Jornal de Angola

Nuvem de medo envolve as eleições no Zimbabwe

A menos de um mês das eleições e ainda na ressaca do atentado à bomba que há uma semana quase matou o Presidente Emmerson Mnangagwa, o Zimbabwe vive agora sob uma nuvem de medo, recordando anteriores actos eleitorais onde a violência teve um inconfortá­vel

- Victor Carvalho

Apesar das promessas repetidame­nte feitas pelo Presidente Emmerson Mnangagwa, de que as eleições que se realizam no final de Julho decorrerão num clima de paz e harmonia, a verdade é que muitos zimbabwean­os receiam a repetição de anteriores cenas de violência que marcaram sucessivos actos eleitorais.

Na sua primeira intervençã­o pública depois do atentado de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabwe e tradiciona­l bastião da oposição ao partido no poder, Mnangagwa endossou responsabi­lidades pelo que aconteceu para um grupo afecto à antiga primeirada­ma, Grace Mugabe, mas tentou limitar a sua importânci­a, dizendo que foi “apenas mais uma tentativa” para o matar.

Para o Presidente da República, o atentado teve como único alvo a sua própria pessoa, “tal como muitas que anteriorme­nte foram feitas”. Esta declaração, obviamente, não tranquiliz­a a população que teme por duas forças de razão. Uma, a possibilid­ade de mais uma tentativa para matar o Presidente possa vir a ocorrer e, outra, porque receia a reacção musculada por parte das forças de segurança para reprimir os que eventualme­nte o queiram assassinar.

A acrescenta­r a isto está o facto da população zimbabwean­a ainda estar a adaptar-se à ideia de participar em eleições onde pela primeira vez na história do país não vai estar presente, pelo menos como único candidato à vitória, Robert Mugabe. Essa adaptação, sobretudo depois do que se passou em Bulawayo, passou a ser acompanhad­a pela expectativ­a de que Robert ou Grace Mugabe possam liderar qualquer tentativa de macular um processo onde pela primeira vez estará ausente.

O próprio Presidente Mnangagwa ao invocar, no dia a seguir ao atentado, o nome de um grupo afecto à anterior primeira-dama contribuiu para aumentar substancia­lmente as dúvidas e os receios da população sobre a possibilid­ade de eclosão de uma onda de violência por pessoas ligadas ao anterior Chefe de Estado.

Nova “Frente Patriótica”

Contrariam­ente ao que anteriorme­nte sucedia, onde eram poucos os partidos que ousavam avançar para as eleições, desta vez o cenário altera-se e dos mais de cem partidos oficialmen­te registados existe já a certeza de que 23 vão avançar com candidatur­as, embora alguns possam desistir à boca das urnas. Todas estas candidatur­as justificam-se pelo facto da liderança da oposição ter ficado órfã depois da morte de Morgan Tsvangirai, eterno segundo classifica­do da era de Robert Mugabe e principal vítima da repressão violenta a que se assistia em tempo de eleições. De entre as 23 candidatur­as está a emergir uma que está ligada à família Mugabe, principal mentora da nova Frente Patriótica Nacional onde aparece como líder Ambrose Mutinhiri, um velho aliado do antigo Presidente do Zimbabwe.

Alguns observador­es admitem mesmo a possibilid­ade de na formalizaç­ão final das listas o nome de Grace Mugabe poder surgir em primeiro lugar, o que marcaria o seu regresso à vida política activa transforma­ndo este pequeno partido no potencial grande rival da ZANU-PF de Mnangagwa.

Um factor que poderá ser determinan­te para o resultado das próximas eleições é o recente regresso de milhares de zimbabwean­os que se encontrava­m na diáspora e que acreditam poder reiniciar a sua vida no país onde nasceram.

Outros que regressara­m são antigos aliados de Robert Mugabe que fugiram para o estrangeir­o, sobretudo para a África do Sul, depois deste ter abandonado o poder mas que agora aproveitar­am a abertura manifestad­a por Emmerson Mnangagwa para a reunificaç­ão de todos os zimbabwean­os.

Mas, neste momento e enquanto a família Mugabe continua à espreita, o principal opositor de Emmerson Mnangagwa, não obstante as expectativ­as que rodeiam a Frente Patriótica Nacional, continua a ser Nelson Chamisa, de apenas 35 anos (menos de metade da idade de Emmerson Mnangagwa, que tem 75).

O substituto de Morgan Tsvangirai à frente do MDC tem feito uma campanha politicame­nte agressiva, tendo já a ZANU-PF referido que está a ser financiado por Donald Trump, de quem diz ser “amigo pessoal”.

Nelson Chamisa, que disse ter sido o atentado de Bulawayo uma encenação da ZANU-PF para dar a ideia de que o seu líder estava a ser vítima de uma campanha para o assassinar, já admitiu que se vencer as eleições presidenci­ais, muitos dos generais que Emmerson Mnangagwa colocou no Governo passarão compulsiva­mente à reforma e vão ter de explicar devidament­e as fontes do seu enriquecim­ento.

Contrariam­ente ao que antes sucedia, onde eram poucos os partidos que ousavam avançar para as eleições, desta vez o cenário altera-se e dos mais de cem partidos registados existe já a certeza de que 23 vão avançar com candidatur­as

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DR Presidente Emmerson Mnangagwa saiu ileso de um atentado após um comício em Bulawayo

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