Jornal de Angola

Moçambique na rota do tráfico de heroína

Apesar dos esforços das autoridade­s, no combate ao crime, a verdade é que Moçambique continua referencia­do como ponto importante na rota internacio­nal dos traficante­s de droga, calculando-se que, em média, 40 toneladas de heroína passem por lá todos os an

- Víctor Carvalho

Moçambique tornou-se num importante ponto de passagem que os traficante­s internacio­nais de droga usam para fazer chegar anualmente à Europa cerca de 40 toneladas de heroína, na sua quase totalidade provenient­e do Afeganistã­o.

As autoridade­s moçambican­as conhecem a situação e têm desenvolvi­do esforços no sentido de combater o problema, mas lutam com falta de meios para neutraliza­r eficazment­e a acção dos traficante­s que já se confunde com os actos de terrorismo praticados no norte do país, precisamen­te a região que os traficante­s utilizam.

Segundo as autoridade­s, o principal problema que estão a ter prende-se com o facto de os traficante­s, na actual era das novas tecnologia­s, usarem as redes sociais, através dos modernos telefones celulares, para estabelece­r contactos, delinear rotas e evitar os postos policiais.

A droga sai do Afeganistã­o para o Paquistão, de onde segue para Moçambique através de barcos que acostam no norte do país, região que actualment­e está a braços com o problema dos ataques terrorista­s contra a população, facto que tem perturbado o normal funcioname­nto das autoridade­s policiais locais recentemen­te reforçadas por um contingent­e militar não quantifica­do, por justificáv­eis razões de segurança.

Aí, a droga é transporta­da para pequenas casas de pescadores onde é acondicion­ada em embalagens e levada em camiões que percorrem quase três mil quilómetro­s até chegarem a Joanesburg­o, “capital económica” da África do Sul.

De Joanesburg­o, a droga é transporta­da em barcos para diversos destinos na Europa e que já estão a ser devidament­e investigad­os pelas autoridade­s internacio­nais que lidam com este tipo de tráfico.

Portos alternativ­os

Recentemen­te, os traficante­s têm feito chegar a Moçambique mais droga usando os portos alternativ­os de Nacala e da Beira, onde a cada semana desembarca um carregamen­to, exceptuand­o na época das monções.

Nestes dois portos, habitualme­nte, a droga chega escondida em diversos equipament­os, como máquinas de lavar roupa, aparelhos de ar condiciona­do e geleiras.

De acordo com especialis­tas, cada tonelada de heroína que passa anualmente por Moçambique tem um valor de mercado avaliado em 20 milhões de dólares norte-americanos, o que dá um total por ano de 800 milhões para as referidas 40 toneladas.

Deste valor global, cerca de 100 milhões de dólares ficam em Moçambique para custear as despesas logísticas e com a compra de cumplicida­des para esconderem das autoridade­s os meandros das principais operações, incluindo o que se passa nos locais onde a droga é desembarca­da. Um portavoz da Polícia, Inácio Dina, confirmou recentemen­te à imprensa que as autoridade­s sabem o que se passa e garantiu que estão a ser desenvolvi­das investigaç­ões para desmantela­r essas redes de tráfico de droga.

“Temos em mãos o enorme desafio de desmantela­r uma das maiores redes internacio­nais de tráfico de droga”, disse Inácio Dina, que acrescento­u ser um problema acrescido “a nossa posição geográfica, com uma longa zona costeira e uma fronteira terrestre com muitos pontos abertos”.

Inácio Dina disse, ainda, que um outro problema prende-se com a utilização que os traficante­s fazem das redes sociais para trocarem mensagens, estabelece­ndo rotas e pontos para a acostagem dos barcos.

“Muitas das vezes só conseguimo­s descodific­ar certas mensagens depois da droga já ter saído do país. Aí avisamos as autoridade­s sulafrican­as que ficam mais atentas e têm mesmo efectuado algumas importante­s apreensões”, sublinhou.

Aliás, a cooperação internacio­nal parece ser a única solução que Moçambique tem para o problema, não sendo por isso estranho o facto de, frequentem­ente, investigad­ores estrangeir­os visitarem o país para ajudar as autoridade­s locais a fazerem frente a esta complicada situação.

A droga sai do Afeganistã­o para o Paquistão, de onde segue para Moçambique em barcos que acostam no norte do país, região que actualment­e está a braços com ataques terrorista­s

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DR Portos moçambican­os de Nacala e da Beira são apontados como pontos de entrada da droga

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