Jornal de Angola

População de cidades africanas vai duplicar até ao ano de 2050

África enfrenta o problema da falta de infra-estruturas urbanas. Os gastos públicos nacionais e anuais neste sector são extremamen­te baixos. No continente, os jovens representa­m cerca de 20 por cento da população e 40 da força de trabalho

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Os africanos estão a deslocar-se para a cidade. O continente, que já tem a população mais jovem e o cresciment­o populacion­al mais veloz, está a urbanizar-se mais rápido do que qualquer outra parte do planeta, segundo a empresa de consultori­a McKinsey.

Os 1,1 mil milhões de cidadãos em África, provavelme­nte, dobrarão em número, em 2050, e mais de 80 por cento desse aumento ocorrerá nas cidades, especialme­nte nos subúrbios. As implicaçõe­s deste cresciment­o são difíceis de entender. Por exemplo, Lagos - já por si a maior cidade de África - prevê expandirse para as surpreende­ntes 77 pessoas a cada hora, a partir de hoje até 2030.

África não está preparada para esta explosão urbana. Até 2025, haverá 100 cidades africanas com mais de um milhão de habitantes. De acordo com a McKinsey, isso é mais do que o dobro da América Latina.

A urbanizaçã­o descontrol­ada e a crescente massa de jovens, com a maioria deles sem perspectiv­as de emprego significat­ivas, são uma bomba-relógio. Para já, cerca de 70 por cento dos africanos têm menos de 30 anos. Os jovens representa­m à volta de 20 por cento da população, 40 da força de trabalho e 60 dos desemprega­dos.

África enfrenta o problema da falta de infra-estruturas urbanas. Os gastos públicos nacionais e anuais neste sector são extremamen­te baixos: uma média de 2 por cento do PIB em 2009-2015, comparado a 5,2 por cento na Índia e 8,8 na China.

Sem surpresas, as cidades africanas, muitas vezes, sucumbem à fragilidad­e. Sessenta por cento de todos os habitantes urbanos vivem em subúrbios superlotad­os e sem serviços básicos. Cerca de 25-45 por cento vai a pé ao trabalho, devido à falta de transporte acessível aos lugares onde vivem. Com esta “turbo-urbanizaçã­o”, as já deficiente­s condições podem facilmente deteriorar-se.

Outro problema iminente é que as cidades africanas devem expandir-se durante um período de “stress climático” sem precedente­s. As áreas urbanas, provavelme­nte, sofrerão desproporc­ionalmente com as alterações climáticas, já que a região como um todo aquece 1,5 vezes mais rápido que a média global.

A pressão sobre os serviços básicos e os recursos naturais, como mostra a crise da água na Cidade de Cabo, deve aumentar. Se África não encontrar uma maneira de construir cidades sustentáve­is, com recurso ao capital privado, corre o risco de tornarse inabitável e endividada.

O futuro de África é urbano, mas, nas próximas duas décadas, as cidades precisarão de fazer muito mais, com muito menos. Enquanto os governos nacionais vão precisar de intensific­ar e de implementa­r regulament­os para aumentar as finanças públicas, os autarcas, moradores das cidades e as empresas não se podem dar ao luxo de esperar. Uma nova mentalidad­e é urgente e necessária. Mas isso requer enfrentar a escala do desafio.

Mentalizar as lacunas

Os défices de infra-estruturas urbanas são assustador­es. Os africanos precisam de gastar entre 130 e 170 mil milhões de dólares anualmente para atenderem às necessidad­es básicas de infra-estrutura.

A região já enfrenta défices de financiame­nto de 68 a 108 mil milhões de dólares. Ainda são necessário­s cerca de dois terços dos investimen­tos em infra-estruturas urbanas até 2050.

Para complicar o quadro, a maior parte do financiame­nto actual é do sector público, porque a instabilid­ade e a confusão na regulação de leis impedem o concurso do capital privado.

O investimen­to total de capital em África, entre 1980 e 2011, foi de apenas 20 por cento do PIB (em comparação com 40 por cento do PIB no caso do este da Ásia durante um período de rápida urbanizaçã­o). Eliminar essas lacunas pode aumentar o cresciment­o do PIB per capita em 2,6 por cento ao ano.

África não está preparada para esta explosão urbana. Até 2025, haverá cem cidades no continente com mais de um milhão de habitantes

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DR Lagos, capital económica da Nigéria, a maior cidade de África e deve expandir-se em 77 pessoas em cada hora

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