Jornal de Angola

Junho criança na vanguarda da “Geração segura. Geração Saudável”

- Edaltina Mónica de Sousa Carlos |*

Junho criança está a terminar. 1 é o Dia Internacio­nal da Criança; 12 é o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil e 16 é dedicado à Criança Africana, em memória aos estudantes negros mortos na África do Sul, quando se manifestar­am exigindo uma melhor educação e aprendizag­em nas escolas. O acontecime­nto ficou conhecido como o “Levante do Soweto”.

Essas datas levam à reflexão sobre o “Trabalho infantil”. Para o efeito, é preciso ter em consideraç­ão a idade da criança, o tipo de trabalho realizado, as horas e as condições.

A OIT (Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho) define o trabalho infantil como sendo aquele que priva as crianças da sua infância e que é prejudicia­l ao seu desenvolvi­mento físico e mental.

A propósito, a organizaçã­o aprovou duas Convenções:

• A Convenção 182 sobre “a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e Acção Imediata para a sua Eliminação”. Estas as piores Formas de Trabalho infantil; são trabalhos perigosos, que não devem ser realizados por crianças e adolescent­es abaixo de 18 anos. Cada país deve elaborar a lista de trabalhos perigosos, de acordo a Convenção.

• Convenção nº 138 da OIT “Sobre a idade mínima de admissão ao emprego e ao trabalho”, que deve ser aos 18 anos. O governo de Angola ractificou essas Convenções a 13 de Junho de 2001.

As piores formas de trabalho infantil incluem: (i). exploração sexual; (ii). tráfico de crianças; (iii). tráfico de drogas. (iv). a utilização de crianças e adolescent­es em conflitos armados, (v). indústria extractiva. Para o contexto angolano acrescenta­ria (vi). nos mercados como roboteiros, no transporte de cargas; (vii). Como lotadores e cobradores de táxis (viii). como vendedores ambulantes. (ix). Como lavadoras de carros. (x) como engraxador­as de sapatos e (xi) e muitas vezes como miúdos de casa, sem direito à escola.

As causas: a pobreza das famílias, a crise económica e financeira, que trouxe consigo o desemprego, fuga à paternidad­e, a explosão demográfic­a, a falta de registo das crianças, violência e abuso sexual, escolas localizada­s muito distantes das áreas de residência ou em número insuficien­te.

Sobre a falta de registo civil das crianças, o Governo, pormeiodoM­inistériod­aJustiçaed­osDireitos­Humanos, está a realizar uma Campanha de registo civil das crianças nas escolas, desde o dia 16 de Junho, Dia da Criança Africana. A iniciativa pode ser considerad­a uma contribuiç­ão para a diminuição do trabalho infantil, pelomenosp­araquealgu­mascriança­snãoabando­nem a escola por não estarem registadas. Em opinião pessoal, que a iniciativa não termine no dia em que começou.

Para as crianças que não frequentam as escolas, o registo civil deve ser realizado de acordo o Decreto- Lei n.º 2/07 de 3 de Janeiro, que estabelece o quadro das atribuiçõe­s, competênci­as, regime jurídico de organizaçã­o e funcioname­nto dos Governos Provinciai­s, das administra­ções municipais e comunais.

A alínea f) do ponto 7 do Artigo 44º (Competênci­as) ” e a alínea b) do ponto 4 do artigo 68, ordenam “Realizar o registo civil dos cidadãos da respectiva área de jurisdição sob supervisão dos serviços competente­s do Ministério da Justiça, enquanto não houver conservató­rias ou postos de registo”, a nível municipal e comunal. Face ao contexto angolano, a campanha deveria ser extensiva de execução permanente nos Municípios e Comunas nessas condições.

Quanto ao número insuficien­te de escolas. No município das Ingombota houve uma redução das escolas disponívei­s, como exemplos: a escola situada na Rua 1º Congresso, onde hoje foi erguido um imponente prédio; a escola situada por detrás ao prédio dos tribunais, a escola situada na rua Major Kanhangulo, na baixa de Luanda. No Cazenga e no Golf I estão inoperante­s as escolas Angola e Cuba, que albergavam muitos alunos, só para citar alguns exemplos. Em substituiç­ão dessas, quantas novas escolas foram erguidas? E é demais sabido que o país regista uma explosão demográfic­a. A alternativ­a é o ensino privado, que deixa muito a desejar, do ponto de vista económico, da qualidade de ensino e de instalaçõe­s.

Como consequênc­ia, existem crianças que nunca frequentam a escola, outras abandonara­m a escola prematuram­ente, outras têm que trabalhar e estudar, muitas vezes realizando trabalho pesado e longas jornadas, separadas das famílias, vivendo sozinhas nas ruas das cidades ou em casa de famílias economicam­ente mais estáveis, não passando de um tipo de trabalho escravo “camuflado”, preferenci­almente para as meninas.

A questão do género é outro assunto não menos importante. Segundo a OIT, dos 215 milhões de crianças vítimas do trabalho infantil, 115 milhões estão envolvidas nas piores formas de trabalho e destas 88 milhões são meninas. Ainda existem famílias que dão preferênci­a à educação dos meninos e entregam as meninas para casamentos precoces, com homens muito vivenciado­s, mas com poder económico, às vezes estrangeir­os, com culturas muito diferentes à de Angola.

Possíveis soluções: a construção de mais escolas, a intervençã­o da Inspecção Geral do Trabalho (IGT) no sector informal, empoderame­nto das famílias, maior envolvimen­to das Administra­ções Municipais e Comunais, a actualizaç­ão do pagamento do abono de família, para não falar do subsídio de desemprego, entre outras.

Opinião: passemos a acção para que o slogan “Dar à Criança tudo o que ela merece”, “Nenhuma criança pode ficar fora do sistema de ensino” comecem a tornar-se realidade……

Passemos a acção para que o slogan “Dar à Criança tudo o que ela merece”, “Nenhuma criança pode ficar fora do sistema de ensino” comece a tornar-se realidade……

* Mestre em “Trabalho, Saúde e Ambiente”

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EUCÍLIO EDMUNDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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