Líbia rejeita “estratégia” para travar a migração
Desejosa de ver os imigrantes africanos longe das suas fronteiras, a Europa esboçou uma estratégia que visa o financiamento de “centros de acolhimento” em países do Norte de África para evitar que eles entrem em barcos e se façam ao mar. A Líbia, sondada para acolher alguns desses “centros”, já disse que não aceitava fazer parte deste plano
A Líbia foi o primeiro país africano a reagir e rejeitar a criação no seu território de “centros de acolhimento” financiados pela União Europeia para impedir o contínuo fluxo migratório através do Mar Mediterrâneo.
Este país, na semana passada, havia também rejeitado uma oferta de oito embarcações feita pelo Governo italiano para serem usadas no patrulhamento das suas águas territoriais e também preparadas para recolher do mar imigrantes que se encontrem em perigo, substituindose assim ao que actualmente é feito por algumas organizações internacionais.
Para a Itália, esta seria uma forma de resolver o problema que resulta da opção que essas organizações internacionais fazem de levar para os seus portos os milhares de imigrantes que se atiram ao mar mal avistam essas embarcações.
A posição da Líbia em relação às propostas europeias tem sido de rejeição, havendo muitos líbios que acusam as forças da OTAN, sobretudo o contingente europeu, de serem as responsáveis pelo que hoje se passa no país, em relação ao papel que involuntariamente desempenha no actual fluxo migratório.
Recordar o passado
Na base das acusações está a recordação dos ataques aéreos feitos em 2011 com o propósito de depor o então Presidente, Muammar Kadhafi, mas que destruíram o “muro” que impedia a entrada de grupos terroristas no país e a saída de migrantes para a Europa.
Kadhafi sempre explorou da melhor forma os receios que, na altura, a Europa já tinha em relação aos imigrantes africanos, conseguindo um protagonismo político junto, por exemplo, da Itália e França, que hoje reconhecem ter perdido um “precioso aliado”, fundamental na luta contra o fenómeno migratório.
Talvez para tentar remediar essa perda ao fim de sete anos, a Europa, sobretudo a Itália, tenta recuperar a Líbia para que desempenhe o papel do tal “muro” que possa travar o fluxo migratório, oferecendo dinheiro para a construção de “centros de acolhimento” a partir dos quais os detidos possam ser repatriados para os seus países de origem.
Mas a Líbia, pelo menos para já, não parece estar disposta a aceitar este papel e exige mais contrapartidas, políticas e financeiras para que possa de alguma forma “colaborar” com os países europeus na criação de uma nova visão e perspectiva sobre o modo de encarar o fenómeno das migrações africanas.
Diferentemente do que sucedeu com a Turquia, que aceitou um substancial pacote financeiro para travar a passagem de migrantes sírios para a Europa, a Líbia através do seu vice primeiro-ministro, Ahmed Maiteeq, disse na semana passada em Tripoli que não existe qualquer possibilidade de aceitar a proposta feita pelo ministro italiano do Interior, Matteo Salvini.
Na recente cimeira da União Africana, que decorreu na Mauritânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos, Nasser Bourita, anunciou que o seu país também recusava a proposta europeia para a instalação no seu território de “centros de acolhimento” para migrantes.
O Níger parece ser, pelo menos até agora, o único país africano a mostrar alguma abertura para instalar “centros de acolhimento” para migrantes, tudo dependendo do montante os das condições do financiamento disponibilizado pela Europa.
Para a Europa, o problema é que o Níger é um dos países mais pobres do continente africano, havendo o receio de qualquer financiamento que lhe possa ser feito venha, como já sucedeu numerosas vezes, a ser desviado do objectivo previsto.
A posição da Líbia tem sido de rejeição, havendo muitos líbios que acusam as forças da OTAN de serem responsáveis pelo que hoje se passa