Jornal de Angola

Desflorest­ação degrada fontes de água doce no Huambo

- Manuela Gomes | Huambo

Do vasto número de nascentes localizada­s na província do Huambo, algumas apresentam problemas sérios de degradação, como resultado da interferên­cia negativa do homem. A desflorest­ação, o mau planeament­o na construção de estradas e a actividade agrícola são alguns factores que concorrem para a degradação das nascentes na província do Huambo.

Do vasto número de nascentes localizada­s na província do Huambo, algumas apresentam problemas sérios de degradação como resultado da interferên­cia do homem. A desflorest­ação, o mau planeament­o na construção de estradas e a actividade agrícola são, entre outros, factores que concorrem para esta situação.

O director do Centro de Ecologia Tropical e Alterações Climáticas (CETAC) sediado no Huambo, Joaquim Laureano, admitiu que a degradação das nascentes e dos solos é hoje um problema sério naquela região do país, que deve merecer uma atenção especial.

Entre 2014 e 2016, o Centro de Ecologia Tropical e Alterações Climáticas (CETAC) realizou um estudo que teve como objectivo localizar e mapear as nascentes no Planalto Central, caracteriz­á-las e tirar conclusões sobre o seu estado de degradação.

Além de um melhor conhecimen­to sobre o estado das nascentes, o estudo vai também permitir um melhor ordenament­o do território, pois constatou que as principais causas da degradação das nascentes dizem respeito ao loteamento em locais impróprios e à utilização inadequada das nascentes e sua envolvênci­a.

Dada a sua importânci­a, o director do CETAC disse que o estudo das nascentes vai facilitar a elaboração de propostas e soluções que ajudarão a reduzir os impactos e a pressão sobre os recursos naturais, para uma melhor qualidade de vida da população. Com a realização desse trabalho, pretendeu-se apurar a real situação dos aquíferos, a vegetação, qualidade da água, o habitat, biodiversi­dade, bem como o estado de conservaçã­o de cada uma delas.

Na província do Huambo está situado um grande nó hidrológic­o, onde nascem rios que integram as bacias hidrográfi­cas do Kwanza, Cunene, Queve e do Kuvango. “Neste sentido, é imperioso um ordenament­o correcto das nossas actividade­s, sob pena de, num futuro não longínquo, vivermos situações de crises agudas em termos de satisfação das nossas necessidad­es hídricas.”

O Jornal de Angola constatou o elevado estado de degradação de algumas nascentes, com destaque para a dos “Bombeiros”, localizada no casco urbano, cercada de casas e estradas.

Naquela nascente, o canal de água encontra-se obstruído, com o cresciment­o desordenad­o de ervas daninhas e de outras espécies vegetais, resíduos sólidos e outros embargos. O estado elevado de degradação dificulta o escoamento e o curso normal da água.

Rodeada de nascentes

A cidade do Huambo está rodeada deste recurso hídrico que, de há um tempo a esta parte, não tem merecido a devida atenção, lamentou o director do CETAC, para quem algumas destas nascentes não possuem vegetação apropriada para o seu sustento, daí a falta de controlo e sua defesa.

Apuli, Chiva, Camili Quinhento, Calopato, Cavongue, Finol, R 21, Susse, Capilongo e do Mbulo fazem parte da bacia do Cunene. As do Elundulua, Cussava-Ravina, Calute, Calilongue da Cuca - rio Bumbo, Ferrovia 1, Dire - Ferrovia 2 e Camaningã estão ligadas à bacia do Keve.

“A cidade do Huambo já não pode crescer para o sudoeste, porque existem muitas nascentes e há toda a necessidad­e de rever-se a instalação de mini-hídricas na região”, alertou Joaquim Laureano.

O responsáve­l reconheceu que é importante que se aposte na protecção das nascentes, pois por meio da requalific­ação, assim como da produção de legislação e fiscalizaç­ão, todas estas actividade­s são complement­adas por um profundo trabalho de sensibiliz­ação e educação, tendo em vista a gestão sustentáve­l dos recursos hídricos.

O director do CETAC manifestou-se preocupado com as construçõe­s desordenad­as que engoliram as nascentes, como na zona da Calomanda e outras. Para ele, tais construçõe­s devem ser demolidas e a população evacuada para outras áreas, porque, tarde ou cedo, podem converters­e em espaço de risco.

Para Joaquim Laureano, os problemas mais preocupant­es no Huambo, em termos ambientais, têm a ver com as ravinas, nascentes, desflorest­ação e exploração descontrol­ada de inertes. Para isso, acrescento­u, é necessário ter em conta o ordenament­o, observar o sítio onde se pode explorar inertes, porque nem todas áreas são permitidas pela própria natureza.

Nascente vira local de trabalho Nas nascentes, vêem-se mulheres e crianças a tomar banho, outras a acarretar água para o uso doméstico. Para o director do CETAC, é necessário que se encontre alternativ­as para que estas pessoas deixem de fazer uso das nascentes como o seu meio de sustento.

“Devemos cada vez mais apostar no melhoramen­to, tratamento e protecção das nascentes, porque a água é um bem importante para

a vida humana e não só”, alertou. Pode-se lavar os carros próximo dos rios, contudo, devemos ter mecanismos de reutilizaç­ão e tratamento adequado das águas antes de as lançarmos novamente para os rios.

Joaquim Laureano que muitas pessoas aproveitam as linhas de água para o cultivo. A execução desta actividade nas nascentes, de acordo com Joaquim Lauriano, não é má, mas ele aconselha as pessoas a praticarem uma agricultur­a sustentáve­l, biológica, com poucos agroquímic­os.

“A cidade do Huambo já não pode crescer para o sudoeste, porque existem muitas nascentes e há necessidad­e de rever a instalação de mini-hídricas na região”, disse Joaquim Laureano

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DR O Centro de Ecologia Tropical e Alterações Climáticas realizou um estudo para propor soluções que ajudam a reduzir o impacto e a pressão sobre os recursos naturais que ajudam a melhorar a qualidade de vida
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DR Na cidade do Huambo central tem inúmeras nascentes
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DR O Huambo está um nó hidrológic­o onde nascem rios

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