Eritreia envia delegação para negociar com Etiópia
Para tentar avançar para a resolução de um conflito que dura há mais de 20 anos, a Eritreia enviou uma delegação à Etiópia na esperança de sarar as feridas de um prolongado conflito militar
O Presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, enviou ontem uma delegação governamental a Addis Abeba para discutir com as autoridades etíopes as melhores formas de colocar um ponto final num conflito militar fronteiriço que opõe os dois países há mais de 20 anos.
Chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Osman Saleh, trata-se da primeira delegação eritreia de alto nível que pisa o território etíope para acertar as melhores formas de terminar com este conflito fronteiriço. Abertura etíope O Presidente eritreu disse que se sentiu incentivado a dar este passo pelos “sinais positivos” que foram revelados pelo novo primeiroministro etíope, Abiy Ahmed, que sábado escapou a um atentado à bomba efectuado quando discursava numa das principais praças de Addis Abeba. No início do mês, Abiy Ahmed referiu-se ao conflito com a Eritreia mostrando-se disposto a cumprir todas as disposições do denominado Tratado de Argel, assinado em 2000.
Esse tratado era para colocar um ponto final ao conflito armado entre os dois países e durou dois anos, ao longo dos quais morreram mais de 100 mil pessoas e ficaram ainda mais fragilizados dois dos mais pobres países do continente africano.
A verdade é que, apesar desse tratado, continua a registar-se escaramuças esporádicas, mas de larga escala, entre os dois países e de ambos os lados da fronteira. Um dos pontos de maior desacordo é o estatuto da cidade fronteiriça de Badme, controlada pela Etiópia, mas que a Eritreia reivindica à luz do referido tratado.
A “chave” que parece ter aberto, de novo, as portas do diálogo foi a declaração do primeiro-ministro etíope, segundo a qual estava disposto a aceitar a jurisdição eritreia sobre a cidade.
“O sofrimento em ambos os lados é indescritível porque o processo de paz está bloqueado”, disse o chefe do gabinete de Abiy Ahmed, Fitsum Arega.
Quase de imediato, o Presidente eritreu, Isaias Afewerki, anunciou o envio de uma delegação que desde ontem se senta à mesa com responsáveis etíopes.
Porém, a verdade é que na Eritreia nem todos acreditam na suposta boa vontade de Isaias Afewerki, para quem a indefinição nas fronteiras entre os dois países e a manutenção de um estado de guerra de baixa intensidade têm servido de justificação para manter um dos regimes mais autoritários em África, instituindo um sistema de recrutamento militar obrigatório para todos os homens que pode durar décadas.