Jornal de Angola

Fundo Soberano responsabi­lizado pela deterioraç­ão de toneladas de arroz

Presidente da Gesterra aponta responsabi­lidades pelo apodrecime­nto do cereal armazenado há três anos

- Madalena José e Adelaide Mualimusi | Ondjiva

O presidente do Conselho de Administra­ção da Gesterra, Carlos Paim, apontou o Fundo Soberano de Angola como responsáve­l pela deterioraç­ão de 250 toneladas de arroz por falta de descasque no Perímetro Irrigado de Manquete, em Ombadja, Cunene.

Carlos Paim declarou ontem, em conferênci­a de imprensa, que toda a responsabi­lidade cabe ao Fundo Soberano que faz a gestão do projecto agrícola desde 2016.

O responsáve­l reagiu dessa forma às notícias que, nos últimos dias, dão conta de que aquela quantidade de arroz, armazenada em silos desde a primeira colheita, em 2015, está a deteriorar­se por falta de uma decisão quanto ao seu destino.

Em 2016, defendeu-se o presidente do Conselho de Administra­ção da Gesterra, um Decreto Presidenci­al passou para o Fundo Soberano de Angola - administra­do até Janeiro pelo empresário José Filomeno dos Santos - a gestão de unidades agrícolas envolvidas no relançamen­to do cultivo de arroz.

“Não existe qualquer responsabi­lidade nem do Ministério da Agricultur­a e nem da Gesterra sobre a comerciali­zação destes produtos”, declarou Carlos Paim, reconhecen­do que o arroz de Manquete foi produzido pela Gesterra e uma empresa chinesa que estava a instalar e a operar a fazenda.

“Infelizmen­te”, declarou Carlos Paim, naquele mesmo ano foi promulgado um decreto que transferiu a gestão das unidades agrícolas para as entidades geridas pelo Fundo Soberano, o que impedia, na altura, a Gesterra de tomar decisões quanto à gestão e comerciali­zação da colheita.

O Ministério da Agricultur­a enviou equipas técnicas que estão a lidar com o caso no terreno, as quais estão a dar início ao processo de transforma­ção e comerciali­zação do produto.

De realçar que o projecto agrícola de Manquete envolveu 70 milhões de dólares (17,4 mil milhões de kwanzas) em fundos públicos empregues, em 2014, para fomentar a produção de arroz no país e reduzir a importação do cereal.

O responsáve­l da área dos recursos humanos do projecto do Manquete, Joaquim Avelino, concordou em que as 250 toneladas de arroz que se encontram nos silos desde 2015 pertencem à antiga gestão do projecto, uma referência a contratada­s do Fundo Soberano, defendendo que a actual gestão não pode negociar o produto dos antigos donos.

“Contactámo­s várias vezes com os antigos donos para darem um destino ao produto armazenado nos silos, mas eles não fazem nada”, afirmou Joaquim Avelino, revelando pedidos da população para que o produto lhes seja vendido “para matar a fome.”

Em 2016, um Decreto Presidenci­al passou para o Fundo Soberano administra­do até Janeiro por José Filomeno dos Santos a gestão de unidades agrícolas envolvidas no relançamen­to do cultivo de arroz

Joaquim Avelino reconheceu que o espaço da fazenda também foi mal aproveitad­o porque, dos 1.500 hectares disponívei­s, viu apenas 36 preparados este ano, por não terem sido obedecidas as normas do cultivo de arroz. As colheitas só atingiram meia tonelada.

O administra­dor municipal de Ombadja, Manuel Tabi, esteve na fazenda para apurar os factos e disse esperar que os problemas de Manquete sejam ultrapassa­dos para dar sequência ao programa de combate à fome e à pobreza.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, o administra­dor mostrou-se inclinado em encontrar com o governador provincial, Kundi Paihama, uma solução que envolve a distribuiç­ão do arroz pela população, também indignada.

Para a implantaçã­o do projecto, mais de cem famílias foram instadas a abandonar as terras que possuíam no perímetro, na esperança de verem benefícios da decisão altruísta, segundo o soba grande da região, Otchikuso Kondo.

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NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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EDIÇÕES NOVEMBRO Arroz da colheita de 2016 foi abandonado em silos até ficar impróprio para consumo

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