Terraplenagem melhora circulação entre Malanje/Saurimo
Os trabalhos de limpeza das bermas e de tapa-buracos à base de uma mistura de solos, em alguns troços, alternados com brita, merece elogios de automobilistas, que percorrem os cerca de 580 quilómetros da via Malanje/XáMuteba/-Cacolo Saurimo, na estrada nacional 230.
Condutores e passageiros ressaltam que as peripécias vividas para cobrir os cerca de 60 quilómetros, desde a ponte sobre o rio Lui, às imediações da sede municipal de Xá-Muteba, província da Lunda-Norte, integram páginas do passado em reciclagem paulatina, para acomodar o trânsito, mas sem qualquer sinal de começo no domínio da construção de pontes definitivas.
O vermelho da terra que cobre os buracos nos troços melhorados desponta, na via, como milhões de feridas sem crostas, num corpo infectado. Libertam poeira com forma de protesto à passagem de viaturas de todos os portes, que reduz a visibilidade ressentida por outros utentes em trânsito, nos dois sentidos.
O cenário vigente, segundo o director de Gabinete Provincial de Infra-estruturas na Lunda-Sul, corresponde à fase preliminar do processo de recuperação efectiva em projecção das vias, com uma largura de 11 metros contra os sete actuais, sob a responescavadeira sabilidade do Ministério da Construção sob o olhar clínico do Instituto de Estradas de Angola (INEA).
Esmeraldino Pemessa nota que o Inea está voltado para o acompanhamento, registo de constrangimentos e prestação de informação às estruturas competentes. Garantiu que “até agora tudo corre com regularidade” traduzida na fluidez do trânsito.
Carmon
A liderar os trabalhos de terraplenagem há três meses, num percurso estimado em 130 quilómetros que correspondem ao troço desvio do Cuango/Xamiquelengue, da estrada nacional 230, o encarregado de obras da empresa Carmon, Paulo Bizerra Castilho, enalteceu a reacção positiva dos usuários, pela “estabilização da via.”
Homem com experiência, vincada na construção do viaduto de acesso ao Zango, na cidade de Luanda, e na recuperação efectiva de 58 quilómetros entre Malanje e a vila de Cacuso, Bizerra, garante que as obras inscritas nesta primeira fase terminam dentro de um mês.
O espírito de equipa impera no seio de 30 trabalhadores, entre motoristas, operadores de máquinas e técnicos de laboratório. Diariamente, cumprem uma jornada de dez horas na via, onde a acção de camiões-basculante, moto-niveladoras, rolos compactadores e uma causam certo embaraço ao trânsito automóvel, regulado por dois sinaleiros, para acautelar a ocorrência de acidentes.
Inicialmente tímido, Chinho, assim identificado o jovem de luvas retratado pelas imagens, ao esboçar o quotidiano na via, sublinhou o sentimento de alegria proporcionado pelo emprego e oportunidade de aprender coisas novas.
A tarefa de orientar o trânsito, numa estrada movimentada, em que as manobras frequentes de máquinas forçam paralisações, em várias ocasiões contrapostas com deselegância nos desabafos de condutores e viajantes, são os “ossos do ofício.”
O compromisso de apresentar em tempo oportuno uma via asfaltada, dentro dos procedimentos técnicos acordados no contrato, está patente no empenho da Carmon, cujo encarregado de obras na via diz trabalhar para garantir a estabilidade na circulação.
Do desvio ao Cuango
O conforto que qualquer condutor sente ao percorrer os 45 quilómetros de um asfalto sem buracos, devidamente sinalizados, Cuango adentro, é o exemplo de “estradas sonhadas.” A eficácia do tapaburacos garante estabilidade e afasta o receio por parte de quem levou um susto ao sentir o desequilíbrio por embate num obstáculo, ou ao transpor buracos inesperados.
A conservação do tapete asfáltico convida para um exercício de velocidade. Em algumas localidades, os camponeses aproveitam o espaço posterior às linhas marginais que delimitam as faixas de rodagem para secarem o bombó, enquanto os sacos enchidos com o produto já seco aguardam pelo escoamento para posterior comercialização.
Sentada numa cadeira de plástico no mercado instalado junto à via, a senhora Domingas Martins, 50 anos, revira os bolinhos na panela, onde escapa um vapor do óleo quente, alheia a tudo o que acontece à sua volta. A luta pela sobrevivência justifica a realização do modesto negócio, na vila do Cuango, onde a estrada passa impecável, em direcção às sedes de Caungula e Cuilo.
Ao notar que “se em vez dessa estrada, tivéssemos água canalizada e algumas horas de energia seria uma bênção”, telegrafou a carência gritante que a população vive, facto realçado pela sua colega de mercado, Júlia José que, da venda de tomate, gindungo e jimboa, consegue comprar parte dos condimentos para o jantar, refeição principal do dia.
Dona Júlia tem limitações de movimentos na perna direita, devido a um acidente sofrido há anos. É mãe de quatro filhos e vive com o marido. Por causa da actividade que desenvolve no mercado, acompanha o movimento diário de viaturas, transportando passageiros ou mercadorias, reflexo da prosperidade do negócio na região, influenciado pelo diamante.
Na localidade de Domingos Vaz, na via em referência, o pequeno Alfredo Bendinho, dez anos, e que estuda a quarta classe, observa à distância a viatura estacionada, como quem procura vestígios para encontrar o que perdeu. A água que cai por baixo da viatura, resultado da condensação no processo de climatização, justifica a preocupação do petiz que vence a timidez e alerta o motorista, em jeito de colaboração.
O incentivo traduzido na oferta de algumas bolachas é rejeitado pelo petiz, aparentemente sem justificação plausível, mas compreensível depois de explicações sobre a existência de pessoas que, em busca de “enriquecimento por meio de negócios, com destaque para o garimpo, oferecem dinheiro e bens diversos às vítimas inocentes, que adoecem e morrem”, a fim de favorecerem os protagonistas. A lição integra os ensinamentos domésticos em todas as famílias, como disse a fonte.
No troço Saurimo/Cacolo, estimado em 140 quilómetros, o impacto das acções desenvolvidas despontam nas proximidades do rio Cuilo, onde a passagem principal foi regularizada com solos compactados e revestimento com uma modesta camada de asfalto, pondo fim ao “martírio”, por falta de opções para transpor os mais de 200 metros que antecedem a ponte.
Atenção idêntica, apenas com terraplenagem, recaiu sobre os cerca de três quilómetros que separam o bairro Cavemba, ao início da mística “subida do veado e o leão” que, segundo contam, morreram na sequência de um embate sobre o asfalto durante a queda. O primeiro ao arriscar o salto para escapar da perseguição e o leão ao tentar, com gesto idêntico, evitar a fuga da presa.