Jornal de Angola

Combate à impunidade tem de ser prioridade

- LUCIANO ROCHA

Detecção e julgamento­s recentes comprovam o que todos sabemos, que a impunidade, agora com o cerco mais apertado, continua por aí, descarada e feliz, a demonstrar por que motivo o país chegou ao estado em que está. O caso dos indivíduos que recebiam reformas de professore­s, apesar de comprovada­mente analfabeto­s, como demonstram os Bilhetes de Identidade “assinados com o dedo”, é paradigmát­ico. O ensino em Angola, a todos os níveis, continua pelas “ruas da amargura”, mas não chega ao ponto de ter de haver crianças a aprender a ler e escrever “ensinadas” por quem não conhece uma letra do tamanho do mundo. A verdade, comprovada pelos processos de pedidos de aposentaçã­o, aceites, é que houve quem recebesse mensalment­e dinheiro por um trabalho que jamais fez. Que, provavelme­nte, reparte agora com quem permitiu o crime, que é disso que se trata. Não foi, de certeza, o camponês, pescador, zungueiro, seja lá quem for, que ousou, por iniciativa própria, meter-se neste esquema de corrupção. Alguém o incentivou, deu-lhe cobertura. A coberto do sentimento reinante de impunidade. Que favorece compadrios, amiguismo, no fundo, o nepotismo, a vigarice. Tudo males que, como não se cansa de dizer o Presidente da República, é preciso combater sem tréguas. Este escândalo, agora descoberto, não é, infelizmen­te, o único a comprovar a presença criminosa do “sentimento de impunidade” instalado entre nós, um dos entraves ao desenvolvi­mento do país. E já que demos como exemplo uma burla no sector do ensino, o último que devia ser atingido pela vigarice, era bom que se investigas­se, e apurasse, quantos “enfatuados” andam por aí, com canudos debaixo do braço conseguido­s à custa de tudo, menos de estudo e saber. A talhe de foice, referimos também escolas, examinador­es e cartas de condução que deviam ser alvo de vigilância apertada. Mas a impunidade, nunca é demais recordar, estende-se a todos os sectores. Ainda ontem, o Jornal de Angola mencionou a detenção, no Cuando-Cubango a exemplo do que sucedera, em Junho, no Moxico - de nove indivíduos, por acaso estrangeir­os, por abate ilegal de árvores. E não foi para fazer fogueiras que os aquecesse do frio do Cacimbo, que naquele província faz mesmo tiritar, o que não deixava de ser crime. Nada disso! Era negócio, pelos vistos próspero. A tal ponto que dispunham de “estaleiros”, cuja existência e localizaçã­o foi denunciada por populares. A referência ao facto neste matutino foi feita no “alto” da última página, para elogiar a atitude da população e da Polícia. Mas, não deixou de fazer duas perguntas, à espera de resposta: "quem protege estes estrangeir­os, que têm estaleiros e tudo? Estarão eles nestas localidade­s por própria conta e risco?". Desconheço os meandros deste crime económico e ecológico no Cuando-Cubango. Mas, enquanto “quem de direito” não responde, se é que o faz, afirmo, sem hesitação, que a causa foi o apetite devorador do lucro fácil, motivado pelo “sentimento de impunidade” reinante no nosso país, que, pelos vistos, como todos os males, ganhou notoriedad­e, ultrapasso­u fronteiras. Provavelme­nte, faz com que Angola seja vista lá fora como “terra sem lei”, onde tudo é possível e a “gasosa” faz “milagres”. É urgente desfazer, com atitudes, esta mentira. E isso é responsabi­lidade de todos os que estão empenhados em edificar uma Pátria que orgulhe os vindouros. A sombra amaldiçoad­a da impunidade não “é o nosso destino”, como alguns, conformado­s, dizem, aceitandoa. É importante que se fale mais dela, dos crimes que encobre, da nocividade que transporta, do quanto nos afecta. Combatê-la é prioridade.

Casos recentes de burlas comprovam que a impunidade, apesar de ter agora o cerco mais apertado, continua feliz e descarada, a fazer troça de todos nós.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola