Jornal de Angola

Tesoureiro pode estar envolvido

Os suspeitos são nove, cinco dos quais foragidos. Os outros já estão a ser julgados, um deles, o tesoureiro, que é apontado como a pessoa que terá dado as coordenada­s do interior da agência bancária localizada junto à antiga rotunda do Gamek

- Nhuca Júnior

A reunião foi marcada para as 19 horas, para acertos dos últimos detalhes. O local escolhido é uma casa, situada no Zango, para onde os convocados partiram, com excepção de um. A reunião foi realizada com a presença de oito indivíduos. Não era uma reunião para uma boa acção.

O assunto constante da agenda era a necessidad­e de serem feitos os últimos acertos de um assalto a uma agência bancária em Luanda.

O alvo escolhido foi a agência do BIC junto à antiga rotunda do Gamek, no bairro Morro Bento.

Aquela era a última reunião porque a data para o assalto foi marcada para o dia seguinte ao encontro, 3 de Maio. O ano era 2017.

Durante a reunião, “Assanhado”, alcunha de um dos integrante­s do grupo, recebeu um telefonema, feito pela pessoa que faltou à reunião, presumivel­mente, o tesoureiro do banco escolhido para ser assaltado, identifica­do no despacho de acusação como Gerson Cristóvão Tavares, de 30 anos.

A conversa foi ouvida por todos, porque “Assanhado” colocou o seu telemóvel no sistema de “viva voz”.

A conversa telefónica serviu para o suspeito Gerson Cristóvão Tavares, de acordo com o despacho de acusação, indicar “as coordenada­s do interior da agência” do BIC, um detalhe importante para que a acção tivesse sucesso. Duas viaturas, furtadas e Um importador, cujo nome não foi revelado pela Inspecção-Geral da Saúde, mandou produzir, num laboratóri­o, chinês ou indiano, um medicament­o falso para o tratamento do paludismo, tendo dado o nome de “cesartem” e colocado em embalagens idênticas às do “coartem”.

A denúncia foi feita, quintafeir­a, à Angop pela chefe de Departamen­to de Inspecção Farmacêuti­ca, Nídia Saiundo, que alertou não estar o “cesartem” recomendad­o para o pertencent­es a duas senhoras, identifica­das no despacho de acusação como declarante­s, foram utilizadas pelo grupo, sendo que um dos veículos foi furtado a 1 de Maio, dia anterior à reunião.

A bordo das duas viaturas, os assaltante­s partiram às 9h00 para a agência do BIC, munidos de duas AKM e de uma pistola do tipo “Macarov”. À chegada ao local, um dos elementos dirigiu-se à porta frontal da agência bancária, onde se encontrava um guarda apenas munido de um detector de metais, além de um telemóvel, tendo-lhe sido apontada uma arma de fogo e recebido ordem para entrar para as instalaçõe­s da tratamento do paludismo. Além do “cesartem”, Nídia Saiundo denunciou a existência em Angola de mais medicament­os falsos ou impróprios para o consumo humano, de origem chinesa e indiana, destinados ao combate à malária e à impotência sexual.

A responsáve­l disse estar, entre os medicament­os falsos, o “artemeter” de 180 miligramas e 60 miligramas em suspensão oral para crianças, dos lotes nº Y70424 e Y70109. agência bancária. Um outro guarda estava a guarnecer a parte lateral das instalaçõe­s com uma arma do tipo AKM, que não lhe serviu para nada, porque foi surpreendi­do por três meliantes que não lhe deram tempo para reagir, tendo sido desarmado e encaminhad­o também para o interior do banco.

Tudo foi feito ao detalhe, para o sucesso da acção, daí ter ficado um meliante numa das viaturas para garantir a fuga do local.

Anunciado o assalto, os meliantes que estavam no interior do banco pediram aos funcionári­os e clientes que se deitassem ao chão e obedecesse­m integralme­nte

Nídia Saiundo informou ainda que todos os lotes de paracetamo­l de 500 miligramas, importados pela Angomédica, o “black cobra” de 150 miligramas e o “nevegra” de 150 miligramas, ambos para o tratamento da impotência sexual, são também impróprios para o uso humano.

O “artemeter” em suspensão, de acordo com Nídia Saiundo, foi retirado de circulação por não constar do protocolo nacional às ordens, cujo cumpriment­o foi respeitado por todos, incluindo pelo tesoureiro, Gerson Tavares, que, de acordo com o despacho de acusação, obedeceu às ordens para que ninguém pudesse desconfiar da sua participaç­ão no assalto ao banco.

De acordo com o despacho de acusação, a farsa continuou com Gerson Tavares a ser ameaçado com uma arma apontada à cabeça, uma forma de simular, à vista dos colegas, não ser participan­te da acção criminosa.

O tesoureiro recebeu ordem para indicar o cofre, de onde foram retirados um milhão e 600 mil kwanzas, cujo montante foi acrescen- de tratamento da malária. Os medicament­os falsos foram detectados em farmácias e depósitos de medicament­os nas províncias da Lunda-Norte, CuandoCuba­ngo, Moxico, Huambo, Uíge e Zaire, tendo, na última província, sido feita “uma grande apreensão” ao longo da fronteira com o Nóqui.

O “coartem” é um antipalúdi­co que o Ministério da Saúde importa, no âmbito de um convénio que estabelece­u com uma empresa, para ser distribuíd­o gratuitame­nte à população, através da rede pública de saúde.

A inspectora da Saúde elogiou o papel desempenha­do pela Polícia de Guarda Fronteira no combate à entrada de medicament­os contrafeit­os a partir dos postos fronteiriç­os. tado aos pertences subtraídos a funcionári­os e clientes, entre telemóveis e dinheiro, depois de terem recebido ordem para se deitarem ao chão. Entre os telemóveis subtraídos, estão um “Iphone 6”, avaliado em 210 mil kwanzas, e um Samsung, estimado em 300 mil.

Na fuga, os assaltante­s partiram em direcção ao Golfe, mas uma das viaturas foi para uma estação de serviço, localizada junto ao Mercado do Catinton, no Cassequel do Imbombeiro, distrito urbano da Maianga.

A Polícia Nacional foi accionada, depois da saída do banco dos autores do assalto, mas a detenção rápida de três dos quatro suspeitos, em julgamento desde quinta-feira, deveu-se ao reconhecim­ento, no mesmo dia do crime, de uma das viaturas usadas no assalto.

A caminho da esquadra, para relatar o sucedido, uma das vítimas do assalto avistou e reconheceu uma das viaturas, informação que deu origem a uma perseguiçã­o policial que levou à captura dos suspeitos Domingos Baita Fonseca, de 25 anos e estudante, e Manuel Faustino, da mesma idade, motorista de profissão e militar das Forças Armadas Angolanas (FAA).

No decurso das diligência­s, o Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) apreendeu duas armas de fogo e recuperou as duas viaturas utilizadas no assalto e já restituída­s às proprietár­ias, também arroladas no processo como declarante­s.

O nome do tesoureiro foi referencia­do, nas declaraçõe­s feitas ao Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC), por Domingos Baita Fonseca, que confessou que “só foi possível tal acção porque havia a colaboraçã­o de Gerson Tavares”, que, embora este diga não ter nada a ver com o assalto, foi constituíd­o arguido e está a ser julgado em liberdade.

A caminho da esquadra para relatar o sucedido,uma das vítimas do assalto avistou e reconheceu uma das duas viaturas utilizadas pelos autores do crime

Nelson Pires Sebastião, de 28 anos e ladrilhado­r, é o quarto suspeito que está em julgamento, encontrand­o-se na situação de prófugos cinco suspeitos, um dos quais “Assanhado”, o homem que terá mantido a conversa telefónica com Gerson Tavares, na véspera do assalto ao banco.

O caso está a ser julgado pela Sétima Secção da Sala dos Crimes Comuns do Tribuna Provincial de Luanda, tendo a primeira audiência do julgamento ocorrido na quinta-feira, durante a qual foram ouvidos apenas os réus Domingos Baita Fonseca e Manuel Pedro Faustino. O julgamento prossegue na próxima terça-feira.

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EDIÇÕES NOVEMBRO A Polícia sempre admitiu que em alguns assaltos a bancos haja funcionári­os envolvidos
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EDIÇÕES NOVEMBRO Medicament­os contrafeit­os destruídos pela Polícia Nacional

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