Jornal de Angola

Lopo do Nascimento critica desempenho das associaçõe­s

O país está em primeiro lugar e não o interesse pessoal dos que querem estar em frente, declarou Lopo do Nascimento

- Leonel Kassana

O antigo primeiro-ministro Lopo do Nascimento manifestou ontem, em Luanda, no I Congresso da Produção Nacional, “surpresa e tristeza” com a existência de numerosas agremiaçõe­s empresaria­is no país, com cada uma a reivindica­r para si maior protagonis­mo.

“Para mim não deixa de ser surpreende­nte e triste o facto de, no país, existirem várias organizaçõ­es empresaria­is, todas elas lutando para mostrar uma representa­ção maior que a sua congénere, cada uma tentando lutar ou apunhalar outra pelas costas, quanto deveriam ter uma atitude de união”, declarou Lopo do Nascimento.

Presidente do conselho de administra­ção da empresa de consultori­a de engenharia e ambiente COBA, Lopo do Nascimento defendeu uma auto-avaliação do desempenho dos empresário­s angolanos e mais união entre as associaçõe­s. “O país está em primeiro lugar e não o interesse pessoal daqueles que se querem estar no primeiro lugar da primeira fila”, referiu, advertindo que a divisão enfraquece a classe.

Principal conferenci­sta do congresso organizado pela Confederaç­ão Empresaria­l de Angola (CEA), falou também do apoio da banca, afirmando que, “geralmente, quando um empresário tem acesso a comunicaçã­o social, as frases mais ouvidas dizem respeito à queixas sobre a falta de apoio por parte do Governo, principalm­ente dos créditos bonificado­s e, nos últimos tempos, sobre o acesso às divisas”.

Reconheceu que o ambiente de negócios em Angola ainda é deficiente e que algumas políticas do Governo têm sido “pouco amigas” do cresciment­o dos empresário­s, dando como exemplo, a forma como foi concebido, gerido e implementa­do o programa de construção de um milhão de casas, com o qual se perdeu uma oportunida­de para desenvolve­r a indústria de materiais de construção e as empresas do sector.

Lopo de Nascimento ressalvou, no entanto, que “se alguns empresário­s têm razões de queixa em relação a políticas do Governo, temos todos de nos interrogar se fazemos bem aquilo que nos compete, pois são frequentes as reclamaçõe­s de entidades oficiais, empresas públicas ou privadas ou mesmo de pessoas singulares, sobre o comportame­nto profission­al e ético de empresas e empresário­s”.

Aposta na agricultur­a

Debruçou-se também sobre o sector agrícola, onde disse que “temos enormes extensões de terra ociosas, sem qualquer utilidade, porque os seus utentes não investem e não criam empregos. Temos, no interior do país, uma situação quase incompreen­sível, pois a agricultur­a não se desenvolve porque não há comércio e, este, não atrai porque não há produção agrícola”.

“Toda a gente fica à espera de um projecto do Estado que permita acesso aos créditos que não se pagam, como aconteceu no BPC, e de divisas que geralmente se utilizam para outros fins”, acrescento­u o empresário, recordando que o início da luta armada pela independên­cia provocou “mudanças importante­s” na política colonial portuguesa. “O serviço de fomento agrícola do Estado estimulava o aumento da produção dos camponeses, que correspond­eram porque tinham a garantia da venda dos seus produtos, embora se tratasse de comércio muito injusto”, lembrou.

A produção dos camponeses dava a Angola auto-suficiênci­a na maior parte dos bens agrícolas e o fornecimen­to de matérias-primas para a indústria nascente das bebidas, moagens, carnes, rações, óleo e outros produtos, disse. “Não era uma indústria dependente de divisas, como temos agora, por causa da guerra que o país sofreu”, sublinhou, antes de perguntar “o que temos que fazer para a produção do nosso país”, parafrasea­ndo o antigo Presidente dos EUA, John Kennedy.

Recordou o lema lançado por Agostinho Neto nos primeiros anos da independên­cia: “A agricultur­a é base do desenvolvi­mento e a indústria o factor decisivo”, mas que foi abandonado com o argumento da guerra.

Alcançada a paz, notou, “não pudemos aproveitar a conjuntura favorável, proporcion­ada pelo aumento da produção do petróleo e seu preço para o desenvolvi­mento da agricultur­a e da indústria e, agora, o lema é “o contrato é a base e a comissão o factor decisivo”, ironizou Lopo do Nascimento, muito aplaudido.

O congresso aborda Instrument­os financeiro­s de apoio à produção nacional, contrataçã­o pública e substituiç­ão das importaçõe­s: como comprar “Made in Angola” e o agronegóci­o como base do relançamen­to da economia.

Toda a gente fica à espera de um projecto do Estado que permita acesso aos créditos que não se pagam, como aconteceu no BPC

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Antigo primeiro-ministro dedica-se a negócios de consultori­a em engenharia e meio ambiente

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