PERISCÓPIO Em defesa dos peões
Os peões são criticados, com alguma razão, sublinhe-se, por transgredirem as regras que estão obrigados a cumprir, ignorando, por exemplo, as passagens aéreas para atravessarem artérias, quase sempre movimentadíssimas, com os perigos que daí podem advir.
Também se vê, com frequência, peões a atravessar em diagonal as artérias, até ao telefone, em passo de passeio, como se estivessem no quintal de casa. Tudo isso é verdade, mas é inegável que são, a cada passo, incitados a transgredir. Porque as passadeiras para peões são “coisa rara” nesta nossa Luanda de originalidades, onde até as há apenas em metade da via . As que existem, quase sempre com traços desbotados, são ocupadas por contentores de lixo, candongueiros, mototaxistas. Além de os passeios serem o que todos sabemos. Impedidos de serem usados pelos buracos e buracões, pedregulhos, embalagens vazias de plástico, papelão, madeira, de tudo, candeeiros públicos tombados ou em vias disso, árvores nas mesmas condições, taipais, correntes metálicas, cordas, fitas,”zungueiras” e “zungueiros” sentados em bancos, cadeiras, latas, tijolos, com a mercadoria espalhada no chão, “cambistas” com pregões mudos. Todos eles escudados no sentimento de impunidade que continua a grassar entre nós.
Até quando, Luanda?