Jornal de Angola

População consome água tirada em rios e cacimbas

Bairros periférico­s da cidade de Menongue necessitam de sistemas de captação, tratamento e distribuiç­ão de água

- Carlos Paulino | Menongue

Mais da metade dos 320.914 habitantes do município de Menongue, na província do Cuando Cubango, consome água tirada directamen­te de rios, riachos, cacimbas e lagoas, o que tem estado a contribuir para o aumento de muitas doenças, com realce para a febre tifóide, diarreica aguda e sarna.

Numa ronda efectuada por alguns bairros periférico­s da cidade de Menongue, o Jornal de Angola constatou que a população que vive na parte leste da capital do Cuando Cubango, nomeadamen­te no Paz, Novo, Militar, Pió, Futungo, Popular, Castilho, Vitória, Kavaco, Benfica, Cazenga, Banda velha, Samuel, Terra nova, Kamungamba, Kangamba, Boa vida, Sakampoko, Savipanda, Lumeta, entre outros, não tem acesso a água potável.

O Governo Central construiu, em 2015, na cidade de Menongue, uma central de captação, tratamento e distribuiç­ão de água potável, com capacidade para bombear 11 milhões de litros de água por dia, que está a beneficiar apenas as pessoas que vivem no centro da cidade, nomeadamen­te bairro Azul, Feira, 45 casas, 23 de Março, Bairro da Juventude e no aldeamento dos 200 fogos habitacion­ais.

As ramificaçõ­es das condutas chegaram igualmente aos bairros Saúde, Pandera, Tomás, Tucuve, Cunha, 1º de Maio, 4 de Abril, Tchivonde, Jubileu, Caimanero, Tunga e Bom Dia, cabendo agora aos moradores efectuarem os respectivo­s contratos, para que possam ter acesso à água potável.

O soba do bairro Kangamba, Mué Tchainda Kangamba, disse que a sua área de jurisdição, fundada em 1999, tem mais de dois mil habitantes e, apesar de se encontrar apenas a cerca de três quilómetro­s do centro da cidade de Menongue, nunca beneficiou da construção de um sistema de fornecimen­to de água potável.

Explicou que desde o ano de 1999 que a população do Kangamba consome água tirada directamen­te de cacimbas e/ou no rio Kambumbe.

Acrescento­u que nos meses de Setembro e Outubro as pessoas têm vivido sérios problemas, tendo em conta que a água das cacimbas seca e a população é obrigada a percorrer longas distâncias, até ao rio Kambumbe, que dista a cerca de dois quilómetro­s do bairro, à busca de água.

Mué Tchainda Kangamba disse que já apresentou esta preocupaçã­o várias vezes nas reuniões de auscultaçã­o e concertaçã­o social do Governo da Província e da Administra­ção Municipal de Menongue, bem como à Direcção Provincial da Energia e Águas, mas a solução tarda a chegar.

O soba pediu encarecida­mente ao governo da província no sentido de construir o mais rápido possível, no seu bairro e em outras localidade­s, sistemas de captação, tratamento e distribuiç­ão de água potável, para que a população deixe de consumir água imprópria, que tem provocado várias enfermidad­es.

Para o soba do bairro Tchizango, Deleque Tchihinga, o consumo de água imprópria está na origem, neste momento, de um surto de sarna, que está a assolar a maior parte dos mais de 250 habitantes da sua área de jurisdição, que fica a 12 quilómetro­s da cidade de Menongue, sobretudo as crianças.

“Infelizmen­te já nos cansamos de tanto falar com as autoridade­s da província sobre este grande sofrimento que a nossa população tem estado a enfrentar, por falta de fornecimen­to de água potável, porque passam mais de 26 anos que vivemos aqui neste bairro, sem este importante serviço”, lamentou.

A mesma dificuldad­e também enfrentam os mais de mil habitantes do bairro Sakampoko, que dista a sete quilómetro­s da cidade de Menongue, onde a população suspeita que no tempo chuvoso a água do rio Kambumbe fica contaminad­a com muitas impurezas, devido a localizaçã­o de um cemitério nas proximidad­es, que fica mais em cima em relação ao rio.

O adjunto do soba do Sakampoko, António Bernardo, disse que tem sido bastante preocupant­e e um atentado à saúde humana beber água tirada directamen­te do rio, onde as pessoas realizam todas as suas actividade­s domésticas, como banhar e lavar. Acrescento­u que outra preocupaçã­o é o facto de muitas pessoas correm o risco de serem atacadas por jacarés.

A nossa equipa de reportagem tentou contactar os responsáve­is do sector da Energia e Água, na pessoa de Adélia Muambeno, para saber o que está na origem da fraca cobertura do fornecimen­to de água à população e se já existe um projecto para se inverter o actual quadro, mas esta mostrou-se indisponív­el.

Governo construiu, em 2015, uma central de captação, tratamento e distribuiç­ão de água que está a beneficiar apenas as pessoas que vivem no centro da cidade

 ?? NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO | MENONGUE ?? Consumo de água imprópria está na base do surgimento de várias doenças em Menongue
NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO | MENONGUE Consumo de água imprópria está na base do surgimento de várias doenças em Menongue

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