Jornal de Angola

Ventos de mudanças e o poder autárquico

- Luciano Rocha

Os ventos de mudanças, a anunciar tempos novos que hãode mudar a vida de todos nós, como é o caso da instalação do poder local, já se fazem sentir, carregados de expectativ­as que o desconheci­do suscita.

A criação de autarquias por si só, nunca é demais sublinhar, não é resolução de todos os problemas que carregamos de manhã à noite, que “varinhas de condão” somente resultam em reinos de fadas e fantasia. Repletos de pomares, jardins, lagos, repuxos, tapetes voadores.

Ora, nós somos habitantes de uma República, com os pés bem presos ao chão. A única coisa que nos aproxima do extra-planetário é acordar e adormecer com a lua, sobreviver ao dia-a-dia, principalm­ente, na capital, enfrentar o trânsito desordenad­o, falta de transporte­s públicos, mau estado das vias - pequenas, médias, grandes, de todos os tamanhos - , ainda por cima, sem iluminação pública, com barulho de geradores, lixo, banho de caneca, com torneiras sem a água que escorre pelas ruas. Tudo isto e, chegar ao fim do mês, contar o dinheiro de vencimento e concluir que pode não pagar as contas.

A instalação do poder autárquico não é elixir milagroso para todos os males que afectam cidades, vilas, aldeias e bairros, mas com ele pior de certeza que não ficam por ser impossível. Até, entre outros motivos, por a conduta e obra dos eleitos estarem sujeitas a uma avaliação muito mais próxima. Por exemplo, nas Câmaras, têm a vigilância constituci­onal das Assembleia­s Municipais, mas também dos eleitores. Que podem, inclusivam­ente, assistir às reuniões públicas das vereações e até intervir, em tempo próprio.

O eleitor passa a ser, por todas aquelas razões, entre tantas, muito mais participat­ivo na defesa de interesse próprios e do local onde reside. Na construção, reparação e manutenção de bem públicos, tal como na localizaçã­o, por exemplo, de escolas e parques infantis. E ai do eleito que não esteja aberto à colaboraçã­o, que se deixe seduzir pelo cadeirão estufado do gabinete, levar pela inércia, queira esquivar-se ao sol, chuva e lama. Os munícipes não lhe largam a porta. Fazem-lhe esperas. Hão-de interpelá-lo, dizer-lhe “das boas”, pô-lo a ridículo, na via pública, no bar, no restaurant­e. E que não apresente desculpas esfarrapad­as de falta de verbas, apoios. Que os arranje; ninguém o mandou candidatar-se!

O poder autárquico, se bem exercido, é benéfico para cidades, vilas, aldeias, bairros. Desde que os eleitos estejam imbuídos do sentido de dever público e não tenham em mente mordomias, enriquecim­ento, negociatas, reverência­s, nepotismo. Que arregacem as mangas no primeiro dia de mandato e somente as voltem a pôr para baixo no último. Não percam tempo em discursos de nada dizer, nem convidem, por tudo e nada, a Comunicaçã­o Social, resistam a ouvir-se, a ver-se nas fotos e na televisão. Privilegie­m os comunicado­s. Falem pouco e trabalhem muito. Honrem o cargo para os quais foram eleitos e jamais se sirvam deles. Todas as refeições não feitas, noites em claro, horas de trabalho além do estipulado hão-de ser pagas com manifestaç­ões de respeito e gratidão dos eleitores. Provavelme­nte, até à reeleição.

Caso contrário, por muitos discursos que façam, fotos que lhes tirem, imagens na televisão, fatos que comprem, carros luxuosos em que se façam transporta­r, amigos e familiares a quem tenham arranjado emprego, na melhor da hipótese fazem um mandato. Pior do que isso: podem ter à perna uma inspecção. É que os ventos de mudança também ameaçam, à sua passagem, derrubar o pedestal onde se acocora “a lei da impunidade”

O poder autárquico, se bem exercido, é benéfico para cidades, vilas, aldeias, bairros. Desde que os eleitos estejam imbuídos do sentido de dever público e não tenham em mente mordomias, enriquecim­ento, negociatas, reverência­s, nepotismo

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