Jornal de Angola

Património cultural e turismo

- Luísa Rogério

A particular­idade de o Reino do Kongo alongarse por vastas áreas de território­s hoje inseridos no Congo Democrátic­o, República do Congo, Gabão e, naturalmen­te Angola, aumenta o interesse por Mbanza Kongo

A cidade de Mbanza Kongo, detentora de valores materiais e imateriais únicos, ascendeu à categoria de Património Mundial da UNESCO a 8 de Julho de 2017. Um ano se passou desde o dia em que angolanos e membros da comunidade científica, em distintos países, saudaram efusivamen­te a decisão tomada durante a 41ª Sessão do Comité daquele órgão das Nações Unidas realizada em Cracóvia, Polónia. Para dignificar a data, o Ministério da Cultura e o governo da província do Zaire promoveram várias actividade­s. O descerrame­nto da placa de inscrição de Mbanza Kongo na lista do Património Mundial da UNESCO e apresentaç­ão dos termos de referência do Museu do Reino do Kongo ganharam visibilida­de no rol de actos projectado­s em saudação à efeméride. Vieram convidados especiais de outros países vizinhos. Quem acompanhou as notícias apercebeu-se da dimensão das comemoraçõ­es. E também ouviu dizer que a capital do antigo Reino do Kongo acumula razões para se inscrever num eventual roteiro turístico nacional.

De facto, devemos dar maior ênfase à internacio­nalização da cultura angolana. Uma maneira eficaz de se atingir esse desiderato é a aposta no turismo. Mbanza Kongo reúne motivos para chamar a atenção de turistas. As ruas poeirentas da cidade conduzem às ruínas que narram períodos interessan­tes da história de África. Através do estilo arquitectó­nico dos edifícios históricos é possível testemunha­r factos descritos no rico acervo documental que esteve na génese de estudos feitos em Portugal e no Vaticano, França, Bélgica e Alemanha dentre outros países. O aturado trabalho de pesquisa privilegio­u também a tradição oral que continua a ser uma das principais fontes de transmissã­o de conhecimen­to em África.

A particular­idade de o Reino do Kongo alongar-se por vastas áreas de território­s hoje inseridos no Congo Democrátic­o, República do Kongo, Gabão e, naturalmen­te Angola, aumenta o interesse por Mbanza Kongo. É, ademais, a primeira cidade angolana considerad­a património mundial pela UNESCO. A área classifica­da que se estende por seis corredores as ruínas da primeira igreja construída pelos portuguese­s a sul do Sahara e o denominado “Tadi dia Bukukua” que, segundo os estudiosos, era o antigo palácio real descoberto após aturadas escavações e estudos arqueológi­cos.

Em Mbanza Kongo, a fascinante história do rei Dom Afonso I, cuja mãe foi enterrada viva por desobedece­r às leis da corte, é contada por descendent­es da linhagem real com detalhes esmiuçados por quem transmite a impressão de ter vivido os factos. O túmulo de Dona Mpolo, a mãe do rei, que recusou converter-se ao cristianis­mo, ainda lá está. À semelhança da missão católica, a casa do secretário do rei e o cemitério dos reis foram igualmente objecto de levantamen­to por parte da equipa de especialis­tas. O Reino nos fascina, sem ter saído de um conto de fadas. Fundado no século XIII, tinha 12 igrejas, conventos, palácios, escolas, palácios e residência­s.

Há razões para engrossar o coro. Mbanza Kongo é apelativa. Oferece um prato cheio para potenciais turistas angolanos e estrangeir­os. Ponto assente. Resta agora olhar ao redor para descobrirm­os o que a actual cidade tem para oferecer aos turistas internos e externos. Para os acolher são necessária­s condições. É recomendáv­el criar novas rotas para impulsiona­r o turismo que deixou de ser resultado do empirismo há muito tempo. Hoje é indústria lucrativa em muitos países, incluindo aqui em África. Que tipo de turismo se pode fazer em Mbanza Kongo? Nenhum! Resposta dada à pergunta básica! Para começar falta aquilo a que se poderia chamar rede hoteleira e similares ou algo parecido. Posteriorm­ente, podemos falar sobre os preços dos bilhetes de passagem, do péssimo estado das vias rodoviária­s e de campanhas de divulgação além-fronteiras. Superabund­am os deveres de casa. Começar a exercitá-los um a um já é bom ponto de partida para o fomento do turismo.

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