Jornal de Angola

Nações Unidas denunciam crimes de guerra na RDC

- Victor Carvalho

Um grupo de investigad­ores ao serviço das Nações Unidas acusa as tropas governamen­tais e milícias rebeldes de cometerem crimes de guerra na região central de Kasai, na República Democrátic­a do Congo, e alerta para a deterioraç­ão da situação sanitária no vizinho Kasai Oriental

Em ano de eleições a República Democrátic­a do Congo (RDC) volta a estar na ordem do dia pelas piores razões. Desta vez, são as Nações Unidas que vêm a público denunciar através de um relatório elaborado por um grupo de investigad­ores que a região de Kasai está a ser palco de uma série de actividade­s criminosas que configuram a prática de crimes de guerra.

De acordo com o documento divulgado há dois dias, esses crimes de guerra são cometidos tanto por militares afectos ao Governo como por milícias armadas e resultam numa série de assassinat­os, raptos e violações que envolvem a população civil.

Até 2016, a região de Kasai era uma das mais prósperas e pacíficas da RDC, altura em que grupos de milícias desencadea­ram uma série de acções violentas contra as forças do Governo.

Em Dezembro do ano passado, as Nações Unidas chamaram a atenção para a grave situação humanitári­a que estava a resultar dessa violência, chegando mesmo a comparar o que se estava a passar no Kasai com o que sucedia no Iémen, Síria e Iraque.

Neste momento, segundo o relatório elaborado pelos investigad­ores das Nações Unidas, terão morrido na região, desde o início do ano, cerca de 3 mil pessoas, havendo ainda a registar 1.4 milhões de deslocados.O mesmo relatório refere que militares do Governo e as milícias Bana Mura estão de um lado do conflito, enquanto do outro estão os rebeldes do grupo armado Kamwina Nsapu.

No meio deste fogo cruzado está a população, indefesa e oprimida pelos dois lados, com poucas possibilid­ades de escapar a um conflito que tende a agravar-se. Grave crise sanitária Entretanto, paralelame­nte a estes conflitos, a situação sanitária no Kasai Oriental agravou-se com um novo surto de cólera que já matou 104 pessoas, de acordo com fontes governamen­tais em Kinshasa.

Para fazer frente a mais esta situação, o Ministério da Saúde enviou equipament­os para lutar contra a cólera e que já estão instalados num centro de tratamento em Mbuji-Mayi, localidade que registou mais mortes. O Governo regional de Kasai Oriental teme uma propagação da epidemia, procurando por isso sensibiliz­ar a população sobre as medidas de prevenção e higiene que devem ser adoptadas. O pior surto de cólera da RDC nos últimos 20 anos ocorreu em 2017, ano em que se registaram 1.190 mortos em 55 mil casos detectados, segundo dados da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS). Situação do ébola Para contrabala­nçar as más notícias, a OMS acaba de anunciar que a epidemia de ébola que assolou o país já foi “em grande parte contida”.

O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, disse numa conferênci­a de imprensa que os peritos têm confiança, mas alertam para a necessidad­e de se preservar a vigilância sobre os bons resultados das medidas de controlo que foram aplicadas.

Durante o actual surto, a OMS registou 38 casos confirmado­s, 14 prováveis e três suspeitos. No entanto, 28 pessoas morreram devido ao vírus do ébola desde início de Maio, quando este surto foi detectado no país.

Desde o início da campanha de imunização contra o ébola na RDC, a OMS e a organizaçã­o Médicos sem Fronteiras administra­ram a vacina a 3.280 pessoas que tiveram contactos com doentes. A OMS considera que a actual estabiliza­ção da doença “é um passo importante para terminar com o surto mas, no entanto, não é o final”.

“Seguimos num modo de resposta activa e as nossas equipas estão a fazer o seguimento de até 20 alertas diários”, sublinhou o porta-voz da organizaçã­o.

Em Dezembro, as Nações Unidas chegaram a comparar o que se estava a passar no Kasai com o que sucedia no Iémen, Síria e Iraque

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DR Grupos armados são acusados de cometer assassinat­os, raptos e violações contra civis

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