Eritreia e Etiópia reforçam clima de paz
Agenda dos líderes inclui conversações para selar o acordo de paz e a normalização das relações diplomáticas entre os dois países
O Presidente da Eritreia, Isaias Afwerki, chegou ontem à Etiópia para a primeira visita em 22 anos e na sequência da recente deslocação histórica do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, a Asmara. Milhares de pessoas deslocaram-se à capital da Etiópia, Addis Abeba, para receber o Presidente Isaias Afwerki, de 72 anos, cuja visita é o mais recente passo para pôr fim ao estado de guerra entre os dois países.
O Presidente eritreu, Isaias Afewerki, naquilo que é um exemplo para a África e o Mundo, iniciou ontem uma visita histórica à Etiópia, no âmbito da normalização das relações diplomáticas entre os dois países que havia já levado o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, a Asmara, capital da Eritreia.
Durante três dias, os dois líderes vão limar as arestas ao acordo de paz que assinaram há uma semana em Asmara e que marcou um importante virar de página na histórica relação entre a Eritreia e a Etiópia.
Após quase meio século de conflito, 20 anos dos quais caracterizados por violentas e mortíferas hostilidades, a Etiópia e a Eritreia acabam de dar um exemplo ao Mundo depois de selarem uma paz que se espera possa ser efectivamente definitiva.
Com rescaldo dos tempos de horror e de terror, há a registar a morte de dezenas de milhares de pessoas e um número consideravelmente maior de deslocados.
Um dos principais responsáveis pelo fim do conflito, unanimemente reconhecido como um político carismático e verdadeiramente empenhado em resolver os problemas que encontrou, é Abiy Ahmed, o novo primeiroministro etíope que mal chegou ao poder, há cerca de três meses, logo disse que uma das suas principais prioridades era obter a paz com a vizinha Eritreia.
Antigo oficial do Exército, com um doutoramento em resolução de conflitos, Abiy Ahmed foi empossado em Abril, já foi alvo de um atentado à bomba e acaba de cumprir a primeira promessa que fez: assinar a paz com a Eritreia. Uma outra promessa, a de acabar com os conflitos étnicos no país, acaba de ter agora um avanço positivo com as tréguas anunciadas por um grupo independentista e que abrem portas às conversações que se deverão iniciar em breve.
Quando há duas semanas atrás Abiy Ahmed abraçou pela primeira vez em Addis Abeba o Presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, muitos ainda duvidavam de que a paz seria possível.
O próprio Presidente eritreu não parecia muito convencido da possibilidade de um jovem de 42 anos, que acaba de chegar ao poder, ser capaz de compreender o que verdadeiramente separa os dois países e muito menos de criar as condições para que os militares etíopes aceitassem a paz.
Antes de regressar a Asmara, Isaias Afewerki, deixou com Abiy Ahmed uma série de condições sem a resolução das quais não seria possível a paz. Disse ainda, na ocasião, que o próximo encontro, se o houvesse, teria que se realizar em território eritreu.
Resposta imediata
Logo na semana seguinte, depois de múltiplas reuniões internas com as chefias militares etíopes, Abiy Ahmed aterrou em Asmara com um largo sorriso estampado no rosto à frente de uma numerosa delegação para apresentar a Isaias Afewerki um documento onde estavam minuciosamente estabelecidas as premissas para a paz entre os dois países.
Logo na primeira reunião que teve lugar em Asmara, no mesmo dia da chegada do primeiro-ministro etíope, ficou claro que o clima entre os dois líderes era distendido e cordialmente afectuoso, o que deixava meio caminho andado para o entendimento.
No final dos trabalhos, a boa nova chegou: a paz era uma realidade imediata para os dois países. Como base disso, ficou estabelecido o reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, com a abertura das respectivas embaixadas, a retomada das ligações aéreas entre os dois países através das respectivas companhias de bandeira e o início de ligações telefónicas directas através das respectivas operadoras.
Ficou ainda estabelecido que delegações dos dois países começarão já a trabalhar no sentido de criação de uma comissão mista para reactivar as relações e transacções comerciais entre Addis Abeba e Asmara. Para trás ficaram, espera-se que definitivamente, duas décadas de guerra intensa e mais de meio século de violentas hostilidades que deixaram um rasto de sangue e de destruição, além de cavarem um fosso de desconfiança política que agora Abiy Ahmed e Isaias Afewerki se estão a encarregar de esbater com a aplicação de medidas efectivas que deixem perceber que a paz veio mesmo para ficar.
Existem ainda muitas pessoas com influência mundial que consideram ser cedo para que se possa fazer um balanço sobre o trabalho do primeiro-ministro etíope, uma vez que está há bem pouco tempo no poder.
Além disso, a sua busca pela paz tem bastantes inimigos no seu próprio país, como atesta o atentado à bomba que quase o matava há um mês numa praça de Addis Abeba apinhada de gente para o ouvir.