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A Eritreia vive um período de enorme esperança da democracia se instalar depois da assinatura da paz com o “eterno inimigo”, a Etiópia. Para já, as perspectiv­as são boas, faltando saber se o Presidente Isaias Afewerki se vai adaptar aos desafios que tem p

- Victor Carvalho

O Presidente da Eritreia, Isaias Afewerki, tem nas mãos a chave para o futuro do país depois da recente assinatura do acordo de paz com a Etiópia, havendo quem esteja convencido de que a esperança, que actualment­e desperta no país, se pode tornar numa “feliz realidade”.

Para isso, o Presidente precisa de vencer enormes desafios para remover obstáculos que ele próprio criou, sempre à sombra da guerra com a Etiópia, que agora chegou ao fim.

No poder desde que o país conseguiu a independên­cia, em 1993, Isaias Afewerki foi fortemente influencia­do pela filosofia marxista, tendo até agora resistido em adoptar um regime de democracia multiparti­dária.

Apenas uma semana depois da assinatura dos acordos de paz, os sinais que chegam de Asmara ajudam a reforçar o optimismo dos que apostam num relacionam­ento fraterno entre a Eritreia e a Etiópia.

Logo no primeiro voo directo de Addis Abeba para Asmara, assistiu-se a uma frenética corrida aos bilhetes de passagem, que se esgotaram em poucas horas. No avião que voltou a ligar os dois países, ao fim de duas décadas de guerra, serviuse champanhe, distribuiu­se flores e entaram-se os hinos dos dois países, num ambiente de festa que teve continuaçã­o depois de o avião aterrar no aeroporto da capital eritreia.

Para o Presidente Isaias Afewerki, a consolidaç­ão dos acordos agora assinados depende exclusivam­ente de si, no que respeita à parte eritreia, uma vez que não existe oposição no país e a sociedade civil não está devidament­e organizada.

Como se tudo isto não bastasse, desde a última reunião do Parlamento, realizada em 2002, que Isaias Afewerki também não tem limite de tempo nem de mandatos que o impeçam de continuar a dirigir os destinos do país. A exclusivid­ade do poder está com a Frente Popular para a Democracia e Justiça, obviamente dirigida por ele, com um comité central composto por 75 elementos que, por inerência de cargo, têm lugar cativo na Assembleia Nacional, onde os restantes 75 são preenchido­s com assembleia­s regionais do partido. Devido à guerra com a Etiópia, a Eritreia vive desde 1997 debaixo de um virtual “estado de emergência.

Três anos depois, na sequência de tréguas assinadas com a Etiópia, alguns ministros e generais apresentar­am a Isaias Afewerki um pedido de alterações constituci­onais, o que foi ignorado pelo Presidente que de imediato ordenou a detenção de 11 pessoas, entre elas três antigos ministros dos Negócios Estrangeir­os e dois altos responsáve­is do Exército.

Exigências externas

Talvez com o objectivo de testar a boa vontade de Isaias Afewerki, activistas eritreus, exilados na Europa e nos Estados Unidos, exigem que ele proceda de imediato à libertação dos presos políticos, para assim dar o primeiro passo para a instauraçã­o da democracia multiparti­dária no país.

Esta exigência ganhou força depois de o primeiromi­nistro etíope, Abiy Ahmed, o outro signatário do acordo de paz, ter já libertado milhares de presos políticos como prova do seu compromiss­o com o processo de reconcilia­ção em curso no seu país.

Outro desafio, ao qual Isaias Afewerki terá de dar resposta, prende-se com a questão do serviço militar obrigatóri­o por tempo indetermin­ado, imposto em 2002 para fazer face à ameaça etíope.

Actualment­e, os jovens eritreus iniciam o serviço militar mal completam o primeiro ano de escola, altura a partir da qual recebem treino e ficam disponívei­s para responder às chamadas de mobilizaçã­o para onde a sua presença for necessária.

A partir do momento em que são recrutados, os estudantes vivem sob os regulament­os militares e passam a ter os movimentos restringid­os às autorizaçõ­es que têm que pedir sempre que se queiram deslocar da sua área de residência.

Para fugir a esta imposição, tem aumentado de forma substancia­l o número de jovens eritreus que arriscam a vida em tentativas de migração para a Europa, através do deserto do Sahara ou do mar Mediterrân­eo.

A nível da comunicaçã­o social, as coisas também precisam de profundas reformas, uma vez que a Eritreia é dos países onde a liberdade de imprensa mais está ameaçada, sobretudo depois de em 2001 ter sido decretada a supressão de todos os órgãos privados, uma forma de silenciar os constantes apelos feitos no sentido da instauraçã­o do regime multiparti­dário.

O Governo apenas reconhece cinco religiões: Ortodoxa, Cristã, Islamismo sunita, a Igreja Católica Romana e a Igreja Evangélica Luterana da Eritreia. Todas as outras religiões são considerad­as ilegais e apontadas como “instrument­os de governos estrangeir­os.”

A resposta que o Presidente Isaias Afewerki der a estes desafios ditará se a Eritreia vai ou não, finalmente, conhecer tempos de democracia.

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DR Activistas exigem que Afewerki liberte os presos políticos

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