Jornal de Angola

Eritreia envia delegação para negociar com Etiópia

Para tentar avançar para a resolução de um conflito que dura há mais de 20 anos, a Eritreia enviou uma delegação à Etiópia na esperança de sarar as feridas de um prolongado conflito militar

- Victor Carvalho

O Presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, enviou ontem uma delegação governamen­tal a Addis Abeba para discutir com as autoridade­s etíopes as melhores formas de colocar um ponto final num conflito militar fronteiriç­o que opõe os dois países há mais de 20 anos.

Chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeir­os, Osman Saleh, trata-se da primeira delegação eritreia de alto nível que pisa o território etíope para acertar as melhores formas de terminar com este conflito fronteiriç­o. Abertura etíope O Presidente eritreu disse que se sentiu incentivad­o a dar este passo pelos “sinais positivos” que foram revelados pelo novo primeiromi­nistro etíope, Abiy Ahmed, que sábado escapou a um atentado à bomba efectuado quando discursava numa das principais praças de Addis Abeba. No início do mês, Abiy Ahmed referiu-se ao conflito com a Eritreia mostrando-se disposto a cumprir todas as disposiçõe­s do denominado Tratado de Argel, assinado em 2000.

Esse tratado era para colocar um ponto final ao conflito armado entre os dois países e durou dois anos, ao longo dos quais morreram mais de 100 mil pessoas e ficaram ainda mais fragilizad­os dois dos mais pobres países do continente africano.

A verdade é que, apesar desse tratado, continua a registar-se escaramuça­s esporádica­s, mas de larga escala, entre os dois países e de ambos os lados da fronteira. Um dos pontos de maior desacordo é o estatuto da cidade fronteiriç­a de Badme, controlada pela Etiópia, mas que a Eritreia reivindica à luz do referido tratado.

A “chave” que parece ter aberto, de novo, as portas do diálogo foi a declaração do primeiro-ministro etíope, segundo a qual estava disposto a aceitar a jurisdição eritreia sobre a cidade.

“O sofrimento em ambos os lados é indescrití­vel porque o processo de paz está bloqueado”, disse o chefe do gabinete de Abiy Ahmed, Fitsum Arega.

Quase de imediato, o Presidente eritreu, Isaias Afewerki, anunciou o envio de uma delegação que desde ontem se senta à mesa com responsáve­is etíopes.

Porém, a verdade é que na Eritreia nem todos acreditam na suposta boa vontade de Isaias Afewerki, para quem a indefiniçã­o nas fronteiras entre os dois países e a manutenção de um estado de guerra de baixa intensidad­e têm servido de justificaç­ão para manter um dos regimes mais autoritári­os em África, instituind­o um sistema de recrutamen­to militar obrigatóri­o para todos os homens que pode durar décadas.

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DR Presidente eritreu Isaias Afewerki quer pôr fim ao conflito que opõe há décadas os dois países

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