Nuvem de medo envolve as eleições no Zimbabwe
A menos de um mês das eleições e ainda na ressaca do atentado à bomba que há uma semana quase matou o Presidente Emmerson Mnangagwa, o Zimbabwe vive agora sob uma nuvem de medo, recordando anteriores actos eleitorais onde a violência teve um inconfortável
Apesar das promessas repetidamente feitas pelo Presidente Emmerson Mnangagwa, de que as eleições que se realizam no final de Julho decorrerão num clima de paz e harmonia, a verdade é que muitos zimbabweanos receiam a repetição de anteriores cenas de violência que marcaram sucessivos actos eleitorais.
Na sua primeira intervenção pública depois do atentado de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabwe e tradicional bastião da oposição ao partido no poder, Mnangagwa endossou responsabilidades pelo que aconteceu para um grupo afecto à antiga primeiradama, Grace Mugabe, mas tentou limitar a sua importância, dizendo que foi “apenas mais uma tentativa” para o matar.
Para o Presidente da República, o atentado teve como único alvo a sua própria pessoa, “tal como muitas que anteriormente foram feitas”. Esta declaração, obviamente, não tranquiliza a população que teme por duas forças de razão. Uma, a possibilidade de mais uma tentativa para matar o Presidente possa vir a ocorrer e, outra, porque receia a reacção musculada por parte das forças de segurança para reprimir os que eventualmente o queiram assassinar.
A acrescentar a isto está o facto da população zimbabweana ainda estar a adaptar-se à ideia de participar em eleições onde pela primeira vez na história do país não vai estar presente, pelo menos como único candidato à vitória, Robert Mugabe. Essa adaptação, sobretudo depois do que se passou em Bulawayo, passou a ser acompanhada pela expectativa de que Robert ou Grace Mugabe possam liderar qualquer tentativa de macular um processo onde pela primeira vez estará ausente.
O próprio Presidente Mnangagwa ao invocar, no dia a seguir ao atentado, o nome de um grupo afecto à anterior primeira-dama contribuiu para aumentar substancialmente as dúvidas e os receios da população sobre a possibilidade de eclosão de uma onda de violência por pessoas ligadas ao anterior Chefe de Estado.
Nova “Frente Patriótica”
Contrariamente ao que anteriormente sucedia, onde eram poucos os partidos que ousavam avançar para as eleições, desta vez o cenário altera-se e dos mais de cem partidos oficialmente registados existe já a certeza de que 23 vão avançar com candidaturas, embora alguns possam desistir à boca das urnas. Todas estas candidaturas justificam-se pelo facto da liderança da oposição ter ficado órfã depois da morte de Morgan Tsvangirai, eterno segundo classificado da era de Robert Mugabe e principal vítima da repressão violenta a que se assistia em tempo de eleições. De entre as 23 candidaturas está a emergir uma que está ligada à família Mugabe, principal mentora da nova Frente Patriótica Nacional onde aparece como líder Ambrose Mutinhiri, um velho aliado do antigo Presidente do Zimbabwe.
Alguns observadores admitem mesmo a possibilidade de na formalização final das listas o nome de Grace Mugabe poder surgir em primeiro lugar, o que marcaria o seu regresso à vida política activa transformando este pequeno partido no potencial grande rival da ZANU-PF de Mnangagwa.
Um factor que poderá ser determinante para o resultado das próximas eleições é o recente regresso de milhares de zimbabweanos que se encontravam na diáspora e que acreditam poder reiniciar a sua vida no país onde nasceram.
Outros que regressaram são antigos aliados de Robert Mugabe que fugiram para o estrangeiro, sobretudo para a África do Sul, depois deste ter abandonado o poder mas que agora aproveitaram a abertura manifestada por Emmerson Mnangagwa para a reunificação de todos os zimbabweanos.
Mas, neste momento e enquanto a família Mugabe continua à espreita, o principal opositor de Emmerson Mnangagwa, não obstante as expectativas que rodeiam a Frente Patriótica Nacional, continua a ser Nelson Chamisa, de apenas 35 anos (menos de metade da idade de Emmerson Mnangagwa, que tem 75).
O substituto de Morgan Tsvangirai à frente do MDC tem feito uma campanha politicamente agressiva, tendo já a ZANU-PF referido que está a ser financiado por Donald Trump, de quem diz ser “amigo pessoal”.
Nelson Chamisa, que disse ter sido o atentado de Bulawayo uma encenação da ZANU-PF para dar a ideia de que o seu líder estava a ser vítima de uma campanha para o assassinar, já admitiu que se vencer as eleições presidenciais, muitos dos generais que Emmerson Mnangagwa colocou no Governo passarão compulsivamente à reforma e vão ter de explicar devidamente as fontes do seu enriquecimento.
Contrariamente ao que antes sucedia, onde eram poucos os partidos que ousavam avançar para as eleições, desta vez o cenário altera-se e dos mais de cem partidos registados existe já a certeza de que 23 vão avançar com candidaturas