Vinte e sete anos depois Moscovo sobe de classe
Vinte e sete anos depois regresso a Moscovo, cidade onde nos finais dos anos oitenta, princípio da década de noventa vivi a estudar como oficial das extintas FAPLA, e constato grandes mudanças.
A Moscovo de hoje já não tem nada a ver com aquela cidade em que vivi. Houve mudanças radicais nestes vinte e sete anos. A cidade cresceu quer em dimensão como na sua estrutura arquitectónica e, fundamentalmente nas infra-estruturas rodoviárias, que melhoraram de forma espectacular. Viadutos, pontes, autoestradas, vias expressas, tudo conforme os melhores padrões e qualidade de nível mundial. Ao contrário dos prédios baixos que caracterizavam a urbe, havia muito poucos arranha-céus, hoje o cenário é completamente diferente.
A cidade está cheia de edifícios altos e não fica a dever em nada as outras capitais europeias, com os serviços a funcionarem em pleno, várias companhias de transportes públicos, de táxis e aumentaram linhas do metro, um dos melhores da Europa, para não dizer do Mundo, característica que herdou do tempo do comunismo.
Nos tempos que aqui vivi como estudante, os carros que circulavam pela cidade eram maioritariamente os Ladas, Nivas e Volgas. Os Mercedes que andavam pela cidade eram raros e apenas dos diplomatas.
Hoje, a situação é completamente diferente. Circulam pela cidade verdadeiras “bombas”. Há de todos os tipos, desde os Toyotas Prado, Land Cruizer, Rav 4, Mercedes de todos os tipos, Porsches, Jaguares, enfim todas as marcas famosas inundam as largas avenidas e estradas rápidas. Enfim, Moscovo transformou-se radicalmente e tornou-se numa cidade moderna, onde se pode encontrar de tudo.
A população moscovita, anteriormente constituída principalmente por naturais, hoje é uma amalgama de nacionalidades e raças.
Ontem, na visita feita à famosa rua Arbat, bem no centro da cidade, fui encontrar um cidadão da Nigéria, à porta de uma das lojas de lembranças e souvenirs, a convidar as pessoas a entrarem para o estabelecimento. Na breve conversa que mantivemos, fiquei a saber que o Nelson, foi assim que se identificou, não aceitou dizer o nome de família, vive há seis anos em Moscovo, onde já constituiu família e tem duas filhas.
Revelou também que chegou à cidade à procura de conhecimento, mas após a formação decidiu ficar, porque já tinha constituído família e o regresso à pátria não seria a melhor opção.
O Nelson diz que o preconceito racial existe, mas prefere lidar com a situação com “fair play”, pois aqui mesmo não trabalhando na área em que se formou consegue o sustento para a família, algo que na terra natal seria difícil.
A rua Arbat é uma rua, onde muitos artistas da cidade vão expor as suas habilidades. Nela é possível comprar quadros, ou encomendar um quadro com o seu rosto feito em poucos minutos, assistir a uma peça de teatro, ver um filme, visitar a casa onde viveu Pushkin, um famoso poeta de origem africana do século XIX, ouvir música ao vivo de acordeão ou piano, sem ter de pagar nada, ou almoçar numa das várias esplanadas ao ar livre espalhadas pela rua.
É uma rua de peregrinação obrigatória para os turistas. É caso para dizer, quem vai a Moscovo sem visitar esta rua, é o mesmo que não tivesse visitado a cidade.