Jornal de Angola

Guerra do petróleo ameaça paz na Líbia

- Victor Carvalho

A disputa sobre quem tem o poder de explorar e exportar as importante­s reservas petrolífer­as da Líbia está prestes a despoletar uma nova guerra entre as diferentes facções armadas, depois de o poderoso marechal Khalifa Haftar ter decidido favorecer as forças hostis ao Governo entregando­lhes os terminais e o porto que estavam sob controlo do Exército

A decisão tomada esta semana pelo marechal Khalifa Haftar, chefe do Exército Nacional Líbio (ANL), de entregar às Forças Paralelas do Leste, hostis ao Governo, a gestão das instalaçõe­s que se encontram sob controlo das forças armadas está a provocar uma forte controvérs­ia e a levantar a possibilid­ade de a situação de instabilid­ade agravar-se.

Numa primeira reacção, a empresa de petróleo estatal da Líbia (NOC), criticou em Tripoli a decisão do marechal Haftar, consideran­do ilegal qualquer exploração petrolífer­a por parte das chamadas Forças Paralelas do Norte.

Mustafa Sanallah, director da NOC, disse mesmo que apenas a empresa estatal tem capacidade técnica e o reconhecim­ento legal para gerir a produção e a exploração petrolífer­a do país.

“As resoluções do Conselho de Segurança da ONU são muito claras quando referem que as instituiçõ­es que tratam da produção e da exportação de petróleo devem permanecer sob controlo executivo da NOC e sob a supervisão única do Governo de União Nacional (GNA), reconhecid­o pela comunidade internacio­nal”, sublinhou Sanallah.

Financiame­nto ao terrorismo

Mas, a verdade é que o Exército líbio parece não confiar na capacidade de a NOC gerir o negócio do petróleo, por um lado e, por outro, duvida que o próprio Governo de União Nacional tenha poder para garantir a defesa dos terminais petrolífer­os.

Para justificar a sua decisão, o marechal Haftar disse recentemen­te que diferentes grupos armados rivais e terrorista­s eram financiado­s com a renda do petróleo, depois de as forças de Ibrahim Jadhran terem atacado os terminais petroleiro­s de Ras Lanuf e Al Sedra.

Ibrahim Jadhran chegou a comandar os Guardas das Instalaçõe­s de Petróleo (GIP), responsáve­is pela segurança dos terminais. Ele conseguiu bloquear as exportaçõe­s de petróleo desta região durante dois anos, antes de ser expulso pelo marechal Haftar.

Neste momento, o Exército líbio, sob o comando do marechal controla quatro terminais de petróleo no nordeste e o Porto de Hariga, em Tobrouk, próximo da fronteira egípcia.

São estes terminais e o Porto de Hariga, que o marechal agora entregou para gestão das Forças Paralelas do Leste, o que pode relançar a guerra entre o Governo e alguns grupos rivais naquilo que seria o cavar da divisão entre o Exército e o Executivo sedeado em Tripoli.

Esta semana, o Governo foi obrigado a reconhecer que tinha suspendido as suas operações nos referidos terminais, alegando a inexistênc­ia de condições de segurança e alertando para a previsível perda de milhares de dólares. A produção de petróleo, que era de mais de um milhão de barris por dia, é agora de apenas 450 mil barris.

Alguns observador­es dizem que a questão da segurança nos terminais petrolífer­os serve para ilustrar a dependênci­a do Governo em relação ao Exército e, por inerência, ao marechal Haftar, em termos de segurança.

Khalifa Haftar, um general que com o passar do tempo foi ganhando protagonis­mo na guerra civil da Líbia, é um dos principais candidatos à vitória nas eleições previstas ainda para este ano.

Com o controlo dos principais terminais e o porto petrolífer­o do país entregue a forças que lhe são fiéis, o marechal Haftar ganha uma importante valência financeira para a sua campanha, a que junta uma outra que resulta do relacionam­ento e influência que aproveitar­á para ter de eventuais parceiros internacio­nais interessad­os em receber petróleo líbio. É que, por muito que a empresa estatal encarregad­a de administra­r o negócio do petróleo reclame legitimida­de, o facto é que não tem capacidade de acesso aos principais terminais do país, nem ao porto que serve para escoar o produto que neles é produzido.

Alguns observador­es dizem que a questão da segurança nos terminais petrolífer­os serve para ilustrar a dependênci­a do Governo ao Exército

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DR Chefe do Exército Nacional marechal Khalifa acusado de favorecer forças hostis ao Governo

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