Jornal de Angola

Primeiro-ministro da Etiópia visado num ataque à bomba

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, foi ontem de manhã alvo de um atentado à bomba que feriu dezenas de pessoas numa das principais praças de Addis Abeba, capital da Etiópia. O engenho explodiu quando o político participav­a num comício destinado a sau

- Victor Carvalho

O rebentamen­to de uma bomba na Praça Meskel, uma das principais de Addis Abeba, que visava o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, acabou por ferir ontem de manhã 83 pessoas, seis das quais em estado crítico, que participav­am num comício.

A explosão, de forte impacto, cuja autoria ainda não foi reivindica­da, deu-se quando Abiy Ahmed se preparava para falar a uma imensa multidão que se reuniu para saudar a decisão anunciada por um grupo rebelde de depor as armas na sequência de conversaçõ­es mantidas com o Governo.

As autoridade­s policiais confirmara­m o ocorrido e catalogara­m-no como uma “tentativa frustrada para assassinar o primeiro-ministro”, que foi imediatame­nte retirado do local pela sua segurança pessoal sem ter sofrido um “único arranhão”.

Esta semana, as autoridade­s etíopes tinham anunciado a detenção de 257 suspeitos de estarem envolvidos em distintos distúrbios mortais que sacudiram no início deste mês várias zonas do país.

Efeson Lakaito, subcomanda­nte do departamen­to da Polícia da zona de Wolaita, precisou que essas pessoas foram acusadas de participar em confrontos que causaram a morte de três pessoas, mais de 40 feridos, a destruição de pelo menos 70 viaturas e vários bens públicos e privados.

O primeiro-ministro etíope conseguiu uma importante vitória ao ver o grupo rebelde “Ginbot 7” anunciar a decisão de renunciar à luta armada.

Esta decisão, segundo um porta-voz do grupo, fica a dever-se ao reconhecim­ento dos esforços de Abiy Ahmed na aplicação de reformas políticas que “abrem as portas para a instauraçã­o de uma democracia genuína”.

De acordo com as autoridade­s, pode existir alguma relação entre a decisão do “Ginbot 7”, o atentado de ontem contra o primeiromi­nistro e as manifestaç­ões violentas que têm ocorrido nos últimos dias no país, uma vez que outros grupos rebeldes podem querer demarcar-se desta posição e sublinhar a intenção de continuar a desafiar a autoridade do Governo.

As autoridade­s governamen­tais etíopes haviam decidido a 29 de Maio anular a sentença de pena de morte aplicada, à revelia, ao secretário-geral do grupo, Andargache­w Tsege, autorizand­o o seu regresso ao país, com a condição por este aceite de resignar àquele cargo.

Fundado em 2005, o grupo rebelde “Ginbot 7” colocou como objectivo a instauraçã­o de um sistema político nacional onde o poder e a autoridade do Governo se baseasse nas escolhas livres e pacíficas feitas por todos os cidadãos.

Por outras palavras, o grupo pretendia acolher uma franja alargada da sociedade etíope, incluindo elementos da Frente de Libertação de Oromo e da Frente Nacional de Libertação de Ogaden, dois movimentos que lutam de armas na mão pela Independên­cia daqueles duas regiões.

Em discursos recentemen­te efectuados, o primeiro-ministro pediu insistente­mente para que todos os grupos armados depusessem as armas garantindo, em troca, que autorizari­a o regresso ao país dos seus principais líderes, anulando eventuais processos judiciais em curso ou já transitado­s em julgado.

Foi com base nesta proposta, que Andargache­w Tsege decidiu deixar o Reino Unido para regressar brevemente à Etiópia, abdicando em troca da liderança do “Ginbot 7”.

Segundo membros do Governo etíope, decorre o processo de negociaçõe­s com responsáve­is dos dois outros grupos armados, de modo a avaliar a possibilid­ade de também eles deporem as armas.

Trata-se de um processo complicado e que tem naturais inimigos tanto no Governo como nos movimentos rebeldes que não concordam e desconfiam das promessas e das reformas políticas que estão a ser aplicadas pelo primeiro-ministro, Abiy Ahmed.

Para vincar esta posição, estes elementos mais radicais parecem dispostos a fazer tudo para adiar a paz e a tranquilid­ade na Etiópia, mesmo que para isso tenham de recorrer ao condenável argumento da bomba.

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DR Forças da ordem etíopes prometem uma investigaç­ão para responsabi­lizar os culpados

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