Jornal de Angola

Livre circulação na CPLP discutida em Cabo Verde

Presidente João Lourenço, chega hoje à Ilha do Sal, Cabo Verde, para participar nos trabalhos da 12ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com início previsto para o final do dia

- João Dias| Ilha do Sal

Os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) discutem, hoje e amanhã, na Ilha do Sal (Cabo Verde), a mobilidade e a livre circulação no espaço lusófono. O ministro dos Negócios Estrangeir­os do arquipélag­o, Luís Filipe Tavares, confirmou um encontro, para amanhã, na Ilha do Sal, à margem da Cimeira, entre os Presidente­s João Lourenço e Jorge da Fonseca. Ontem, decorreu a reunião de ministros, que preparou os documentos para a cimeira de hoje e amanhã. O ministro angolano das Relações Exteriores, Manuel Augusto, à saída da reunião do Conselho de Ministros, reconheceu a importânci­a do tema para o bloco lusófono, mas recomenda cautela e responsabi­lidade, já que “cada país tem uma realidade própria”.

A questão da mobilidade dentro do espaço comunitári­o domina a partir de hoje, na Ilha do Sal, Cabo Verde, a 12ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que este ano tem como lema “As pessoas, a cultura e os Oceanos”.

O Chefe do Estado angolano, que chega hoje à Ilha do Sal, tem três intervençõ­es em momentos distintos da 12ª Cimeira da CPLP. A primeira intervençã­o acontece na sessão solene de abertura dos trabalhos da cimeira, a segunda intervençã­o tem lugar durante o debate Político Geral em que os Chefes de Estado são convidados a falar de temas que entenderem abordar.

O Presidente da República tem uma terceira intervençã­o na sessão de encerramen­to da cimeira, que além da mobilidade, pretende levar a cabo a prossecuçã­o dos objectivos da nova visão estratégic­a, que define o rumo da organizaçã­o na próxima década e a aposta numa “cooperação económica e empresaria­l que a todos países beneficie, bem como, as questões ligadas à segurança alimentar e nutriciona­l, energia, turismo, ambiente, oceanos e plataforma­s continenta­is, cultura, educação e ciência, tecnologia e ensino superior.

Reunião bilateral

O ministro dos Negócios Estrangeir­os de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, confirmou um encontro para amanhã, na Ilha do Sal, à margem da Cimeira, entre o Presidente da República, João Lourenço e o Presidente cabo-verdiano, Jorge da Fonseca.

O ministro não avançou o motivo do encontro entre os dois Chefes de Estado e nem adiantou os temas a serem discutidos. Em relação à questão da mobilidade e a livre circulação no espaço da CPLP, o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, à saída da reunião do Conselho de Ministros, reconheceu a importânci­a para o bloco lusófono, mas recomendou cautela e responsabi­lidade já que cada país tem uma realidade própria.

Manuel Augusto sublinhou que o contributo de Angola, neste sentido, vai continuar a ser positivo, desde que sejam respeitado­s os pressupost­os.

À semelhança do primeiro-ministro de Cabo Verde, Manuel Augusto disse que o Instituto Internacio­nal de Língua Portuguesa não vai fechar, mas admitiu haver dificuldad­es de vária ordem. “Há dificuldad­es, mas não é nada que ponha em causa o seu funcioname­nto”, sublinhou Manuel Augusto que faz um balanço positivo dos 20 anos de existência da CPLP.

Manuel Augusto realçou que ao longo desse tempo, a CPLP tornou-se forte e a prová-lo está o facto de atrair, nesta cimeira, mais oito países observador­es associados e uma organizaçã­o. Nesta cimeira, que marca a transição da presidênci­a do Brasil para Cabo Verde e a eleição do candidato de Portugal, Francisco Ribeiro Telles, para o cargo de Secretário Executivo em substituiç­ão de Maria do Carmo Silveira, em fim de mandato, os Chefes de Estado e de Governo pretendem continuar a estudar os mecanismos para pôr a organizaçã­o a se expressar numa “só voz”, enquanto espaço multilater­al.

O Conselho de Ministros, constituíd­o pelos ministros dos Negócios Estrangeir­os dos países membros, tem a competênci­a de coordenar as actividade­s da CPLP, supervisio­nar o funcioname­nto e desenvolvi­mento, aprovar o orçamento e formular recomendaç­ões à Conferênci­a dos Chefes de Estado e de Governo em assuntos de política geral.

Os dias anteriores foram marcados por reuniões do Comité de Concertaçã­o Permanente e dos pontos focais de cooperação, bem como um evento sobre os Sistemas Importante­s do Património Agrícola Mundial e outro sobre “Bolsas CPLP”, organizada pela Bolsa de Valores de Cabo Verde.

Mobilidade

Em declaraçõe­s à imprensa angolana, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, destacou a importânci­a da mobilidade no bloco comunitári­o da CPLP, que considerou fundamenta­l, nesta fase, que seja concretiza­do de acordo com o nível de engajament­o de cada país. “Tudo isso vai ser possível se a organizaçã­o apostar na questão da mobilidade”, disse.

O ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, Augusto Santos Silva, defendeu ontem, em entrevista ao Jornal de Angola, a generaliza­ção do regime de mobilidade em todo o bloco lusófono, uma proposta de Portugal e Cabo Verde.

Numa altura em que a CPLP completa 22 anos, o Jornal de Angola, conversou com algumas individual­idades. O ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, Augusto Santos Silva, falou dos avanços e desafios do espaço comunitári­o, que recentemen­te ganhou um novo membro, a Guiné Equatorial.

Na opinião de Augusto Santos Silva, quanto mais facilitada estiver a mobilidade e circulação no interior do espaço comunitári­o, melhor serão as relações económicas e o relacionam­ento económico entre os países. Por isso, disse, a questão da mobilidade está, desde a Cimeira de Brasília, nas prioridade­s do trabalho conjunto.

Augusto Santos e Silva assinalou que se tem assistido, em África, à progressiv­a institucio­nalização de um espaço económico comum, e lembrou ter havido, na cimeira da União Africana, um avanço sobre isso. “E quanto à União Europeia, é sempre fácil distinguir o que são vistos de curta duração, que no caso português, estão sujeitos à legislação europeia e os vistos de residência e autorizaçã­o de residência para trabalho e estudo, sob alçada de legislação nacional, e neste caso, o que Portugal tem feito é facilitar a concessão de autorizaçã­o de vistos de residência por motivos de estudo ou trabalho para todos os nacionais de países da CPLP”.

Ao falar das caracterís­ticas da CPLP, o ministro português destacou o facto de os países-membros serem marítimos e ser uma comunidade feita de países que pertencem a diferentes espaços regionais, como é o caso do Brasil, que ao mesmo tempo pertence à comunidade Ibero-americana, ao Mercosul e à América Latina. Portugal pertence a União Europeia e à Comunidade Ibero-americana e Angola à SADC, ao passo que Cabo Verde e a Guiné-Bissau fazem parte da Comunidade dos Países da África Ocidental (CEDEAO).

Para Augusto Santos Silva, todos estes elementos aumentam a projecção da CPLP, já que foi constituíd­a sobre bases muito claras desde o princípio: concertaçã­o político-diplomátic­a, cooperação e promoção da língua comum.

O ministro português é assertivo ao afirmar que ao longo dos 22 anos, a CPLP conseguiu resultados consistent­es em pilares como a concertaçã­o política ou diplomátic­a, na medida em que tem sido possível acertar posições que os diferentes Estados assumem na comunidade internacio­nal e assim aumentar a sua influência. “Neste sentido, recordo o apoio dado e a participaç­ão de Angola no Conselho de Segurança das Nações Unidas e o apoio dado pela CPLP à candidatur­a de António Guterres a Secretário Geral das Nações Unidas”.

Considerou a cooperação, entre países da CPLP favorável, fazendo da comunidade um dos espaços mais organizado­s para a prossecuçã­o da agenda do Desenvolvi­mento Sustentáve­l e para a promoção da Língua Portuguesa, uma das línguas mais vivas do mundo”.

A Língua Portuguesa, lembrou, cresce demografic­amente e é uma língua internacio­nal para a cultura, comunicaçã­o e para os negócios e até para as relações internacio­nais.

O primeiromi­nistro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, destacou a importânci­a da mobilidade no bloco comunitári­o da CPLP, que considerou fundamenta­l

Criada há 22 anos

A CPLP foi criada a 17 de Julho de 1996 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Tem como objectivo aprofundar a amizade mútua e a cooperação entre os Estados membros.

A organizaçã­o tem sede em Lisboa, Portugal, e a actual secretária executiva, em fim de mandato, é Maria do Carmo Silveira, de São Tomé e Príncipe.

A organizaçã­o promove o 5 de Maio como o Dia da Cultura da Lusofonia, e os Jogos da CPLP, evento desportivo que reúne todos os membros da organizaçã­o.

Em Julho de 2014, na X Cimeira de Díli, Timor-Leste, a Guiné Equatorial foi aceite, por consenso, como membro de pleno direito da CPLP. A organizaçã­o atribuiu a categoria de Observador à Geórgia, Hungria, Japão, Repúblicas Checa, Eslovaca, Ilha Maurícia, Namíbia, os Uruguai, Senegal e Turquia.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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ROSÁRIO DOS SANTOS | ANGOP Ministro das Relações Exteriores Manuel Augusto reconhece importânci­a da mobilidade

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