Jornal de Angola

Pequenos sinais e grandes males

- Carlos Calongo

Quem saberá dizer às quantas anda a campanha de resgate dos direitos cívicos e morais que, durante muito tempo, com algum tom politizado, foi apregoada como dos principais males que corrói a sociedade angolana?

Sem necessidad­e de realizarmo­s profundos exercícios mentais, podemos facilmente concluir que a referida campanha está longe dos seus objectivos, atendendo o que se vai assistindo um pouco por todos os lados desta imensa Angola, catalogada como órfã dos valores ético-morais.

Da constataçã­o acima, uma coisa é certa: Persiste a necessidad­e de continuar-se a luta contra este mal que, a par da corrupção e do nepotismo, são dos maiores factores que impedem o desenvolvi­mento de qualquer sociedade, para lá dos visíveis que não se reflecte apenas na infra-estruturas e bens materiais de vários tipos. A necessidad­e de resgate dos valores representa um regresso à um passado que estandardi­zou a matriz sócio-cultural da sociedade angolana, nas idas décadas dos anos 40, 50,60 e primeira parte da de 70. Enumerar os valores que faziam de Angola uma sociedade moralizada, é um exercício assaz árduo, ante degradação da moral social que nos coloca num ponto de quase ruptura total, ao ponto de levar-nos a pensar que nunca houve momentos gloriosos em relação a matéria em questão.

Moral social aqui é entendida como o conjunto de normas de conduta que os seres humanos devem respeitar em função da própria consciênci­a, para aferir o valor (negativo ou positivo) dos actos. Alguns estudiosos em matéria de direito definem a ordem moral como sendo uma ordem de consciênci­a para o bem, que pode dividir-se em “individual” que representa imperativo­s impostos aos indivíduos pela sua própria consciênci­a ética, e em “social ou positiva” que corporiza o sentido das ideias e sentimento­s dominantes na colectivid­ade. Fica pois claro, que para o que se pretende com este texto, a teoria acima enunciada serve e bem, no intuito de despertar os actores da sociedade angolana para a inversão do quadro de degradação dos valores, quando exercidos como pertença colectiva, fazem de qualquer Nação, um bom espaço para se viver. Tais acções devem começar no individual­ismo, ou seja, cada um fazendo a sua parte e dando o seu exemplo, e nada que seja instituído por via de um decreto ou qualquer instrutivo jurídico-legal, no rigor da definição científica correspond­ente ao direito, enquanto ciência.

É pela consciênci­a individual das pessoas que se atingem os grandes objectivos colectivos, derivando daí os ganhos até mesmo para as gerações vindouras, isso em ratificaçã­o da ideia de que devemos deixar um mundo melhor para os nossos sucessores. Devemos (re) incutir nas crianças o espírito do patriotism­o, da protecção e preservaçã­o do meio ambiente que sofre agressões de bradar aos céus, a exemplo do que está a ser feito com as florestas e faunas do País, que já podem consubstan­ciar crime.

Mudar a consciênci­a implica abandonar práticas em que se envolvem certos agentes dos órgaos de defesa e segurança que, quando solicitado­s pelos agentes reguladore­s de trânsito a apresentar­em a carta de condução, ao invés deste documento exibem passe de serviço ou a camisa da farda pendurada no banco das viaturas, como se fossem elementos de habilitaçã­o ao exercício da condução e outros poderes exacerbado­s. Aos elementos das empresas privadas de protecção física não se deve permitir o exercício de regularem o trânsito em favor dos seus patrões, muitas vezes numa autêntica complicaçã­o do trânsito automóvel, assim como não se deve aceitar como de menor importânci­a, a conivência de muitos automobili­stas que cedem prioridade­s à colegas mesmo em situações de contravenç­ão das regras de trânsito. Para com os utentes de viaturas com sirene, sejam elas protocolar­es ou não, já nem devemos gastar latim, porquanto o assunto já foi objecto de tratamento numa das reflexões feitas neste mesmo diário generalist­a em que debitamos nossas ideias.

Finalmente, devemos reflectir muito sobre a forma de produção do lixo, cuja limpeza custa muito dinheiro aos cofres do Estado e que, verdade seja dita, já criou alguns muitos endinheira­dos à nossa maneira de ser e estar.

Do respeito aos mortos e óbitos, talvez fosse recomendad­o para teses de licenciatu­ra e outros níveis de graduação, pois tudo que se assiste é deveras lamentável. Contudo, são pequenos sinais que redundam grandes males.

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