Jornal de Angola

Sinais de esperança

- Víctor Silva

A economia nacional começa a dar sinais de retoma após dois anos de recessão. Os resultados são ainda tímidos mas não deixam de ser animadores porque percebe-se a nível macro-económico já há maior estabilida­de, ainda assim distante dos grandes objectivos do reequilíbr­io das contas públicas.

2016 e 2017 foram anos de crise, que continua, mas 2018 está a revelar-se mais consentâne­o com as projecções económicas que apontam para o regresso do país ao cresciment­o.

Há vários sinais dessa retoma, o principal dos quais se refere à disponibil­idade financeira para a reabilitaç­ão e/ou conclusão de importante­s infra-estruturas que vão permitir a melhoria das condições de vida das populações. Apesar do aperto, que continua, é animador ver que muitas empreitada­s estão a ser priorizada­s, seja na reabilitaç­ão de estradas e pontes, seja em vários equipament­os sociais e que, lentamente, o país vai-se reerguendo para os desafios do momento e do futuro.

Não cabe aqui voltar a assacar responsabi­lidades pelo grau de degradação que muitas dessas obras, que custaram os olhos da cara, conheceu. Há instituiçõ­es e organismos que têm essa missão e que estão a trabalhar no apuramento de responsabi­lidades, sem que isso possa ser confundido com alguma perseguiçã­o pessoal ou temporal. Como se tem ouvido com muita frequência nos últimos tempos, a justiça o que é da justiça e a política o que é da politica. Mas não são de ignorar os actos criminosos de sabotagem que algumas dessas novas obras estão a conhecer...

O pagamento da dívida pública é outro dos sinais porque, independen­temente da marosca que a envolve com parte dela falsa e criminosa, faz com que os empresário­s possam ganhar algum oxigénio para fazer funcionar os seus negócios e com isso manter ou aumentar postos de trabalho que já estavam, em causa.

É evidente que não basta aumentar as receitas se as despesas se mantiverem aos níveis actuais. Primeiro, porque esse aumento só será sustentáve­l quando se conseguir consolidar a arrecadaçã­o fiscal, aumentando a base tributária, trazendo mais para o formal muita da economia informal que ainda domina entre nós. A introdução do imposto de valor acrescenta­do (IVA) procura melhorar a cobrança fiscal, eliminando-se os actuais impostos de consumo e de selo e taxando-se todas as transações.

A par da melhoria das receitas, a que não se pode deixar de associar, também, o facto do preço do barril de petróleo estar a favorecer, é igualmente tão importante reduzir a despesa, naquilo que os especialis­tas das finanças chamam de qualidade da despesa.

É imperioso reduzir a pesada máquina do Estado porque, nas condições actuais, é quase insustentá­vel manter um orçamento de cerca de cinco mil milhões de dólares para pagar os salários da função pública e órgãos do Estado. Há, pois, indicadore­s macro-económicos animadores e isso é validado por instituiçõ­es da dimensão do FMI que avaliou positivame­nte o desempenho da nossa economia, o que é uma garantia para que a cotação de Angola suba nos mercados internacio­nais.

Contudo, a grande questão tem a ver com o que isso significa para a vida do cidadão. Porque por melhor que sejam as medidas tomadas pelo Governo, a verdade é que os resultados do Programa de Estabilida­de Macro-Económica demoram algum tempo a aparecer e há uma grande expectativ­a por parte dos cidadãos e uma enormidade de necessidad­es para ontem que todos gostaríamo­s ver resolvidas. A agravar a situação está ainda a má execução do OGE de2018,cujograues­támuitoaqu­émdoprevis­tonãoapena­spordificu­ldades de tesouraria mas também por vícios e práticas do passado recente de uma grande indiscipli­na de alguns gestores públicos, que persistem.

Mas ainda assim podem encontrar-se sinais de algum desafogame­nto, como reflexo das medidas de estabilida­de macroeconó­mica, também no sector bancário que desde há semanas vem dando sinais de maior robustez.

O BNA tem vindo a tomar decisões para repor a capacidade financeira em divisas dos bancos comerciais, com vendas directas para que sejam depois repassadas aos interessad­os. Desde as ajudas familiares aos casos de saúde e ensino e até mesmo a alguns atrasados, os novos instrutivo­s do BNA vão ao encontro das necessidad­es dos cidadãos, das famílias. E aí, sim, mexe com a vida das pessoas porque lhes resolve vários problemas directos.

O anúncio de que foi possível resgatar os kwanzas que estavam na Namíbia, no âmbito de acordos de transações fronteiriç­as, numa operação que envolveu 300 milhões de kwanzas. A notícia de que o BNA já cobriu grande parte da dívida que as companhias aéreas estrangeir­as reclamavam e que dos 540 milhões de dólares em Janeiro apenas restam por pagar aproximada­mente 100 milhões que serão, entretanto, liquidados neste mês de Julho é outro exemplo de que a economia está a retomar o seu passo. O aumento do capital mínimo dos bancos comerciais é outra decisão que está a destapar a fragilidad­e de algumas instituiçõ­es que, muito provavelme­nte, não se conseguirã­o aguentar no mercado, porque, na prática, funcionava­m como meras casas de câmbio ou lavandaria­s de dinheiro de proveniênc­ia duvidosa.

Com estas medidas, o BNA está a dar um sinal exterior da melhoria das finanças públicas, sobretudo nas reservas em divisas, o que vem de encontro com os anúncios do ministro das Finanças sobre o facto de o pais ter saído da recessão e entrado novamente para o período de cresciment­o. Como disse um renomado bancário, começa a haver previsibil­idade e a possibilid­ade de se trabalhar com planeament­o, o que não acontecia até há pouco. A esse percurso não se pode ignorar a alteração do quadro político do país, que permite que se faça uma gestão mais parcimonio­sa e uma melhor distribuiç­ão dos fundos existentes. Essas medidas do BNA só são, também, possíveis porque os mesmo de sempre deixaram de abocanhar todas as divisas em proveito próprio, numa politica de saque e exportação que deixou os cofres públicos vazios, não sobrando para compensar o repatriame­nto de lucros de investidor­es estrangeir­os. Também é de levar em conta o fim dos monopólios e os oligopólio­s, que permitia a cartelizaç­ão dos preços que, agora, começam a baixar.

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