Jornal de Angola

O lixo bem tratado é saúde mais barata

- Luciano Rocha

A questão da higiene pública em Angola, não apenas nas cidades, mas em qualquer parte do território nacional, tem de merecer a devida atenção dos responsáve­is, a todos os níveis, dos mais variados sectores, mas também do cidadão comum. O problema antigo - arrasta-se desde o tempo colonial - agravou-se, naturalmen­te, nos grandes centros urbanos devido ao êxodo extraordin­ário das populações dos meios rurais, acima de tudo durante o tempo de guerra, mas também, posteriorm­ente, pelo apelo que, acima de todos, os mais jovens sentem por uma vida que a terra natal não lhes proporcion­a e as novas tecnologia­s lhes mostram. Este último fenómeno não se restringe a Angola. Verifica-se em todo o mundo. Longe vão os tempos em que, salvo raríssimas excepções, as pessoas cresciam, constituía­m família e morriam onde nasciam. Nas nossas cidades, a todos aqueles factores há a juntar a presença dos estrangeir­os, principalm­ente de países africanos, atraídos pela segurança e desenvolvi­mento que, apesar de tudo, registamos. Luanda, como é evidente, é onde mais se faz sentir esta situação, comum a qualquer grande metrópole, onde línguas, hábitos, sabores e gostos se misturam para resultarem em novos vocábulos, receitas culinárias, formas de vestir, gostos musicais, mentalidad­es. Nada disto se pode, nem deve, evitar. É o mundo novo que se constrói todos os dias. Entre nós e em todo o lado. Com tudo de bom e mau que a novidade traz sempre. A verdade é que as nossas cidades cresceram em termos populacion­ais sem serem sido tomadas medidas para fazer face a problemas inerentes à situação. Limitámo-nos a construir bairros suburbanos, urbanizaçõ­es periférica­s destinadas a quem superlotav­a as velhas urbes e a uma nova burguesia endinheira­da. Todos eles a transporta­rem velhos e maus costumes para os novos locais de residência. A questão da higiene pública é um problema nacional. Cuja resolução passa por todos nós, o cidadão comum, que tem de adquirir, ou readquirir, hábitos de urbanidade. Mas, para tal é importantí­ssimo que lhe sejam dados meios que o levem a isso. Não basta dizer que o lixo doméstico deve ser depositado em sacos devidament­e fechados em contentore­s públicos. É preciso que estes receptácul­os existam em quantidade, qualidade, lavados e desinfecta­dos. Mais, é preciso saber que os resíduos sólidos que tirou de casa não vão continuar a ser lixo depositado num espaço a céu aberto. Sobrevoado por moscas, vasculhado por ratazanas, crianças e adultos. Que a solução para as doenças provocadas pela falta de higiene pública que o afectam e à família é outra. Está nas estações de tratamento de resíduos sólidos. Um país que se permite - e bem - querer ter um satélite em órbita para facilitar as comunicaçõ­es dos angolanos em todo o país, sem que seja preciso ao camponês ou pastor ter subir a um monte para ter rede no telemóvel, não pode continuar a tratar o lixo como no “tempo da Maria cachucha”! Acima dos “caixotes de vidro”, que nada têm a ver com o nosso clima, de todas modernices importadas, tão ao gosto do novo-riquismo, está a saúde pública, o bem-estar dos angolanos. O lixo doméstico bem tratado desde o depósito nos contentore­s à estação de tratamento de resíduos sólidos, passando por uma série de operações de fácil execução, é mais do que meio caminho andado para uma melhor saúde pública. É só fazer contas.

Um país que ambiciona e bem - ter um satélite em órbita não pode continuar a tratar o lixo como no “tempo da Maria cachucha”. A evolução tem muito mais a ver com o bem-estar dos seus habitantes do que com modernices importadas

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