Angola quer cooperação mais focada na juventude
Chefe da diplomacia angolana falou no painel sobre “Perspectivas políticas para o futuro do relacionamento entre africanos e europeus”, no 1º Fórum ‘EurAfrican’
O ministro das Relações Exteriores disse terça-feira, em Lisboa, que o Governo angolano quer uma nova cooperação entre Europa e África adaptada às expectativas e às necessidades da juventude.
Manuel Augusto falava no painel sobre “Perspectivas políticas para o futuro das relações entre África e Europa”, no 1º Fórum ‘EurAfrican’ aberto pelo Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe da diplomacia angolana disse que o continente africano está aberto para continuar a cooperar com a Europa, mas quer uma cooperação adaptada ao actual momento, virada fundamentalmente para as expectativas e as necessidades dos jovens.
O ministro indicou que a maioria dos países africanos defende que haja uma plataforma de entendimento exclusivamente entre a Europa e África e que os europeus encontrem outros caminhos para cooperar com as Caraíbas e o Pacífico.
“O mundo continua a funcionar em blocos. Assistimos hoje, e vimos em algumas apresentações esta manhã, o papel que a Ásia vai tendo no mundo. Uma Ásia que está muito próxima de África, que trabalha com os africanos em novos moldes e que obriga a Europa a repensar o seu modelo de cooperação com a África”, salientou.
Manuel Augusto disse ser necessário evitar-se pensamentos negativos sobre a relação entre a Ásia e África, nomeadamente discursos anti-China, como “o chinês não é bom para cooperar com a África, mas é bom para cooperar com a Europa e com os Estados Unidos.”
“É preciso entender que a África já não está na fase de aceitar essa discriminação, seja ela positiva ou negativa. Isso obriga que os europeus e africanos estabeleçam novas linhas de força para o seu relacionamento, até porque é evidente que há como vantagens a ligação histórica em muitos casos”, asseverou.
Actualmente, disse, assistese, com muita satisfação e orgulho, o papel proeminente do sector privado africano na cooperação entre Europa e África, com incursões em matérias de investimentos em países europeus.
Manuel Augusto recordou que Angola viveu um longo período de guerra e, terminado o conflito, virou-se aos parceiros tradicionais no Ocidente. “Pretendia-se e esperava-se, como qualquer país que vem de uma guerra, uma grande conferência de doadores, um plano Marchal para reconstruir Angola, mas lhe foi negada esta possibilidade, pois dizia-se que Angola era um país rico e não precisava de ajuda”, sublinhou.
O ministro explicou que Angola teve de virar as atenções para o Oriente e, em 16 anos de paz, com o parceiro chinês, fundamentalmente, construíram-se estradas e barragens, bem como se reabilitou caminhos-de-ferro, num conjunto de infraestruturas minimamente aceitáveis para um país que foi destruído pela guerra.
O 1º Fórum ‘EurAfrican’, organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, pretendeu contribuir para um futuro “próspero e sustentável” em África e na Europa, aproveitando sinergias e promovendo oportunidades de negócios com benefícios mútuos, valorizando sobretudo as novas gerações. Participaram no encontro líderes europeus e africanos do mundo empresarial, político e membros da sociedade civil.
Depois de Lisboa, o ministro das Relações Exteriores seguiu para o Reino de Marrocos, onde cumpre, hoje e amanhã, uma visita oficial de dois dias. A visita a Marrocos acontece na sequência do encontro mantido entre os dois Chefes de Estado na Cimeira Europa-África, realizada em Abidjan, Costa do Marfim, em Outubro do ano passado.
A missão no Reino de Marrocos enquadra-se igualmente na resposta recente da visita que o ministro dos Negócios Estrangeiros daquele país, Nasser Bourita, realizou a Angola, na qualidade de enviado especial do Rei Mohamed VI. Na ocasião, o chefe da diplomacia marroquina foi recebido pelo Presidente João Lourenço.
Depois de Marrocos, o ministro Manuel Augusto desloca-se à Ilha do Sal, Cabo Verde, onde de 17 a 18 deste mês participa na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“O continente africano está aberto para continuar a cooperar com a Europa, mas quer uma cooperação adaptada ao actual momento”