Assoreamento dos rios está a inutilizar a terra
Água chega a ocupar 60 por cento das fazendas e parcelas de cultivo dos camponeses, tornando-as pouco produtivas
Almeida Pinho revelou ter feito uma solicitação para o emprego de equipamento inactivo do antigo Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN) no desassoreamento dos rios
Agricultores de Quilengues, Huíla, manifestaram, ao Jornal de Angola preocupação face ao assoreamento - acumulo de lama e outros detritos dos rios que cruzam o município, provocando elevados prejuízos com a inundação de milhares de hectares de terrenos cultivados.
Segundo o vice-presidente da “Aurora Impulo”, uma associação agro-pecuária que agrupa mais de uma centena de fazendeiros, a situação não é nova e acentua-se todos os anos por altura das “grandes chuvas”, que provocam o transbordo dos principais rios.
Almeida Pinho solicitou apoio do Governo para inverter a situação, sob pena de se assistir a uma crise alimentar na região, já que, como disse, grande parte dos grandes, médios, pequenos agricultores e famílias camponesas têm as suas propriedades muito próximo das bermas dos rios.
“Gostaríamos de implementar, na época seca, um vasto programa de desassoreamento, ou seja, de intervenções nas margens dos rios Impulo, Tepa, Mussanji, Calunga e Hanja para impedir que a água transborde para os campos agrícolas e siga o seu curso normal, mas estamos com sérias dificuldades para a aquisição de retro-escavadoras, camiões e outros equipamentos indispensáveis”, disse o fazendeiro.
O vice-presidente da “Aurora Impulo” revelou ter feito uma solicitação para o emprego de equipamento inactivo do antigo Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN) no desassoreamento dos rios.
“O extinto GRN tem bastante equipamento parado. Gostaríamos que nos apoiassem com, pelo menos, quatro retroescavadoras D-6, quatro camiões basculantes, cilindros e tractores. Nós criaríamos uma ‘força tarefa’ para arcarmos com as despesas com combustíveis e os técnicos para manusear estes equipamentos”, afirmou.
Os fazendeiros aguardam também resposta a uma solicitação feita ao Ministério da Energia e Águas para que os seus serviços de hidráulica participem no desassoreamento dos rios de Quilengues, uma das principais regiões agrícolas da Huíla que chegou a exportar, no passado, tabaco e girassol para alguns países africanos.
Almeida Pinho reconheceu as dificuldade financeiras da Administração Municipal e Governo Provincial para lidar com a situação que afecta centenas de agricultores e camponeses individuais.
Para contornar esse cenário, os fazendeiros viramse forçados a optar pela produção de hortícolas na época seca e a apostar mais na criação de gado. “Escolhemos uma estratégia diferente: vamos fazer pouca agricultura e mais pecuária, sob pena de sucumbirmos a tanto prejuízo, ao que se junta o preço dos combustíveis”, explicou Almeida Pinho, acrescentando que o município de Quilengues “merece maior atenção”.
Almeida Pinho indicou que a água chega a ocupar 60 por cento das fazendas e os campos dos camponeses, onde permanece por muito tempo, deixa bastante areia que pode tornar as terras pouco produtivas. “Não conseguimos trabalhar na época de 2018, porque o caudal dos rios sobe e ocupa grandes espaços das áreas agrícolas”, lamentou o líder da “Aurora Impulo”.
Considerou a situação de “extremamente preocupante” pelo impacto que tem sobre a segurança alimentar e indicou que, nesta altura, trabalha-se no levantamento dos prejuízos das últimas enchentes, mas, só na sua propriedade, foram afectados mais sete hectares de milho e 20 de soja, ao mesmo tempo que 400 bananeiras foram arrastadas pela água que transbordou dos rios.
“A água ficou dentro da fazenda perto de dois meses, quase passou por cima da ponte da estrada que liga Lubango a Benguela e todos os agricultores que trabalham à beira do rio Calunga foram afectados. Num percurso de pelo menos dez quilómetros de rio, camponeses ficaram sem praticamente nada e todos os anos é assim”, sublinhou.
Parcerias empresariais
Almeida Pinho referiu que a associação tem mais de 14 mil hectares disponíveis para a implantação de empresas nacionais ou estrangeiras interessadas em investir. “Temos condições para receber perfeitamente os investidores e preparados para formar parcerias ou consórcios na medida em que temos infra-estruturas e equipamentos para trabalharmos”, sublinhou o empresário, apontando o milho, algodão, tabaco, gergelim, girassol, hortícolas e sisal como áreas atractivas para o investimento.
Revelou que empresários franceses manifestaram interesse em visitar Quilengues para avaliar as possibilidades de investimento, mas que outros, da Bélgica, Espanha e Portugal, podem ser acolhidos pelas empresas locais para a formação de parcerias. “Há espaço para todos”, concluiu Almeida Pinho, que continua esperançado na instalação, naquele município, de uma “zona franca” e um pólo industrial entre as comunas do Impulo e Dindi, para estimular o desenvolvimento da região Sul de Angola.