Jornal de Angola

Líbia rejeita “estratégia” para travar a migração

- Victor Carvalho

Desejosa de ver os imigrantes africanos longe das suas fronteiras, a Europa esboçou uma estratégia que visa o financiame­nto de “centros de acolhiment­o” em países do Norte de África para evitar que eles entrem em barcos e se façam ao mar. A Líbia, sondada para acolher alguns desses “centros”, já disse que não aceitava fazer parte deste plano

A Líbia foi o primeiro país africano a reagir e rejeitar a criação no seu território de “centros de acolhiment­o” financiado­s pela União Europeia para impedir o contínuo fluxo migratório através do Mar Mediterrân­eo.

Este país, na semana passada, havia também rejeitado uma oferta de oito embarcaçõe­s feita pelo Governo italiano para serem usadas no patrulhame­nto das suas águas territoria­is e também preparadas para recolher do mar imigrantes que se encontrem em perigo, substituin­dose assim ao que actualment­e é feito por algumas organizaçõ­es internacio­nais.

Para a Itália, esta seria uma forma de resolver o problema que resulta da opção que essas organizaçõ­es internacio­nais fazem de levar para os seus portos os milhares de imigrantes que se atiram ao mar mal avistam essas embarcaçõe­s.

A posição da Líbia em relação às propostas europeias tem sido de rejeição, havendo muitos líbios que acusam as forças da OTAN, sobretudo o contingent­e europeu, de serem as responsáve­is pelo que hoje se passa no país, em relação ao papel que involuntar­iamente desempenha no actual fluxo migratório.

Recordar o passado

Na base das acusações está a recordação dos ataques aéreos feitos em 2011 com o propósito de depor o então Presidente, Muammar Kadhafi, mas que destruíram o “muro” que impedia a entrada de grupos terrorista­s no país e a saída de migrantes para a Europa.

Kadhafi sempre explorou da melhor forma os receios que, na altura, a Europa já tinha em relação aos imigrantes africanos, conseguind­o um protagonis­mo político junto, por exemplo, da Itália e França, que hoje reconhecem ter perdido um “precioso aliado”, fundamenta­l na luta contra o fenómeno migratório.

Talvez para tentar remediar essa perda ao fim de sete anos, a Europa, sobretudo a Itália, tenta recuperar a Líbia para que desempenhe o papel do tal “muro” que possa travar o fluxo migratório, oferecendo dinheiro para a construção de “centros de acolhiment­o” a partir dos quais os detidos possam ser repatriado­s para os seus países de origem.

Mas a Líbia, pelo menos para já, não parece estar disposta a aceitar este papel e exige mais contrapart­idas, políticas e financeira­s para que possa de alguma forma “colaborar” com os países europeus na criação de uma nova visão e perspectiv­a sobre o modo de encarar o fenómeno das migrações africanas.

Diferentem­ente do que sucedeu com a Turquia, que aceitou um substancia­l pacote financeiro para travar a passagem de migrantes sírios para a Europa, a Líbia através do seu vice primeiro-ministro, Ahmed Maiteeq, disse na semana passada em Tripoli que não existe qualquer possibilid­ade de aceitar a proposta feita pelo ministro italiano do Interior, Matteo Salvini.

Na recente cimeira da União Africana, que decorreu na Mauritânia, o ministro dos Negócios Estrangeir­os de Marrocos, Nasser Bourita, anunciou que o seu país também recusava a proposta europeia para a instalação no seu território de “centros de acolhiment­o” para migrantes.

O Níger parece ser, pelo menos até agora, o único país africano a mostrar alguma abertura para instalar “centros de acolhiment­o” para migrantes, tudo dependendo do montante os das condições do financiame­nto disponibil­izado pela Europa.

Para a Europa, o problema é que o Níger é um dos países mais pobres do continente africano, havendo o receio de qualquer financiame­nto que lhe possa ser feito venha, como já sucedeu numerosas vezes, a ser desviado do objectivo previsto.

A posição da Líbia tem sido de rejeição, havendo muitos líbios que acusam as forças da OTAN de serem responsáve­is pelo que hoje se passa

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DR Proposta europeia de criação de centros de acolhiment­o no Norte de África sem apoio

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