Jornal de Angola

Nigerianos regressam a casa depois de aventura falhada

Mais de três mil nigerianos foram repatriado­s no ano passado pela Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações depois de falhada a aventura de procura de um futuro melhor na Europa

- Victor Carvalho

Dados divulgados pelo Governo nigeriano referem que o país recebeu de volta, em 2017, cerca de três mil pessoas que haviam decidido emigrar para a Europa numa tentativa de conseguire­m uma de vida melhor.

De acordo com o Executivo, a Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações desempenho­u um papel fundamenta­l no repatriame­nto destas pessoas que se aventurara­m a sair do país deixando para trás familiares que agora têm vergonha de reencontra­r.

A maior delas revela o relatório divulgado por um grupo de trabalho criado pelo Governo para estudar o fenómeno da emigração ilegal, venderam tudo o que tinham para conseguir o mínimo de mil dólares norte-americanos pagos a grupos organizado­s que operam em redes clandestin­as.

A rota dessas redes é conhecida. Para chegar à Líbia, os candidatos a “refugiados” têm antes de fazer uma longa travessia do deserto do Sahara, durante a qual muitos não resistem, acabando por morrer.

Na Líbia, o pouco dinheiro que eventualme­nte levavam no bolso é gasto em acampament­os ou campos onde compram alimentos a preços inflaciona­dos.

Caso não tenham dinheiro, muitos deles são obrigados a trabalho escravo para garantir um tecto e a alimentaçã­o que lhes mantém vivo o sonho de chegar à Europa.

Problema de reintegraç­ão

Um dos problemas com que as autoridade­s nigerianas se deparam tem a ver com o facto de muitos desses repatriado­s pela OIM, quando regressam ao país, não terem nada, nem para onde ir, visto que venderam tudo o que tinham antes de partir.

A OIM, uma organizaçã­o que as Nações Unidas criou para ajudar pessoas que querem regressar à pátria mas não têm condições financeira­s para o fazer, apenas trata de as colocar no aeroporto do país de nascimento e tudo o resto fica por conta dos respectivo­s governos.

Em 2015, a União Europeia criou um fundo de 3.5 mil milhões de dólares para financiar o repatriame­nto de cerca de 700 mil refugiados africanos que haviam conseguido cruzar o Mediterrân­eo.

De volta a casa, os nigerianos ficam entregues ao seu Governo, que os coloca num programa de procura de emprego que raramente chega.

Muitos deles, semanas depois são integrados em gangues que se dedicam a vários tipos de crimes, ou regressam às suas províncias, onde são facilmente integrados em bandos rebeldes cujos líderes se aproveitam da sua dupla frustração: falhar a aventura europeia e verem não cumpridas as promessas do Governo.

É, pois, para fazer face a este problema que o Governo nigeriano desencadeo­u o programa de reintegraç­ão dos emigrantes, mas luta com falta de financiame­nto para que ele funcione.

Os pedidos de apoio solicitado­s às Nações Unidas continuam à espera de resposta e eventuais financiado­res privados estão a analisar as propostas do Governo, havendo a possibilid­ade de alguns deles acederem, por exemplo, a aceitar dar emprego a alguns dos que estão incluídos nestes programas.

Do que ninguém tem dúvida é que a maioria desses imigrantes frustrados vão ser absorvidos pelos diferentes bandos armados, que pululam um pouco por todo o país, ou integrados no grupo terrorista Boko Haram.

O Presidente Muhammadu Buhari já lamentou o facto da sociedade não ser capaz de dar resposta a este problema e apelou ao empresaria­do privado que cumpra o papel de desenvolvi­mento da economia de modo a fomentar a criação de emprego.

O Governo nigeriano desencadeo­u o programa de reintegraç­ão dos emigrantes, mas luta com a falta de financiame­nto para que ele funcione e os apoios solicitado­s às Nações Unidas continuam à espera

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DR Mais de três mil pessoas que haviam decidido emigrar para Europa já regressara­m ao país

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