Guerra do petróleo ameaça paz na Líbia
A disputa sobre quem tem o poder de explorar e exportar as importantes reservas petrolíferas da Líbia está prestes a despoletar uma nova guerra entre as diferentes facções armadas, depois de o poderoso marechal Khalifa Haftar ter decidido favorecer as forças hostis ao Governo entregandolhes os terminais e o porto que estavam sob controlo do Exército
A decisão tomada esta semana pelo marechal Khalifa Haftar, chefe do Exército Nacional Líbio (ANL), de entregar às Forças Paralelas do Leste, hostis ao Governo, a gestão das instalações que se encontram sob controlo das forças armadas está a provocar uma forte controvérsia e a levantar a possibilidade de a situação de instabilidade agravar-se.
Numa primeira reacção, a empresa de petróleo estatal da Líbia (NOC), criticou em Tripoli a decisão do marechal Haftar, considerando ilegal qualquer exploração petrolífera por parte das chamadas Forças Paralelas do Norte.
Mustafa Sanallah, director da NOC, disse mesmo que apenas a empresa estatal tem capacidade técnica e o reconhecimento legal para gerir a produção e a exploração petrolífera do país.
“As resoluções do Conselho de Segurança da ONU são muito claras quando referem que as instituições que tratam da produção e da exportação de petróleo devem permanecer sob controlo executivo da NOC e sob a supervisão única do Governo de União Nacional (GNA), reconhecido pela comunidade internacional”, sublinhou Sanallah.
Financiamento ao terrorismo
Mas, a verdade é que o Exército líbio parece não confiar na capacidade de a NOC gerir o negócio do petróleo, por um lado e, por outro, duvida que o próprio Governo de União Nacional tenha poder para garantir a defesa dos terminais petrolíferos.
Para justificar a sua decisão, o marechal Haftar disse recentemente que diferentes grupos armados rivais e terroristas eram financiados com a renda do petróleo, depois de as forças de Ibrahim Jadhran terem atacado os terminais petroleiros de Ras Lanuf e Al Sedra.
Ibrahim Jadhran chegou a comandar os Guardas das Instalações de Petróleo (GIP), responsáveis pela segurança dos terminais. Ele conseguiu bloquear as exportações de petróleo desta região durante dois anos, antes de ser expulso pelo marechal Haftar.
Neste momento, o Exército líbio, sob o comando do marechal controla quatro terminais de petróleo no nordeste e o Porto de Hariga, em Tobrouk, próximo da fronteira egípcia.
São estes terminais e o Porto de Hariga, que o marechal agora entregou para gestão das Forças Paralelas do Leste, o que pode relançar a guerra entre o Governo e alguns grupos rivais naquilo que seria o cavar da divisão entre o Exército e o Executivo sedeado em Tripoli.
Esta semana, o Governo foi obrigado a reconhecer que tinha suspendido as suas operações nos referidos terminais, alegando a inexistência de condições de segurança e alertando para a previsível perda de milhares de dólares. A produção de petróleo, que era de mais de um milhão de barris por dia, é agora de apenas 450 mil barris.
Alguns observadores dizem que a questão da segurança nos terminais petrolíferos serve para ilustrar a dependência do Governo em relação ao Exército e, por inerência, ao marechal Haftar, em termos de segurança.
Khalifa Haftar, um general que com o passar do tempo foi ganhando protagonismo na guerra civil da Líbia, é um dos principais candidatos à vitória nas eleições previstas ainda para este ano.
Com o controlo dos principais terminais e o porto petrolífero do país entregue a forças que lhe são fiéis, o marechal Haftar ganha uma importante valência financeira para a sua campanha, a que junta uma outra que resulta do relacionamento e influência que aproveitará para ter de eventuais parceiros internacionais interessados em receber petróleo líbio. É que, por muito que a empresa estatal encarregada de administrar o negócio do petróleo reclame legitimidade, o facto é que não tem capacidade de acesso aos principais terminais do país, nem ao porto que serve para escoar o produto que neles é produzido.
Alguns observadores dizem que a questão da segurança nos terminais petrolíferos serve para ilustrar a dependência do Governo ao Exército