De refugiado a activista dos direitos humanos
Em 2007, Oseias iniciou a vida de voluntário e activista do Grupo Justiça e Paz, financiado pela Comissão Europeia
Oseias Ngola Mununga nasceu há 28 anos no Cuito-Bié, filho de Francisco Chimbiambiulo e Priscila Tomás, já falecidos, quarto filho entre seis.
Oseias, ou Avôzinho, como é carinhosamente tratado em casa, é licenciado em Ciências de Educação na Especialidade de Física pela Universidade José Eduardo dos Santos, e licenciando em Comunicação Social pela mesma Universidade na província do Bié, e é professor de carreira leccionando cadeiras de Matemática e Fisica na Escola do Ensino Geral 195.
Mas as coisas não foram fáceis para Oseias Ngola Mununga. Por razões da guerra que assolava o país e com maior impacto no centro do território, a família de Oseias, após os acordos de 1991 mudou-se para o município do Andulo, onde Oseias, em 1994, começou os estudos.
A situação do país agudizou-se devido à guerra desencadeada em 1992 pela UNITA e em 1999, andava Oseias na 5.ª classe, toda a família foi obrigada a abandonar o Andulo e procurar refúgio no Hundo. Depois da retirada, em Novembro de 1998, a família fez uma longa caminhada que durou cerca de nove meses, até à Zâmbia. Neste período a família foi separada. “A experiência de viver como refugiado nunca é boa… Muitas vezes é humilhante… Mas ainda assim, é melhor do que assistir a alguém a morrer de fome e sem ter nada para o salvar”, diz Oseias Ngola Mununga.
Os pais tiveram de trabalhar duro no campo para que nada faltasse, a vida de refugiado requer dinamismo quando se quer dar o melhor para a família, durante este período Oseias e uma irmã vendiam produtos recolhidos do campo.
Durante o período em que viveu no campo de refugiados de Maheba, Oseias Ngola Mununga conheceu um padre da Comunidade Jesuíta, de nome “Vítor, que o ajudou a ser um aluno excelente e a aprender inglês em pouco tempo.
Oseias e a família saíram da Zâmbia em Abril de 2003, por iniciativa e custos próprios, contando apenas com a documentação de repatriamento entregue pela UNHCR e a LWF, ONG que tinham o total controlo dos refugiados angolanos.
Chegada ao Luena, a família de Oseias procurou adaptar-se à nova realidade. Os padres Salesianos de Dom Bosco acolheram-no numa das suas instituições de ensino, o que permitiu a continuação dos seus estudos.
Não foi fácil a integração, lamenta Oseias Ngola Mununga. “Naquele tempo no Luena o tribalismo era enorme, fomos humilhados nas salas de aula por alguns colegas pelo facto de não sermos da região mas, pela nossa dedicação, minha irmã e eu conquistámos o quadro de honra e este passo gigantesco proporcionou-nos maior respeito e admiração pelos que nos humilhavam.”
Após o termino do segundo nível, em 2005, por não haver instituições de ensino na província que permitissem a escolha de profissões, Oseias Ngola Mununga inscreve-se no Centro Educativo Maria Auxiliadora, afecto às Irmãs Salesianas. A par dos estudos e porque em casa não havia ninguém com emprego fixo, Oseias fazia venda ambulante.
Em 2007 Oseias iniciou a vida de voluntário e activista do Grupo Justiça e Paz financiado pela Comissão Europeia, pois ele esteve smpre sensibilizado para o sofrimento humano. Já na décima classe, Oseias Ngola Mununga foi convidado pelo projecto de Direitos Humanos Juventude, Direitos Humanos e Democracia para apresentar na rádio o espaço “Além das Diferenças”. No início, recorda Oseias, era pressionado “a não fazer ondas” e chegou a ser ameaçado “por estar a fazer politica” e que “um dia podia vir a perder a vida”. Oseias não tem dúvidas: “Devo a minha vida a várias pessoas que foram estendendo as suas mãos, especialmente à Igreja Católica e às suas Comunidades Salesianos de Dom Bosco e Filhas de Maria Auxiliadora-Salesianas”. Em 2007 Oseias matricula-se no Centro Educativo Maria Auxiliadora (actual Magistério Primário) sob diretoria das irmãs Fatima Parecida e Irene, fazendo o primeiro ano do ensino médio.
Naquela época foi criado um projecto da Igreja Católica “Justiça e Paz” e Oseias Ngola Mununga foi convidado a participar como activista para os Direitos Humanos em escolas, igrejas e em pequenos encontros com a juventude local. “Éramos apenas voluntários, fazíamos este trabalho sem nenhum fim remunerativo.”
Em 2009 Oseias é convidado para novas actividades na área dos Direitos Humanos integrando o projecto “Juventude. Direitos Humanos e Democracia”.
Três anos depois, era o coordenador provincial do projecto e abraçava a segunda geração do espaço radiofónico “Além das Diferença”, na Rádio Moxico, da responsabilidade dos Salesianos de Dom Bosco, foi co-fundador do programa da Diocese de Luena “O Despertar da Justiça” e fundador do programa radiofónico “Hora Académica” da Escola Superior Politécnica do Moxico.
Hoje, Oseias continua a trabalhar com a juventude em projectos filantrópicos no Moxico e acaba de lançar mais um projecto ligado aos Direitos Humanos, a “Associação dos Voluntários do Luena”, para promover uma cultura jurídica no seio das comunidades, auxiliar no combate ao analfabetismo,consciencializar as comunidades para a necessidade da protecção ambiental e promover a saúde comunitária. Por agora o programa está no Alto Luena aguardando que o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos reconheça os seus estatutos para a acção se estender a toda a província do Moxico.