Nível técnico do Mundial impressiona Miller Gomes
A melhoria do nível técnico do futebol, registada na primeira fase, bem como nos oitavos e quartos-de-final da 21.ª edição do Mundial em curso na Rússia, é destacada pelo técnico angolano Miller Gomes, apesar de desiludido com o fracasso das estrelas que têm dominado as principais provas de clubes.
“Penso ser unânime que o nível técnico das equipas e dos jogadores neste Mundial supera o do Mundial realizado no Brasil há quatro anos. Hoje temos jogos com transições ofensivas feitas a uma velocidade impressionante. A recepção orientada, passe e a sua precisão, assim como a qualidade de finalização, seja ela em remate ou por bola colocada, quer com o pé quer com a cabeça, indiciam o nível alto de qualidade técnica que hoje define claramente a qualidade de jogo das equipas”, argumentou o treinador, um dos comentadores da prova na Televisão Pública de Angola.
Miller Gomes defende que a primeira fase do Mundial demonstrou a evolução de selecções menos cotadas e, acima de tudo, “veio reforçar aquilo que sempre se diz e sabe do futebol, uma caixinha de surpresas”. A eliminação da Alemanha foi, para o treinador, o acontecimento mais inusitado, porque além de ser a campeã em título, “tem uma selecção bem maturada desportivamente, com valores individuais bem acima da média, que fazem dela uma verdadeira potência mundial”.
O desempenho do Senegal, pelo futebol apresentado, foi igualmente objecto de análise do treinador campeão do Girabola ao serviço do Recreativo do Libolo, em função dos primeiros resultados, sem deixar de olhar para o Egipto, que apesar de ter estado num grupo difícil, “alimentou alguma esperança, pelo facto de se esperar um pouco mais de Mohammed Salah”.
A saía de cena prematura da Alemanha levou Miller Gomes a aprofundar a avaliação: “É verdade que em edições passadas aconteceu a eliminação do campeão, mas nada indiciava que os alemães fossem cair tão cedo. Se calhar, algumas selecções começam a ter receio de ganhar, para não saírem de prova tão cedo. Penso que a Alemanha não fez a melhor abordagem dos primeiros jogos da fase de grupo. No terceiro esteve muitos furos abaixo da sua qualidade.”
Estrelas sem brilho
Defensor da qualidade individual colocada à disposição do colectivo, o antigo futebolista e seleccionador feminino e dos Sub-20, actual -mente ligado aos quadros do 1º de Agosto, lamentou o fracasso as estrelas, que deixaram “um sabor amargo”.
“Pensava que fosse ser o Mundial dos consagrados. Daqueles jogadores que nos últimos tempos têm vindo a ser as grandes referências. Obviamente que se esperava mais e até melhor de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Apesar de ter marcado quatro golos em quatro jogos realizados, esperava um Ronaldo melhor a decidir lances. Já Lionel Messi ficou muito aquém da sua qualidade. Pensava que por ter sido decisivo e responsável pela qualificação da Argentina, no último jogo, marcando e fazendo jogar a sua selecção, fosse marcar a diferença. Neste Mundial, ficou bem patente alguma ‘incompatibilidade’ com os colegas, sobretudo na forma e modelo em que a Argentina joga”, sentenciou.
A mudança de treinador por parte da Espanha exige uma reflexão profunda, defendeu Miller Gomes. “Temos de perceber que as lideranças não são iguais, por mais ou menos competências. Penso que, por muito que se queira minimizar esta situação, sempre iria provocar os seus danos, mais cedo ou mais tarde”, explicou.
Estrela em ascensão na França, Kylian Mbappe foi “radiografado” pelo estudioso do futebol: “É jovem. Tem tempo para crescer futebolisticamente e aparecer com maior evidência. É um jogador forte, rápido e inteligente, qualidades que o futebol actual exigem do atleta. Estão criadas as melhores condições para, rapidamente, se afirmar.”