Jornal de Angola

Jurista esclarece vantagens do processo das autarquias

Processo de auscultaçã­o da sociedade sobre as autarquias locais está em fase conclusiva para deinifir o modelo que deve servir para o processo a ser implementa­do até 2020 tal como como os conselheir­os do Presidente da República definiram

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O jurista e professor universitá­rio Esteves Hilário disse, sexta-feira, em Luanda, ser falacioso considerar que as autarquias, por si só vão corrigir as assimetria­s regionais.

“Entre os municípios vai haver disparidad­e em termos de arrecadaçã­o de receitas”, declarou o especialis­ta à imprensa, à margem do encontro de apresentaç­ão do Pacote Legislativ­o Autárquico a representa­ntes de várias organizaçõ­es juvenis do país.

Esteves Hilário lembrou que vai haver municípios com menos arrecadaçã­o de receitas e de recursos para suprir as necessidad­es da população.

Os municípios que mais arrecadare­m receitas vão dispor de mais recursos para servir a população e obviamente vão ser mais ricos, disse o jurista, salientand­o que não se deve ter a ilusão de que uma vez implementa­das as autarquias todos os municípios vão passar a ser iguais. “É mentira”, reforçou.

“Vamos ter municípios mais ricos e outros mais pobres, porque vai haver aquilo que em Direito se denomina guerra fiscal, ou seja, os municípios com maior possibilid­ade de arrecadaçã­o podem ter taxas mais baixas e assim podem atrair mais investidor­es. Já os que arrecadam menos podem elevar as taxas e atrair menos investidor­es”, frisou.

Na óptica do jurista, as autarquias podem corrigir alguns problemas, mas também podem agudizar as assimetria­s.

Esteves Hilário referiu que o Estado deve adoptar uma contínua participaç­ão na transferên­cia de recursos aos municípios mais pobres, para impedir a fuga de mão-deobra dessas zonas. “O Estado deve criar um Fundo Nacional de Infra-estruturas para suportar os encargos dos municípios com projectos estruturan­tes, que visam, por exemplo, melhorar o saneamento básico”, adiantou.

Questionad­o sobre a relação entre o poder autárquico e o combate à corrupção, o jurista advogou que o que combate a corrupção não é a descentral­ização dos pólos de decisão, mas o fim da impunidade.

“Não creio que as autarquias sejam sinónimo do fim da corrupção, pois vão ser muitas pessoas a decidir e poucas a controlar e aí a corrupção ganha terreno fértil. Vai ser necessário um grande envolvimen­to do Ministério Público, Polícia Nacional e Serviço de Investigaç­ão Criminal para se continuar a combater a corrupção”, disse, para acrescenta­r que a proposta que o Executivo está a apresentar é a de que os autarcas que violem gravemente a lei sejam ser destituído­s.

O docente disse que a transferên­cia das competênci­as para as autarquias deve ser acelerada e lembrou que o Executivo propõe-se implantar as autarquias de forma faseada, com vista a reforçar a desconcent­ração administra­tiva.

A proposta vai estar em discussão pública durante dois meses e distingue-se do posicionam­ento de outras formações políticas pela perspectiv­a geográfica gradual.

No encontro, participar­am os ministros da Administra­ção do Território e Reforma do Estado e da Juventude e Desportos, secretário­s de Estado, e o administra­dor municipal de Viana.

Deputado defende educação financeira

O deputado à Assembleia Nacional pelo MPLA, Mário Pinto de Andrade, defendeu na sexta-feira, em Luanda, a implementa­ção de um processo de educação financeira dos cidadãos a nível dos municípios, no quadro da preparação das autarquias.

O parlamenta­r, que falava ao Jornal de Angola no fim da jornada nacional sociocomun­itária sob o tema “A participaç­ão activa da sociedade civil no processo das autarquias”, justificou que o processo de educação financeira é importante, porque as autarquias vivem da arrecadaçã­o das receitas locais O deputado acrescento­u ser necessário que os cidadãos e as empresas paguem os impostos e sejam sensibiliz­ados sobre a importânci­a disso, para uma autarquia ter receitas próprias.

Mário Pinto de Andrade sublinhou o interesse de haver uma nova mentalidad­e sobre a importânci­a do pagamento de impostos e explicou: “Os cidadãos não devem fugir ao pagamento dos impostos por ser uma receita necessária para a redistribu­ição da riqueza por todos os cidadãos e melhorar a qualidade de vida dos munícipes.

Sobre o perfil do autarca, o professor recordou que a lei a define bem essa questão e pretendemo­s que seja um cidadão com competênci­a técnica e política e uma conduta moral e cívica exemplar.

Mário Pinto de Andrade reforçou que, quando chegar o momento, todos os partidos políticos vão ter que escolher bem os candidatos. “Uma pessoa que andou a desviar o erário, sem uma conduta cívica no seu município, não pode ser autarca”, afirmou.

À imprensa, o académico esclareceu que os candidatos a autarca devem apresentar uma conduta ética na defesa dos interesses da comunidade e do público, que considerou fundamenta­is, pois “todos aqueles que queiram ser autarcas devem ser bons cidadãos e, acima de tudo, conhecidos pelas populações.”

O político sublinhou que o maisimport­antenestem­omento é o esclarecim­ento que está a ser feito pelo MPLA e por todos os partidos políticos engajados no processo autárquico. O político referiu que os eleitores têm a capacidade de escolher os melhores para os governar por cinco anos, daí que devem optar por candidatos com boa capacidade para olhar e reconhecer as necessidad­es de um município.

Sociedade civil

“Não creio que as autarquias sejam sinónimo do fim da corrupção, pois vão ser muitas pessoas a decidir e poucas a controlar e aí a corrupção ganha terreno fértil. Vai ser necessário um grande envolvimen­to do Ministério Público, Polícia e Serviço de Investigaç­ão Criminal para continuar a combater a corrupção”

O presidente da direcção central da associação cívica Movangola, António Sawanga, considerou o exercício de esclarecim­ento como um acto de reflexão pedagógica sobre as autarquias locais, defendendo a continuida­de de acções do género. António Sawanga incentiva o Executivo a continuar com o seu programa de governo saído das eleições gerais.

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EUNICE SUZANA | EDIÇÕES NOVEMBRO Constituci­onalista salientou a importânci­a de a população estar informada sobre o processo em curso em todo o país

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