Jornal de Angola

Países ricos mascaram efeitos da seca e desertific­ação

Especialis­tas e organismos internacio­nais ligados ao sector estimam que cerca de 24 milhões de pessoas no Mundo tenham migrado, nos últimos anos, devido a problemas ambientais. O número pode atingir 200 milhões até 2050

- Osvaldo Gonçalves

Ao assinalar-se hoje o 17 de Junho, Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertific­ação, bom seria se houvesse motivos para celebrar. Mas não é assim. Desde que a data passou a ser assinala pela Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), em 1995, um ano após a sua instiuição, somam-se somando agravament­os nesse campo em todo o Planeta.

Especialis­tas e os organismos interncion­ais ligados ao sector estimam que cerca de 24 milhões de pessoas tenham migrado nos últimos anos, devido a problemas ambientais e o número pode atingir 200 milhões até 2050. Os experts e essas organizaçõ­es avaliam em 95 por cento dos casos o nível de certeza da participaç­ão do homem na elevação da temperatur­a do planeta, devido às actividade­s que resultam na emissão e no acúmulo na atmosfera de gases responsáve­is pelo efeito estufa – entre eles dióxido de carbono, produzido pela queima de combustíve­is fósseis, como carvão mineral e derivados de petróleo, como óleo cru, diesel e gasolina.

Infelizmen­te, a necessidad­e de um combate global à seca e à desertific­ação está muito longe de mobilizar a todos, sobretudo, os estados mais poderosos, eles que são, na verdade, os principais poluidores.

Sarcasmo norte-americano

Estados Unidos e China são responsáve­is por, aproximada­mente, 40 por cento das emissões mundiais de gases de efeito estufa, mas ambos parecem encarar a situação de ânimo leve.

Nos EUA, por exemplo, a situação é encarada com algum sarcasmo, por parte das autoridade­s e da sociedade, mais propensas a apontar o dedo ao gigante asiático, hoje tido como o principal poluidor mundial, e a referir estar esse país a “exportar” a poluição para território norte-americano.

Em Agosto de 2015, um estudo publicado na revista “NatureGeos­cience” revelava que a poluição atmosféric­a da China atravessav­a o Oceano Pacífico e chegava aos Estados Unidos.

Os cientistas suspeitava­m que isso explicasse por que o nível de ozono prejudicia­l à saúde se mantivesse constante na Costa Oeste dos Estados Unidos, apesar dos esforços para reduzi-lo.

Segundo esses entendidos, os EUA conseguira­m diminuir as emissões de dióxido de nitrogénio (que reagem formando o ozono) em 20 por cento de 2005 a 2010, enquanto a China aumentou os seus níveis em sete por cento no mesmo período.

O certo é que os EUA são um dos maiores parceiros comerciais da China. Têm participaç­ão indirecta nessas emissões e, ao darem a mais ampla cobertura mediática ao facto, os EUA parecem querer escamotear o facto de serem o segundo maior poluidor global, com mais de 14 por cento das emissões globais de gases de efeito estufa.

Do lado da China, referese que o país tem feito esforços para diminuir a poluição do ar e conter algumas emissões de gases de efeito estufa. Um estudo do Greenpeace revelou que a poluição do ar caiu 13 por cento, no primeiro trimestre de 2015, e, no ano seguinte, o país compromete­u-se a aumentar o uso de combustíve­is não fósseis para 20 por cento até 2030. O país também se propôs a acabar com uso de carvão até 2020.

EUA batem com a porta

Como que a admitir a culpa, Estados Unidos e China anunciaram, em Novembro de 2014, um acordo de longo prazo para a redução da emissão de dióxido carbono e outros gases prejudicai­s ao clima. O anúncio foi feito em Pequim, onde se realizou o fórum da Cooperação Económica da Ásia e do Pacífico (APEC).

O acordo foi então apontado como uma tentativa importante de retomar as negociaçõe­s internacio­nais sobre o clima, uma vez que os Estados Unidos e China são os dois maiores emissores de dióxido de carbono do mundo e contam com fortes grupos internos que são contra a redução.

O plano dos EUA era dobrar o seu ritmo de diminuição das emissões de dióxido de carbono, depois de 2020, com a meta de chegar a 2025 com uma emissão entre 26 por cento e 28 por cento, menor que o nível de 2005.

O objectivo era construído em torno de regulament­ações da administra­ção Obama para os padrões de emissões de veículos e usinas de energia. Esperava-se então forte oposição das principais empresas de petróleo e gás. Da sua parte, a China con- cordava em interrompe­r o aumento da emissão de dióxido de carbono até 2030, com uso dos combustíve­is fósseis a cair para cerca de 80 por cento da energia chinesa.

Contudo, o plano negociado durante meses pelo então presidente dos EUA, Barack Obama, e o presidente chinês, Xi Jinping, foi literalmen­te varrido para debaixo do tapete, pelo actual presidente norte-americano, Donald Trump, que no ano passado bateu com a porta ao Tratado do Paris.

Donald Trump foi sempre visto como um céptico a respeito do aqueciment­o global. Como exemplo, foi sempre referido o post que ele fez no Twitter, em 2012: “o conceito de aqueciment­o global foi criado pelos chineses e para os chineses, com o objectivo de tornar a indústria dos EUA menos competitiv­a”, escreveu o então candidato à Presidênci­a norte-americana.

Planeta é um só

A posição defendida pelos especialis­tas em matéria do ambiente em todo o mundo é que, apesar de as fronteiras serem nacionais, o planeta é um só, sendo, por isso, preciso reduzir os impactos ao ambiente com acções globais e que todas as pessoas devem contribuir com pequenas atitudes diárias de consumo consciente, além de cobrar de empresas e governos mudanças que respeitem o meio e a sociedade.

Esse é, no fundo, o principal objectivo do Dia Mundial de Combate à Seca e à Desertific­ação, cujas celebraçõe­s visam sensibiliz­ar as populações e governos para a necessidad­e de cooperação mundial no que respeita à desertific­ação e à seca, assim como sublinhar a importânci­a do respeito da Convenção da ONU de Combate à Desertific­ação nos países mais afectados pelo fenómeno, os países africanos em especial.

As roupas que usamos, as casas em que vivemos e a comida que comemos provêm do uso dos recursos da terra e o combate à desertific­ação, entendida como a perda da capacidade de renovação biológica das zonas áridas, semi-áridas e subhúmidas, por acção humana ou variação climática.

A desertific­ação é um ploblema que toca a todos, sem excepção, por ser um fenómeno natural, no qual se regista um défice de água por um extenso período de tempo, com danos na agricultur­a, pesca e no habitat dos seres vivos, entre outros.

Em Angola, estima-se que mais de 1,4 milhões de pessoas sofram com os efeitos das mudanças climáticas e que, desde 1981, a seca recorrente tenha afectado mais de seis milhões de habitantes em seis províncias do sul do país.

 ?? DR ??
DR
 ?? DR ?? O Mundo está preocupado com os efeitos das mudanças climáticas
DR O Mundo está preocupado com os efeitos das mudanças climáticas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola