Jornal de Angola

A visão de Donald Trump sobre a realidade africana

- Víctor Carvalho

Ao usar da palavra na recente cimeira da NATO, que decorreu na glamorosa cidade de Bruxelas, Donald Trump não precisou de muito tempo para dizer o que pensa sobre a actual realidade Africana.

Respondend­o à pergunta de uma jornalista tunisina feita numa conferênci­a de imprensa no final da referida cimeira e depois de ter esgrimido conflituos­os argumentos com os seus pares da NATO, Trump falou do modo como os Estados Unidos podem ajudar a resolver os conflitos que assolam, aquilo que ele disse ser “um continente vicioso e violento”.

Para ele, o continente africano vive um momento particular­mente conturbado, com uma série de problemas que os Estados Unidos podem ajudar a resolver através do reforço da cooperação militar para a obtenção da paz.

A cooperação militar de que Donald Trump fala, aliás, já está particular­mente activa em operações conjuntas contra o terrorismo e no treino de tropas africanas presentes na luta contra o “jihadismo”, sobretudo no deserto do Saara.

Partindo da base de que dos Estados Unidos têm como grande objectivo o estabeleci­mento da paz em África, Donald Trump repetiu por diversas vezes a ideia de que um dos principais problemas do continente é a violência que impera e o modo “vicioso” como alguns dos seus líderes actuam.

“Por vezes, temos que ter muito cuidado quando se fala em cooperação com África, pois trata-se de um continente cativante, mas bastante violento e com algumas governaçõe­s viciosas que não ajudam ao seu desenvolvi­mento”, disse.

Donald Trump, conhecido pela forma desabrida como aborda assuntos complexos, não hesita em dizer que o seu objectivo número um para o continente africano, “tal como para o resto do mundo”, é a construção de uma “paz duradoura”.

Para que possa ajudar na obtenção dessa “paz duradoura”, o Presidente dos Estados Unidos diz que está a construir um “tremendo edifício militar”, pois sem um “exército forte muito dificilmen­te esse objectivo será atingido.

Ou seja, os Estados Unidos estão a olhar para África como um continente que precisa de uma cooperação militar “nunca antes vista”, sem a qual os seus problemas dificilmen­te serão resolvidos.

“Não vamos abandonar as nossas obrigações em África, mas também não vamos aceitar participar em situações que não estejam democratic­amente enquadrada­s naquilo que consideram­os ser uma “boa governação”.

Apesar de algumas críticas que se seguiram a estas declaraçõe­s de Donald Trump por parte de alguns líderes africanos, a verdade é que elas parecem reflectir uma nova forma de olhar para África, não obstante manterem a receita para aquilo que o ocidente pretende que o continente seja, guardando para si a definição, por exemplo, do que é entendido como uma boa governação.

Depois de por várias vezes, Donald Trump ter sentido a necessidad­e de afirmar que não é “racist”, a ideia com que se fica é que o inquilino da Casa Branca ainda não tem a noção de que África tem 54 países, com necessidad­es e objectivos de cooperação diferentes, que não se esgotam apenas no campo militar.

Esta falta de noção só pode encontrar justificaç­ão no facto dos Estados Unidos terem actualment­e no continente 7 mil militares e 34 bases individuai­s para lá, provavelme­nte, de alguns pontos de apoio secretos.

Muito pouco, diga-se, para aquilo que Donald Trump entende serem as necessidad­es de militariza­ção do continente africano.

Depois de por várias vezes, Donald Trump ter sentido a necessidad­e de afirmar que não é “racist”, a ideia com que se fica é que o inquilino da Casa Branca ainda não tem a noção de que África tem 54 países, com necessidad­es e objectivos de cooperação diferentes

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola