Combate à impunidade tem de ser prioridade
Detecção e julgamentos recentes comprovam o que todos sabemos, que a impunidade, agora com o cerco mais apertado, continua por aí, descarada e feliz, a demonstrar por que motivo o país chegou ao estado em que está. O caso dos indivíduos que recebiam reformas de professores, apesar de comprovadamente analfabetos, como demonstram os Bilhetes de Identidade “assinados com o dedo”, é paradigmático. O ensino em Angola, a todos os níveis, continua pelas “ruas da amargura”, mas não chega ao ponto de ter de haver crianças a aprender a ler e escrever “ensinadas” por quem não conhece uma letra do tamanho do mundo. A verdade, comprovada pelos processos de pedidos de aposentação, aceites, é que houve quem recebesse mensalmente dinheiro por um trabalho que jamais fez. Que, provavelmente, reparte agora com quem permitiu o crime, que é disso que se trata. Não foi, de certeza, o camponês, pescador, zungueiro, seja lá quem for, que ousou, por iniciativa própria, meter-se neste esquema de corrupção. Alguém o incentivou, deu-lhe cobertura. A coberto do sentimento reinante de impunidade. Que favorece compadrios, amiguismo, no fundo, o nepotismo, a vigarice. Tudo males que, como não se cansa de dizer o Presidente da República, é preciso combater sem tréguas. Este escândalo, agora descoberto, não é, infelizmente, o único a comprovar a presença criminosa do “sentimento de impunidade” instalado entre nós, um dos entraves ao desenvolvimento do país. E já que demos como exemplo uma burla no sector do ensino, o último que devia ser atingido pela vigarice, era bom que se investigasse, e apurasse, quantos “enfatuados” andam por aí, com canudos debaixo do braço conseguidos à custa de tudo, menos de estudo e saber. A talhe de foice, referimos também escolas, examinadores e cartas de condução que deviam ser alvo de vigilância apertada. Mas a impunidade, nunca é demais recordar, estende-se a todos os sectores. Ainda ontem, o Jornal de Angola mencionou a detenção, no Cuando-Cubango a exemplo do que sucedera, em Junho, no Moxico - de nove indivíduos, por acaso estrangeiros, por abate ilegal de árvores. E não foi para fazer fogueiras que os aquecesse do frio do Cacimbo, que naquele província faz mesmo tiritar, o que não deixava de ser crime. Nada disso! Era negócio, pelos vistos próspero. A tal ponto que dispunham de “estaleiros”, cuja existência e localização foi denunciada por populares. A referência ao facto neste matutino foi feita no “alto” da última página, para elogiar a atitude da população e da Polícia. Mas, não deixou de fazer duas perguntas, à espera de resposta: "quem protege estes estrangeiros, que têm estaleiros e tudo? Estarão eles nestas localidades por própria conta e risco?". Desconheço os meandros deste crime económico e ecológico no Cuando-Cubango. Mas, enquanto “quem de direito” não responde, se é que o faz, afirmo, sem hesitação, que a causa foi o apetite devorador do lucro fácil, motivado pelo “sentimento de impunidade” reinante no nosso país, que, pelos vistos, como todos os males, ganhou notoriedade, ultrapassou fronteiras. Provavelmente, faz com que Angola seja vista lá fora como “terra sem lei”, onde tudo é possível e a “gasosa” faz “milagres”. É urgente desfazer, com atitudes, esta mentira. E isso é responsabilidade de todos os que estão empenhados em edificar uma Pátria que orgulhe os vindouros. A sombra amaldiçoada da impunidade não “é o nosso destino”, como alguns, conformados, dizem, aceitandoa. É importante que se fale mais dela, dos crimes que encobre, da nocividade que transporta, do quanto nos afecta. Combatê-la é prioridade.
Casos recentes de burlas comprovam que a impunidade, apesar de ter agora o cerco mais apertado, continua feliz e descarada, a fazer troça de todos nós.