Jornal de Angola

A montanha voltou a parir um rato

- Victor Carvalho

O julgamento do processo da denominada ”Operação Fizz”, onde a justiça portuguesa pretendeu envolver o antigo Vice-Presidente angolano, Manuel Vicente, está a chegar ao fim tendo o Ministério Público luso pedido penas de prisão suspensas para os dois principais réus.

Ao fim de quase seis meses de um julgamento politicame­nte mediatizad­o, ficou claro que a partir do momento em que o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu remeter para Luanda a parte do processo que envolvia o nome de Manuel Vicente, o caso ficou sem os condimento­s suficiente­mente “atractivos” para mobilizar a atenção justiceira da imprensa portuguesa, o que contribuiu para diminuir a pressão sobre os restantes acusados.

Estes pedidos de pena suspensa de prisão para aqueles que eram inicialmen­te apontados como “artífices” de “maquiavéli­cas maquinaçõe­s” que envolviam responsáve­is angolanos, provam que a “montanha” criada com milhares de páginas que nos diziam estar repletas de “inequívoca­s provas acusatória­s” acabou, mais uma vez, por parir um “rato”.

E um “rato” que de tão envergonha­do ficar por se ver transforma­do num simples e mero pedido de aplicação de penas suspensas, aparece como que timidament­e retirado de uma cartola feita à medida das circunstân­cias para tentar salvar a face de quem construiu convicções com base em simples suposições, tristement­e assumidas como tendo sido retiradas da internet.

Poderá dizer-se, e certamente será dito por quem conduziu todo o processo da “Operação Fizz”, que a justiça fez o seu trabalho. É evidente que sim. Fez o seu trabalho e desmascaro­u, inequivoca­mente, aqueles que manobraram nos bastidores para criar um irritante caso político com o único objectivo de colocar em causa as relações entre os dois países.

Tal como em Portugal, também em Angola a política não se envolve nos casos da justiça. Mas, tal como lá, também cá se entende que a justiça não se deve intrometer nos assuntos da política.

E foi por se perceber que a justiça estava a politizar um processo para nele envolver um antigo Vice-Presidente da República que as autoridade­s angolanas agiram na defesa do seu direito de não ver o nome de um cidadão nacional usado para violar acordos bilaterais livremente assinados e assumidos como válidos.

Os pedidos de sentença apresentad­os pelo Ministério Púbico nas alegações finais do processo mostram, inequivoca­mente, que falhou a táctica de promoção de cirúrgicas fugas de informação para criar na opinião pública a convicção da culpabilid­ade dos acusados, sobretudo de Manuel Vicente, e com ele de Angola.

Essa narrativa desmoronou-se por completo quando o nome do antigo Vice-Presidente angolano deixou de ser constantem­ente citado pela imprensa portuguesa pelo facto do seu processo ter transitado para Angola, onde aliás tarda em chegar.

De esquebra, a justiça portuguesa disse agora querer investigar o banqueiro angolano Carlos Silva, uma decisão que tem todo o sabor de um mau perder que apenas merece um sorriso malicioso por parte de quem acompanhou o processo.

Tal como acontece com as telenovela­s, sejam brasileira­s, mexicanas ou turcas, os seus autores sentiram a necessidad­e de abreviar o fim da história tendo o cuidado acrescido de não deixar pontas soltas, como o pedido de penas de prisão efectivas que pudessem motivar reabertura­s inconvenie­ntes de processos, que se poderiam revelar traumatiza­ntes e com efeitos finais colaterais de imprevisív­el avaliação.

Em todo este processo, é justo salientar a postura do governo português que, tal como o angolano, não se querendo intrometer nos caminhos da justiça, nunca escondeu o seu incómodo pela irritante situação que persistia de modo totalmente inadequado.

Tal como acontece com as telenovela­s, sejam brasileira­s, mexicanas ou turcas, os seus autores sentiram a necessidad­e de abreviar o fim da história tendo o cuidado acrescido de não deixar pontas soltas

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