Absentismo no trabalho continua à rédea solta
O absentismo no trabalho, apesar de ser dos maiores entraves ao desenvolvimento de um país, anda, entre nós, à solta, raramente mencionado, como se fosse algo natural, mas devastador na sua caminhada criminosa.
O absentismo tem o berço no nepotismo, sob as mais variadas formas, que, ao contrário do que alguns pensam, ou fingem, vai além do parentesco. Abarca, igualmente, o amiguismo, que, bem visto, pouco ou nada tem a ver com amizade. Pode, isso sim, ser troca de favores, comércio de interesses. Seja qual for a origem e a roupagem que veste, somente sobrevive à sombra da gigantesca impunidade.
Os absentistas, como tentáculos de polvo, garras criminosas de abutres, sanguessugas, tsunami, lavas de vulcão enfurecido, estendem-se por todos os sectores, arrasam-nos, chupamlhe o sangue. Também são aproveitadores do trabalho alheio, à custa do qual vivem. Estão ainda dispostos a se venderem por qualquer preço, a troco da “boa vida”.
Os inqualificáveis absentistas dividem-se em vários grupos, entre eles sobressaem os que não se dão sequer ao trabalho de aparecer no local de emprego e os que aparecem, mas não produzem, numa atitude passiva que se pode considerar “greve de zelo”. Em comum, além de não fazerem nada, recebem o vencimento, em alguns casos até mordomias, e beneficiam da impunidade, à custa dos que efectivamente "dão o litro".
O absentismo no trabalho é nocivo a qualquer país, mas, por maioria de razões, muito mais ainda naqueles, como o nosso, cuja economia é, por uma série de causas, frágil.
Um país como o nosso, no qual a falta de mão-de-obra qualificada, de técnicos especializados e de quadros capazes nos mais variados sectores é gritante, não se pode “dar ao luxo” de funcionar a duas velocidades, com os que tentam, no desempenho das funções que lhes são atribuídas, empurrá-lo para a frente, rumo ao desenvolvimento necessário, e os que fazem exactamente o contrário, a coberto da impunidade, que, acentue-se, continua ainda... a rir-se em Angola.
O absentismo não é “esquisito”, nem “discriminatório”. Entre nós, abarca todos os sectores e profissões. Como sucede nos estabelecimentos de ensino, onde quem devia dar o exemplo a crianças e jovens da dignificação do trabalho e do quanto ele é imprescindível para o progresso de Angola prima pelas ausências constantes, com as mais estapafúrdias desculpas, ou, igualmente condenável, os que fazem das escolas apenas meio de ter vários vencimentos, saltando de uma para a outra, como pardal em ramo de árvore.
Há ainda aqueles que, noutros ramos de actividade, propõem-se exercer tarefas para as quais sabem não reunir o mínimo de aptidões. Esquecendo o adágio que previne que “o sapateiro não deve ir além do chinelo”. Levados pela ganância, recebem o dinheiro que não merecem. Em alguns casos, até, pela segunda vez no mesmo mês, pois têm outro “emprego”ou estão oficialmente reformados. Também embalados pelo egoísmo que os impede de ter vergonha de pensar que há quem esteja desempregado por haver lugares ocupados por quem não devia.
O absentismo, entre nós, é de tal forma descaradamente consentido, que, de certeza, há casos de quem tenha vivido largos anos a praticá-lo e já esteja “reformado”, a receber como tal.
O combate à corrupção não tem retorno, como não se cansa de sublinhar o Presidente da República, e já começou. Mas é muito mais longo e difícil do que se possa pensar. Porque tem vários aliados, um dos quais o absentismo. Todos encostados, aconchegados, à sombra maldita da impunidade hão-de de continuar a andar por aí à rédea solta. A servir de travão ao desenvolvimento que a maioria dos angolanos deseja.
O combate ao absentismo tem de começar a ser travado e já não é cedo. Não apenas pelo Governo, mas de todos os que repudiam aquela prática miserável.
De forma a que as gerações vindouras vivam num país melhor, mais justo, solidário, decente, livre dos males que ainda nos atormentam o dia-a-dia.
O absentismo ao trabalho é dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de Angola, mas continua à solta na caminhada devastadora à sombra da impunidade que o acolhe