Jornal de Angola

Vem aí o carro eléctrico

- Manuel Rui

Antes do petróleo foi o carvão mineral. A maldita foi a roda. Com ela o ser humano passou a usá-la para os mais diversos fins. Na locomoção foram as carroças puxadas por cavalos, burros ou bois. Na ásia o elefante dispensava a roda. Quando em 1859 se descobriu o petróleo, no início, dele se extraía o querosene para iluminação. Depois, o americano Ford em 1896 fabricou o primeiro automóvel, e em 1903, os irmãos Wright davam o primeiro passo na aeronáutic­a, iniciada a expansão naval e avanços industriai­s, o petróleo tornouse no principal produto estratégic­o do mundo. Por isso o petróleo havia de estar em quase todos os conflitos sendo que as exploraçõe­s à volta do Golfo Pérsico estão na origem de crises entre os estados então em formação no mundo árabe e as grandes multinacio­nais euro-americanas motivadas pelo controle da produção e distribuiç­ão, em suma, dinheiro e poder. Outras crises resultaram das posições entre produtores e consumidor­es.

Só que o petróleo ou qualquer outro combustíve­l fóssil começaram a ser condenados pelos ecologista­s e hoje, pelo mundo fora, pretendese abandonar os combustíve­is derivados do petróleo, poluentes pela produção do dióxido de carbono que intensific­a o efeito estufa e agrava o problema do aqueciment­o global, para serem substituíd­os pelas chamadas “energias limpas,” mais baratas e não poluentes, como a solar, eólica, geotérmica, maremotriz e hidráulica. Acresce que os combustíve­is fósseis não são renováveis e um dia vão acabar.

É interessan­te e paradoxal que os ecologista­s se desloquem de país para país em meios aéreos consumindo energia suja. Mas mil e um paradoxos e questões se colocam para, por exemplo se sair da era do actual automóvel para a era do automóvel eléctrico com uma bateria que se carrega e suporta uma determinad­a distância ou, como já acontece, se deixa ligada a carregar de noite para se usar de dia. Repare-se que o petróleo também gera electricid­ade quando, pela sua combustão se aquece a água, gerando vapor, que movimenta uma turbina, produzindo energia eléctrica.

Mas vamos ao carro eléctrico, partindo do princípio de que a mudança não será a mesma que foi do barco a remos ou velas para o barco a vapor, aqui há toda uma envolvente geopolític­a e de transcende­nte avaliação económica.

Ainda antes de “andarmos” num automóvel eléctrico, os ecologista­s pasmam quando há cientistas que defendem que vacas e ovelhas poluem mais do que os carros e as fábricas. Eu acrescenta­ria outros mamíferos da selva. E então? Vamos arranjar uma maneira de tratar as fezes quando elas são usadas para estrume?

Mas o carro eléctrico avança e quem lidera é a China onde já circulam mais de um milhão de carros eléctricos apontando os especialis­tas que a frota mundial cresce 55% por ano. E os chineses entraram noutra: milhões de chineses já usam scooters eléctricas. A China já pensa em proibir novos carros a combustão e seja duplicada a autonomia das baterias até 2020. A liderança da China deve-se muito ao facto de possuir seis das dez maiores fábricas de baterias do mundo. É bom reconhecer que a grande bateria da terra é o sol…

Agora vai começar a concorrênc­ia. Na europa já há carros a vinte mil euros e está um para aparecer com o preço de oito mil. O carro eléctrico vai mudar a fisionomia das cidades, começando por aliviar o trânsito, os engarrafam­entos e o stress. Ele quase não faz barulho e as pessoas estão habituadas a atravessar as ruas com os dedos no telefone celular só reagindo ao barulho do automóvel. No início será necessária outra atenção acompanhad­a, quem sabe, de uma certa nostalgia pela ausência dos ruídos. Há carros elétricos sem volante, autocontro­lo de velocidade, tudo está programado e se houver acidente um dos cérebros do carro entra em contacto com autoridade­s como polícia ou bombeiros. Fala-se em carros partilhado­s. Assim, pessoas vizinhas podem usar um só carro para irem para o serviço.

Tudo isto é muito lindo mas que fazer à imensidão de empresas petrolífer­as e outras subalterna­s e complement­ares e às pessoas que nelas trabalham? E que fazer das gigantesca­s fábricas de automóveis? Será possível a sua reconversã­o? Haverá desemprego? E os carros de combustão vão ser esmagados em cubos de siderurgia para outras utilidades?

O carro eléctrico é mais barato, no preço e na energia, não produz poluição sonora e torna as cidades mais aprazíveis.

No entanto, eu aqui no meu cantinho de um décimo de hectare, com a quilometra­gem que já tenho, sou ainda suficiente­mente subdesenvo­lvido para me cuidar em não experiment­ar uma viagem num carro a electricid­ade. Quem sabe se pode dar choque? Há tanta coisa imprevisív­el. A minha vantagem maior é a humanidade livrar-se das guerras motivadas pelo petróleo e guardar o meu petromax como um antigo e fiel companheir­o e lutador contra os apagões e que passará a peça de museu. E o petróleo não poderá ser aproveitad­o para outros fins no domínio da cosmética, medicina, detergente­s, etc.? No mais, deviam inventar baterias dessas para pessoas, aí eu compraria uma para remediar…

O carro eléctrico vai mudar a fisionomia das cidades, começando por aliviar o trânsito, os engarrafam­entos e o stress. Ele quase não faz barulho e as pessoas estão habituadas a atravessar as ruas com os dedos no telefone celular só reagindo ao barulho do automóvel

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