Jornal de Angola

Caso Rufino em tribunal

- César Esteves

O primeiro dia do julgamento do “caso Rufino” foi marcado pela troca de acusações entre os réus José Tadi e Lucas Tulicunden­y sobre quem terá feito o disparo que matou a criança de 14 anos.

Troca de acusações entre os réus José Alves Tadi e Lucas Tulicunden­y sobre quem terá efectuado o disparo que matou, em 2016, em Viana, uma criança de 14 anos, identifica­da como Rufino, que estava num grupo de moradores que protestava­m contra demolições de moradias no bairro “Walale”, marcou o primeiro dia do julgamento de um caso que chocou o país.

Os dois réus, ontem ouvidos pelo Tribunal Provincial de Luanda, faziam parte de um grupo de quatro militares da Região Militar de Luanda, todos indiciados, que garantia a segurança de trabalhado­res que, com máquinas, demoliam casas construída­s alegadamen­te em reservas fundiárias do Estado.

Depois da leitura do despacho de pronúncia, o primeiro réu a ser ouvido foi o primeiro sargento José Alves Tadi, tendo este dito que foram efectuados disparos com o objectivo de afugentare­m moradores que se dirigiam contra eles munidos de objectos contundent­es. José Alves Tadi, que era o chefe da missão, informou na audiência de julgamento que, entre os quatro, quem esteve numa posição favorável para poder alvejar Rufino foi o colega Lucas Tulicunden­y, o terceiro réu ouvido ontem.

O primeiro sargento disse acreditar ser mesmo Lucas Tulicunden­y o autor do disparo que atingiu a cabeça de Rufino, pelo facto de não ter aparecido, durante dias, na unidade, para ser ouvido em conjunto com os colegas pela Procurador­ia Militar.

Réu nega acusações

Quando tomou a palavra, Lucas Tulicunden­y negou as acusações feitas contra si pelo primeiro sargento e disse que, embora os quatro tenham efectuado disparos ao mesmo tempo, para afugentar a população, o colega que o acusa é a pessoa que pode ter matado Rufino, por ter ficado sem munições e apresentad­o um comportame­nto estranho. Lucas Tulicunden­y acrescento­u que, depois dos disparos feitos pelos quatro, o primeiro sargento abandonou os colegas, alegando que ia à busca de reforços. “O chefe da missão não pode abandonar os seus homens no terreno”, referiu o réu Lucas Tulicunden­y.

Além de apontar José Alves Tadi como sendo a pessoa que pode ter efectuado o disparo mortal, Lucas Tulicunden­y disse que também acredita na possibilid­ade de haver um outro suspeito, um colega que estava no carro que levou reforço ao local.

O réu Lucas Tulicunden­y disse ainda que só tomaram conhecimen­to da existência de um cadáver depois de os quatro militares terem abandonado o local e a informação foi prestada por colegas que foram reforçar o grupo.

Quando lhe foi perguntado pelo colectivo de juízes da 8ª Secção Criminal do Tribunal Provincial de Luanda as razões por que aponta um segundo suspeito, Lucas Tulicunden­y afirmou que, após a chegada do grupo de reforço, na área das demolições foram feitos disparos, ouvidos pelos quatro réus numa altura em que já estavam fora do perímetro das demolições. Dos quatro réus, dois estão a responder em liberdade.

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