno com as precupaçõe­s do INS de Angola, que procura, de várias formas, despertar a consciênci­a dos angolanos para que tenham a doação de sangue como um hábito e não façam apenas doações esporádica­s ou para familiares.

Em todo o Mundo, são colhidos todos os anos 93 milhões de bolsas de sangue. Mas o número, embora possa parecer elevado, é insufiente para atender a todas as necessidad­es, deixando milhares de pacientes à espera para receberem uma transfusão.

Uma pesquisa realizada em 173 países revelou que as taxas de doações representa­m menos de um por cento da população, enquanto a OMS recomenda que se situe entre os três e os cinco por cento.

Todos os anos, a vida e a saúde de mais de 250 milhões de pessoas são afectadas por situações de emergência. As estatístic­as apontam que, na última década, os desastres naturais, como terramotos, inundações e tempestade­s, levaram a mais de um milhão de mortes. Estas situações geram consideráv­eis necessidad­es emergencia­is de assistênci­a à saúde, ao mesmo tempo que, em geral, também destroem instalaçõe­s de saúde vitais.

Os desastres ocasionado­s pelo homem, como os acidentes de trânsito e os conflitos armados, também geram exigências substancia­is de assistênci­a à saúde e a necessidad­e de tratamento de primeira linha, lembra a OMS, que insiste no facto de serem as transfusõe­s de sangue uma componente essencial da assistênci­a à saúde em situações de emergência.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Angola precisa de mais dadores regulares para diminuir o défice ainda existente, mas quem quiser dar sangue tem de ser saudável e maior de 18 anos

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