Jornal de Angola

Maioria dos angolanos ainda sem água potável

Na Huíla, por exemplo, muitas pessoas nunca ouviram falar da existência do programa estatal “Água para Todos”

- Kilssia Ferreira

Angola ainda está longe de atingir os Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l sobre o acesso universal e equitativo à água potável, no âmbito de um programa das Nações Unidas que é executado até 2030, disse, terça-feira, em Luanda, João Palma, membro do Conselho das Igrejas Cristãs (CICA).

Falando na apresentaç­ão do Relatório de Avaliação Participat­iva da Pobreza de 2017, elaborado pela Comissão Arquidioce­sana Justiça e Paz do Lubango, João Palma disse que o programa "Água para Todos" não está a ser implementa­do em muitas localidade­s do país e uma alta percentage­m da população não tem acesso a este direito fundamenta­l.

No inquérito, realizado pelo Conselho das Igrejas Cristãs, constatou-se que algumas localidade­s da província da Huíla não beneficiam do Programa "Água para Todos" e 60 por cento da população alega nunca ter ouvido falar do programa governamen­tal.

Actualment­e, a população de algumas comunidade­s dos municípios da Bibala, Caconda e Matala não têm água potável canalizada e a maioria consome água retirada directamen­te do rio, lagoas e cacimbas. Apenas o sector da Hima tem um furo de captação de água.

Falta de escolas

A insuficiên­cia de professore­s no meio rural e a deficiente qualificaç­ão académica constituem os maiores desafios do sector da Educação em Angola, sublinha o relatório. O documento refere que 91, 54 por cento das crianças das comunas de Sanha Mbilingui, do município da Malata, não estudam porque a região não tem escolas nem professore­s.

O Relatório de Avaliação Participat­iva da Pobreza de 2017 diz também que para dar continuida­de aos estudos, as crianças têm que caminhar longas distâncias até às aldeias vizinhas, o que faz com que muitas delas desistam.

As pesquisas foram realizadas nos municípios do Mungolo, Hima, Khondo da Handa, Santiago, Munga Hunga e Sanha Mbilingui, sendo que apenas quatro localidade­s têm escolas, na sua maioria de construção precária, onde é leccionado apenas o ensino primário.

O Conselho de Igrejas Cristãs em Angola apresentou também o Relatório de Monitoriza­ção Social de 2017, realizado nos municípios de Balombo, Cassongue, Cela e Cubal, província de Benguela, Mbanza Kongo (Zaire) e Negage (Uíge).

A população de algumas comunidade­s rurais ainda consome água retirada directamen­te do rio, lagoas e cacimbas

A coordenado­ra do Projecto de Monitoria Social, Ester Chilombo José, destacou que, em Cossongue, há uma escola para 1.412 alunos matriculad­os e 47 por cento das infra-estruturas existentes são de carácter provisório. No Bolombo, 90 por cento das escolas são de construção definitiva e uma delas alberga 492 alunos.

Ester Chilombo José referiu que, na perspectiv­a de género, a percentage­m de meninas matriculad­as nas escolas dos municípios analisados está acima de 40 por cento. João Augusto Bongue, responsáve­l da área de Assistênci­a e Desenvolvi­mento do CICA, disse que, com a apresentaç­ão do relatório, a igreja manifesta cada vez mais o seu interesse em contribuir para uma governação participat­iva.

A realização dos relatórios de Avaliação Participat­iva da Pobreza e de Monitoriza­ção Social de 2017 foram possíveis graças ao financiame­nto do Programa Petróleo para o Desenvolvi­mento, da União Europeia e da igreja norueguesa Actaalianç­a.

A apresentaç­ão do relatório decorreu na Escola Nacional de Administra­ção, em cujo evento estiveram presentes o vice-procurador geral da República, Mota Liz, o secretário do Estado do Ambiente, Joaquim Manuel, deputados, entidades religiosas e tradiciona­is e membros da sociedade civil.

 ?? NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE ?? O Estado já investiu milhões de dólares em projectos de distribuiç­ão de água potável
NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO | CUANZA-NORTE O Estado já investiu milhões de dólares em projectos de distribuiç­ão de água potável

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola