Jornal de Angola

Etiópia reactiva Marinha de Guerra

Quando a Eritreia proclamou a sua independên­cia, em 1993, a Etiópia ficou sem qualquer linha de costa marítima para defender ou fiscalizar. Isso levou ao desmantela­mento da sua Marinha de Guerra que agora se esforça para reactivar

- Victor Carvalho

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, disse recentemen­te em declaraçõe­s à televisão estatal que está a concluir o processo de criação de uma das mais competente­s forças aéreas do Mundo e que, ainda este ano, iniciará o processo de reactivaçã­o da sua Marinha de Gguerra.

Esta declaração revela as ambições navais da Etiópia, mas os detalhes práticos de como isso será concretiza­do permanecem no segredo dos deuses, embora haja quem garanta que o Reino Unido será um parceiro determinan­te nesse projecto.

Desde 1993, quando a Eritreia proclamou a sua independên­cia, que a vizinha Etiópia deixou de ter uma costa de linha marítima, facto que facilitou a decisão de desmantela­r a sua Marinha de Guerra, que até então era das mais poderosas do continente africano.

Num primeiro passo para a concretiza­ção do objectivo agora anunciado pelo seu primeiro-ministro, a Etiópia está a contactar alguns países vizinhos com saída para o mar de modo a encontrar um local onde possa construir uma base naval.

Para já parece descartada a possibilid­ade da Etiópia usar a sua anterior base, localizada em território que agora está sob a administra­ção da Eritreia, devido à guerra fronteiriç­a que opôs estes dois países entre 1998 e 2000 com efeitos colaterais que ainda hoje se fazem sentir com disputas que muitas das vezes se transforma­m em graves escaramuça­s.

Na busca de alternativ­as, o Governo etíope está a pensar em negociar com as autoridade­s do Djibouti a possibilid­ade de aumentar a capacidade de utilização do seu porto, por onde actualment­e passam cerca de 95 por cento dos produtos que exporta e importa.

O Porto de Doraleh, no Djibouti, está a cerca de 759 quilómetro­s de Adis Abeba, uma distância habitualme­nte percorrida por comboio, numa linha aberta no ano passado para facilitar o comércio entre estes dois países e que pode ser determinan­te como anexo ao projecto de criação de uma base naval na Etiópia. Ajuda ao comércio marítimo O projecto de revitaliza­ção da Marinha de Guerra visa também o auxílio ao comércio marítimo da Etiópia, que actualment­e envolve onze navios e que usam o porto do Djibouti. Esta actividade corre habitualme­nte sérios riscos sempre que os barcos navegam no vizinho Mar Vermelho. Desse modo, as embarcaçõe­s de guerra poderiam ser utilizadas para garantir a segurança da marinha mercante e assim aumentar a sua rentabilid­ade económica para o país.

Acresce a isto o facto da Etiópia manter activo o Instituto Marítimo Civil, que forma anualmente 500 engenheiro­s e electro-técnicos e que prevê duplicar essa capacidade a partir do final deste ano.

Desde que em Abril deste ano chegou ao poder, o primeiro-ministro Abiy Ahmed já assinou acordos para ter acesso ao porto do Sudão e estabelece­u um entendimen­to com o auto declarado Estado da Somalilând­ia para utilizar o Porto de Berbera.

Mas, o verdadeiro grande objectivo do novo primeiromi­nistro é mesmo conseguir a total reconcilia­ção com a Eritreia e assim conseguir ter mais perto da Etiópia a sua sonhada base naval.

Depois de algumas tentativas etíopes para abrir a via do diálogo, a Eritreia respondeu dizendo que só está disposta a negociar o que quer que seja depois da Etiópia libertar os território­s que ainda mantém ocupados.

Neste momento, a Etiópia e o Quénia têm em marcha um projecto comum para facilitar a aquisição de terreno na ilha de Lamu, num projecto avaliado em 24 biliões de dólares norte-americanos, para a construção de um porto que possibilit­e a ligação entre os dois países e destes com outros vizinhos. O acordo foi assinado em 2012, mas por problemas financeiro­s e de segurança tem vindo a ser sistematic­amente adiado.

Alguns países ocidentais estão a olhar com interesse para a decisão da Etiópia reabilitar a sua Marinha de Guerra, uma vez que ela poderia ser usada, também, no combate aos grupos terrorista­s “Estado Islâmico” e Al-Shabab, além de ser um factor importante para melhorar a segurança no Oceano Índico, ultimament­e afectada pelo ressurgime­nto de actos de pirataria.

Depois de algumas tentativas etíopes para abrir a via do diálogo, a Eritreia respondeu dizendo que só está disposta a negociar o que quer que seja depois da Etiópia libertar os território­s que ainda mantém ocupados

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DR Desde que chegou ao poder Abiy Ahmed já assinou vários acordos para ter acesso ao mar

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