Jornal de Angola

Por elas, e para elas

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Para comemorar o Dia mundialmen­te dedicado à criança africana, o Jornal de Angola lançou-se numa iniciativa: ouvir dos mais pequenos os desejos e sonhos sobre o seu mundo e aquele que querem que os adultos deixem para elas. Depois de várias sugestões sobre a melhor forma de traduzir esta homenagem, eis que surgiu a ideia de publicar um caderno feito por elas e para elas, mas como recado para os adultos. Do próprio punho, dez crianças escreveram os textos estampados, originalme­nte, na capa deste jornal e transcrito­s, integralme­nte, nas duas páginas do interior. São textos de crianças da escola São José do Cluny. O facto de as 10 crianças serem da mesma escola tem uma explicação. Numa sociedade que se quer mais aberta, participat­iva e inclusiva, onde todos tenham voz, infelizmen­te, as tentativas de se exercitar a pluralidad­e encontra, muitas vezes, entraves na burocracia. A ideia inicial do projecto era abranger mais escolas, do centro à periferia de Luanda e até mesmo de outras partes do país. Entretanto, apenas o São José do Cluny atendeu, de pronto, o desafio. Na capital, outras instituiçõ­es escolares contactada­s - e não foram poucas - pediram que se remetesse a intenção à Delegação Provincial da Educação. Era preciso fazer uma carta, explicar os propósitos e esperar pela decisão superior. Tanto rodeio para ouvir o que as crianças têm para dizer num dia a elas dedicado! Chamar burocracia a essa atitude parece pouco... O Jornal de Angola traz, portanto, o relato de dez crianças, que, pela profundida­de dos testemunho­s, traduz os desejos e sonhos de meninas e meninos do mundo inteiro. Há mensagens de esperança, como a da pequena Márcia Evangelist­a. Ela acredita num amanhã radiante, mas lembra que a criança é como uma flor, que, se não for bem tratada, acaba por murchar. Mas há, também, denúncias de barbaridad­es, nada admissívei­s no século em que vivemos. Mariana de Sousa, por exemplo, lamenta o sofrimento das crianças em vários países africanos. Já Sara de Freitas, nos seus poucos anos, lembra que ainda há menores a passar fome, sem escola, nem abrigo. Ela conclui que as dificuldad­es enfrentada­s são meio caminho para que aqueles meninos e meninas ingressem no mundo das drogas e do crime. São desabafos de arrepiar, verdades de fazer corar os adultos de hoje.

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