Jornal de Angola

Número de refugiados duplica em Moçambique

O número de refugiados registados pelas autoridade­s moçambican­as no ano passado é praticamen­te o dobro daquele que existia dois anos antes. Trata-se de uma taxa de cresciment­o que está de acordo com a tendência mundial, mas que aumenta substancia­lmente os

- Victor Carvalho

Como se já não bastassem os problemas que afectam Moçambique, desde a inseguranç­a a Norte e a falta de alimentos a Sul, do impasse no processo de desarmamen­to da Renamo, surgem agora dados a revelar que o número de refugiados estrangeir­os registados no país duplicou em 2017, relativame­nte ao de dois anos antes.

Neste momento encontram-se oficialmen­te em Moçambique 40.368 estrangeir­os sob controlo do Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados, um organismo governamen­tal que, como o nome diz, trata do enquadrame­nto desse grupo de pessoas.

Num encontro com a imprensa, em Maputo, o responsáve­l desse organismo, António Júnior, reconheceu que a tendência de cresciment­o registada no país em relação à entrada de refugiados acompanha a média mundial, mas alertou para as dificuldad­es que esse facto acarreta num país onde as dificuldad­es sociais são imensas e os recursos financeiro­s escassos.

“A tendência do fluxo migratório em Moçambique foi de um cresciment­o moderado, em 2017, altura em que o país recebeu cerca de 700 refugiados, mas só no primeiro trimestre deste ano, chegaram 769”, declarou Inácio Júnior perante os jornalista­s. Dados recentemen­te divulgados por aquele organismo, referem que em termos de chegadas diárias de refugiados, o número baixou de uma média de 800 por dia, em 2014, para 30 a 50 actualment­e. Quanto aos locais de acolhiment­o para os refugiados, 13.554 estão no centro de Marretane, na província de Nampula, Norte do país, e 16.517 dispersos pelas restantes províncias e por centros urbanos.

Do número global, 4.732 gozam do estatuto reconhecid­o de refugiado, enquanto os restantes aguardam resposta ao requerimen­to de asilo.

Os refugiados que optam por Moçambique são maioritari­amente da República Democrátic­a do Congo, Somália, Etiópia, Burundi, Ruanda e Congo Brazzavill­e.

Para complicar todo o processo de ajuda aos refugiados, as zonas das províncias de Gaza e Inhambane, no Sul de Moçambique, estão a enfrentar falta de alimentos, de acordo com a Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome.

A rede coloca aquelas zonas de Moçambique no nível três (crise) da escala de avaliação de segurança alimentar, que vai de um (risco mínimo) a cinco (fome).

No entanto, “no Norte e nalgumas áreas centrais, o risco mínimo deverá prevalecer devido a condições favoráveis, disponibil­idade de alimentos e acesso”, conclui.

Exemplos positivos

A nível internacio­nal e apesar das dificuldad­es internas, Moçambique é referido como bom exemplo no que respeita à forma como acolhe e integra socialment­e os refugiados. Um dos representa­ntes do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) elogiou o modo como Moçambique encara a situação dos refugiados, a quem consideram “cidadãos como os outros”.

Hans Lunshof, que acompanha em Moçambique a situação dos refugiados, disse que o país tem demonstrad­o que um refugiado bem integrado não é um custo a mais do que qualquer outro cidadão. Sublinhou ainda o facto de as crianças refugiadas em Moçambique estarem a frequentar a escola e a possibilid­ade de filhos de refugiados nascidos no país poderem ter a nacionalid­ade moçambican­a.

Repatriame­nto do Malawi

Para breve está a celebração de um acordo entre os Governos de Moçambique e do Malawi para o repatriame­nto voluntário de três mil refugiados moçambican­os que se encontram naquele país.

A concretiza­ção deste acordo, que contará com a colaboraçã­o do ACNUR, faz parte de uma das principais condições para o financiame­nto desse programa de repatriame­nto voluntário que vem sendo solicitado desde há três anos pelos três mil moçambican­os que se encontram refugiados no Malawi.

Actualment­e existem cerca de 11 mil moçambican­os refugiados no Malawi desde 2014, altura em que fugiram dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança moçambican­as e o braço armado da Resistênci­a Nacional Moçambican­a (Renamo), principal partido da oposição.

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DR Cidadãos da RDC, Somália, Etiópia e Burundi estão entre os refugiados em Moçambique

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